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Itajaí

“O governo trata empresário como bandido e bandido como empresário”

Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]


Emílio Dalçóquio Neto faz parte da família que fez história em Itajaí e no país por ter fundado a maior transportadora de cargas líquidas do Brasil. Filho de Augusto Dalçóquio, o nosso entrevistado da semana é um tipo polêmico – que se apresenta como italiano de origem, gosta de falar alto, gesticular muito e tem opiniões bastante contraditórias. Na visão de quem já trabalhou com ele, é aquele tipo de pessoa que ou você vai amar de paixão ou vai odiar com todas as suas forças. Emílio já ocupou as páginas de jornais com declarações belicosas, discussões políticas e até troca de ofensas. Criador do portal e da grife Cowboys do Asfalto e da 5ª roda inteligente - sistema blindado de segurança contra roubo de caminhões-, foi durante muitos anos membro da diretoria executiva da Transportadora Dalçóquio. Mas se engana quem pensa que, com a venda milionária da empresa, Emílio tá saindo de cena. Semana passada ainda, ele voltou às páginas de jornal depois de brigar com um sindicalista ao se meter num debate sobre aumento de salário de funcionários. Neste Entrevistão à jornalista Franciele Marcon, o ex-vice-presidente da Transportadora Dalçóquio soltou o verbo contra o governo federal, o sindicato dos Motoristas de Itajaí, contra a democracia e contra o que chama de “anarquia e não comunismo”. Ainda defendeu a ditadura e o militarismo. Estranho? Pois é, esse é Emílio Dalçóquio Neto.


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NOME: Emílio Dalçóquio Neto

NATURAL: Itajaí


IDADE: 50 anos

ESTADO CIVIL: casado


FILHOS: quatro filhos

FORMAÇÃO: Economia incompleto

TRAJETÓRIA PROFISSIONAL: ex-motorista carreteiro, ex-vice-presidente da Transportes Dalçóquio, criador do Santa Rosa Truck Show, criador do portal e da grife Cowboys do Asfalto, criador da 5ª roda inteligente, atual presidente do sindicato das Empresas de Veículos de Carga de Itajaí (Seveículos) e presidente do Bombeiros comunitários de Itajaí.

DIARINHO – O senhor é fundador dos Cowboys do Asfalto, e chegou até a fundar uma marca de roupas. O que vocês fazem nesse grupo?


Emílio Dalçóquio: O estilo de vida Harley Davidson está para moto como o Cowboys do Asfalto está aos amantes, aos apaixonados por picape e caminhão. O meu foco é diesel. Nós temos aqui o maior portal da América Latina sobre caminhões e picapes. Temos uma grife que tem mais de 15 pontos de venda pelo Brasil, que virou uma franquia. Eu trouxe essa ideia andando pelo mundo, tive em vários países, e percebi que faltava aqui um negócio sério, bacana e que falasse sobre o tema caminhão. Na Cowboys do Asfalto, a gente fala sobre todas as marcas de caminhões do mundo. A internet veio e facilitou muito. [Em quantos vocês são?] São mais de 100 mil cadastrados. A gente repassa esse mailing list para o pessoal e repassamos as maiores curiosidades sobre o tema picape e caminhão. Não tem pornografia, religião, não tem time de futebol, não tem frete, é voltado apenas para curiosidade dos apaixonados por picapes e caminhões. Tem também a grife e hoje você pode comprar todos os tipos de roupas e equipamentos. Uma tribo de apaixonados. [Vocês fazem encontros?] Não, não tem encontro. Nós nos encontramos no Facebook. A gente demonstra que é possível ter uma picape ou um caminhão limpo e cheiroso, trabalhando dentro da lei.

DIARINHO – O senhor inventou a quinta roda inteligente, sistema de segurança que está sendo vendido em todo Brasil. O que é e para que serve?

Emílio: Ela não desengata o cavalo da carreta. Nós perdemos 22 caminhões e foi uma invenção inédita no mundo, e essa patente é nossa. Hoje a gente desenvolve em parceira com a Randon, a 5ª roda inteligente. Eu sonhei com isso depois de ter perdido 22 cavalos. Em 98, foram roubados 22 caminhões nossos. Eu fui dormir com esse problema e por uma luz divina, sonhei, e eu criei a 5ª roda inteligente. Ela funciona via satélite e só consegue desengatar por satélite. Existe uma coisa chamada roubo de carga e outra coisa entrega de carga. São coisas distintas. O cavalo não conseguindo desengatar, via roda inteligente, dificulta o roubo da carga. O motorista não tem acesso nenhum. Invenção inédita no mundo, é brasileira, é itajaiense, feita por nós, e já temos mais de 50 mil no mercado. Eu criei e trouxe essa solução para o mundo inteiro. Começamos no Brasil e está indo para a América Latina inteira.

DIARINHO – A sua família fundou a Transportadora Dalçóquio, que chegou a ser a maior do Brasil no seu segmento. Nos últimos anos, a Dalçóquio acumulou dívidas que chegam em 500 milhões de reais, só em impostos atrasados. O que houve com a administração da empresa? Ela foi vendida por causa de dificuldades financeiras?

Emílio: Em 1968, o pai [Augusto Dalçóquio] fundou a Transportes Dalçóquio. O governo atual trata o empresário como bandido e o bandido como empresário. Há uma inversão de valores total. Na gestão da empresa, por melhor que ela fosse, para você ter uma ideia, a gente fazia duas mil entregas por dia: de pneu, chocolate, combustível, polietileno e a gasolina de avião. Operacionalmente, a nossa performance era de europeu. O que ocorre é que de um tempo para cá a velocidade em que os impostos são cobrados e os juros em cima deles, fica praticamente impossível pagar. Tivemos que nos render a um grande negócio que surgiu para que a gente primeiro beneficiasse os funcionários. Para que não atingisse os três alicerces: os funcionários, os clientes e os fornecedores. A gente conseguiu fazer uma operação bacana, onde está todo mundo contente. A coisa toda continua. [Qual o valor da venda negociada por sua família?] Não quero falar sobre isso.


DIARINHO – Há uma briga na justiça entre dois grupos que se dizem compradores da transportadora da sua família. O caso ainda não foi julgado. Afinal, quem é o dono da transportadora?

Emílio: Seu [Laércio] Thomé, ele que está investindo dinheiro. Houve pessoas aqui em Itajaí que usaram de má fé para se aproveitar esse momento e tentar fazer a Dalçóquio quebrar, demitir todo mundo, quiseram dar um golpe. [Quem foram essas pessoas?] Não quero falar sobre isso. No momento certo eu falarei. [O Milton Rodrigues não é dono também?] É um dos donos, mas não é o sócio majoritário. O majoritário é o Thomé, ele que está investindo, ele que é empresário, ele que tá colocando dinheiro e pagando as contas. Ele está mantendo a empresa funcionando.

DIARINHO – Num vídeo que circula na internet o senhor diz que o Brasil está quebrado. Quem o senhor responsabiliza pela crise econômica pela qual passamos?

Emílio: O governo. Esse governo do PT implantou o anarquismo... Não tem nada de democracia! Outra coisa: é muita mentira quando se fala que o Brasil teve ditadura militar. Isso é mentira! O Brasil nunca teve. Nós tivemos dois partidos políticos, a Arena e o MDB, portanto nós tínhamos um regime militar e não um regime de ditadura. O Brasil teve “regime militar”. É uma mentira a ditadura. Como no caso do cigarro, até os anos 90, todo mundo fumava, era impossível dizer que o cigarro fazia mal, porque se defendia a tese que a Souza Cruz pagava imposto, dava emprego, então o ambiente estava contaminado, mas não adiantava falar nada que o cigarro fazia mal. Agora, é a mesma coisa: o ambiente está contaminado com a ideia de que o PT é comunista. Mentira! Ele não é comunista, ele é anarquista. Significa: sem governo. O empresário é tratado como bandido e o bandido é tratado como empresário. Ao invés de matar o berne, querem matar a vaca. Isso significa caos. O Brasil está quebrado e quem não percebeu isso está isolado em uma ilha. Não sou pessimista, sou realista. [O sistema político anarquista é uma forma de viver sem a interferência do governo. No Brasil há leis, Executivo, Legislativo e Judiciário... Como há anarquia?] Não existe regra. Eu não concordo. No Brasil não existe regra, a primeira regra implantada é não ter regra. O pessoal não sabe a diferença entre democracia e anarquia. Aos comunistas de plantão eu digo: me diga um país em que o comunismo está funcionando? Ao invés de a gente fazer parceira com a Inglaterra, com a França, com a Alemanha, com o Japão, estamos fazendo com a Bolívia, Venezuela, Cuba. Quem nasceu burro, nunca será cavalo. [O senhor é a favor de uma política mais liberal, onde o mercado rege as regras do jogo?] Não. Eu sou a favor daquele regime em que o trabalhador que trabalha ganha e aquele que não trabalha não ganha nada. Não podemos estimular o malandro. Quando o cara percebe que o muro de Berlim caiu, que não existe mais União Soviética, Cuba está falida, Venezuela está falida... O inteligente percebe que é burro. O burro morre burro. [Como se explica o fato da Venezuela ter uma gasolina muito mais barata que o Brasil sendo que o Brasil é um dos maiores produtores de cana de açúcar, milho e petróleo...] Tá tudo errado. O venezuelano vai comer ou beber gasolina?! A Venezuela está muito mais quebrada que o Brasil! Querem falir o Brasil, porque já está quebrado. O árabe reza várias vezes por dia porque ele sabe que tem que rezar. A religião controla ele. Tanto que faz dois mil anos e ele ainda anda com metralhadora na mão. O chinês não pode ter democracia lá, porque um bilhão e meio de chineses pensando... não pode ter um bilhão e meio de gente pensando. Aqui no Brasil tem que ser regime militar. Eu sou a favor do regime militar porque o brasileiro é desleixado. Para entender o que eu estou falando tem que entender de história. Os trabalhadores sabem o que estou falando. Eu não estou ofendendo os trabalhadores. A massa brasileira é desleixada e se não tiver um regime que a norteie, vira o que estamos vivendo agora. Alunos dando tapa em professor. Uma inversão de valores brutal, onde a família não vale mais nada, onde o pai e a mãe não podem exigir mais nada do filho, o caos. [O regime militar torturou, matou e destruiu muitas famílias. O senhor é a favor dele?] Morreu quem tinha que morrer. Quem trabalhava, estudava, quem tinha o que fazer, não morreu. Houve alguns exageros, claro. Quem trabalhava honestamente, mantinha suas obrigações, tinha a educação, a saúde e a segurança em dia. Morrem muito mais pessoas hoje do que antes.

DIARINHO – O senhor culpa o governo pela crise econômica e política, mas alguns empresários não têm sua parcela de culpa? Quando o empresário sonega e não paga seus impostos...

Emílio: Impossível pagar todos os impostos! Isso é impossível. O governo estimula a sonegação. Se o governo fosse sério, mas não é, não teria problema de pagar. Há uma inversão de valores tão grande que o pessoal quer viver de bolsa família. Quem vai pagar essa bolsa? Quando o empresário vai ao Ministério do Trabalho é tratado como bandido. E o bandido é tratado como empresário. Porque a nossa presidente não foi defender os empresários que estão falindo, mas foi defender o cara que estava traficando droga [brasileiro Rodrigo Gularte, condenado a pena de morte na Indonésia por tráfico de drogas]. Se o líder vai lá e defende o maconheiro, imagina o resto. Minha intenção é abrir a cabeça dessa molecada e dizer o seguinte: o regime militar, em alguns momentos, é necessário. No Brasil, é necessário para seguir o que está escrito na bandeira nacional: ordem e progresso. Se não tiver disciplina, será desordem e regresso. Com 10 fronteiras invadidas de tudo quanto é jeito, da Guiana ao Uruguai, se não tiver um rigor sobre essa fronteira, claro que vai entrar drogas. Quem defende a maconha é um irresponsável. Não tem nada para fazer. [O ex-presidente do Brasil, Fernando Henrique Cardoso [PSDB], é um dos defensores da descriminalização da maconha. Ele é um irresponsável?] Tá errado. Imagine um motorista de caminhão com maconha na cabeça. Vai lá e mata uma família inteira no trânsito. Quem vai ser o culpado? Ele que está usando a maconha ou a empresa?

DIARINHO – Os impostos sempre foram cobrados no Brasil e no mundo, isso não é invenção de um governo. O que mudou então?

Emílio: A velocidade da cobrança é maior. Nós pagamos e o que recebemos em troca? As empresas tem que dar Unimed, educação, tem que pagar escolta. O que o governo faz? Nada! Além de não voltar o que a gente paga de impostos, a velocidade em que é cobrado é brutal. O tempo de receber o frete de fornecedores é maior do que o intervalo entre uma cobrança e outra de imposto. O que o governo dá em troca? Nós temos segurança? Não! Nós temos educação? Não! Nós temos saúde? Não!

DIARINHO – A sua família vendeu a empresa mas o senhor continua negociando o reajuste salarial com os funcionários da Dalçóquio. O que o liga a transportadora ainda?

Emílio: Eu amo aquele pessoal. São 40 anos de vida. São 40 anos convivendo com aquele pessoal e o César [Pereira, secretário administrativo do sindicato dos Motoristas], foi lá falar coisas que não era para ter falado. Eu sou presidente do sindicato, o Seveiculos [Sindicato das Empresas de Veículos de Carga de Itajaí], é um direito que eu tenho de proteger e alertar. Aquele nome Dalçóquio que está lá é uma questão de honra. Não tem um Dalçóquio envolvido em corrupção ou qualquer outra coisa que denigra a sua imagem. Por isso, eu estou lá dentro.

DIARINHO – O senhor se disse porta-voz dos trabalhadores da Dalçóquio e acusa o sindicato dos Motoristas de tentar quebrar a empresa quando aprovou o aumento salarial para 1200 funcionários. O aumento está valendo?

Emílio: Claro. Eu disse que eles merecem 100%, mas no Brasil quebrado tem que garantir o seu emprego. O reajuste que foi dado: 8,5%, foi aprovado. [Está sendo pago?] Sim. [Então o senhor foi lá defender o quê?] O César ainda diz que o dono é o Milton. Por que ele está falando isso? [Para o DIARINHO, o sindicato apresentou a cláusula do contrato onde o seu pai e a sua irmã deram poderes ao Milton para administrar a empresa...] Durante um período, porque ele sabia que quem tinha dinheiro, quem estava investindo era o seu Thomé. Quem vai pagar as contas? O Milton não iria pagar. Dava o golpe, fechava a firma, como vários estão quebrando, quem ia sair ganhando? Ele [Milton] tem um percentual de 30%, mas não é o sócio majoritário. [O senhor diz que o Milton assinou de má fé para tentar prejudicar a empresa?] Sim, claro. [Os empregados podem ficar tranquilos? Vão receber o aumento de salário, tíquete e diária?] Sim. Está tudo resolvido, tudo esclarecido. [A multa pelos atrasos no mês passado, de quase três milhões, serão pagas?] Vocês estão preocupados com isso? [Os trabalhadores estão, por isso estamos perguntando...] Então eu respondo: nem sei do que você está falando, mas estou preocupado com o emprego. Multa a gente está cansado de pagar. Mais uma? Será paga!

DIARINHO – O senhor é presidente dos bombeiros comunitários de Itajaí. Porque o senhor se envolveu com a corporação?

Emílio: Porque eu me identifico com a farda. Eu fui da polícia do Exército de Brasília. Eu u fui dispensado de Itajaí, Blumenau, Curitiba e Brasília porque eu era de Itajaí, e Itajaí é terra de maconheiro. Mesmo assim eu fui, servi e no meio de 1200 homens, fui o único que tirou duas vezes honra ao mérito. Eu sou apaixonado pelo mundo militar, porque lá existe ordem e a sequência da ordem é o progresso. Eu honro a minha bandeira. A bandeira do Brasil está na nossa farda, nos nossos caminhões. O bombeiro para mim é um super-herói. O mínimo que eu posso fazer é tentar ajudar os bombeiros e, por consequência, ele ajudar a comunidade.

DIARINHO – O senhor foi expulso da câmara de vereadores de Penha por ter se exaltado em uma sessão, quando foi discutido o fato de a prefeitura não ter mostrado interesse em receber uma unidade completa dos bombeiros militares. Penha precisa de bombeiros militares?

Emílio: O Johnny [Coelho, presidente dos bombeiros voluntários da Penha] é uma farsa. O Johnny é um sem vergonha, eu disse isso para ele. . Ele não pode assinar nem o habite-se de uma empresa que queira se instalar na Penha. A Penha perdeu um caminhão, uma viatura e uma ambulância. Foi por isso que eu fui expulso da câmara, porque eles não queriam receber. Porque é mais interessante manter o Johnny, que é um cabo eleitoral do prefeito [Evandro dos Navegantes], outro incompetente, do que receber os bombeiros militares. Penha perdeu um caminhão, uma viatura e uma ambulância que nós tínhamos conseguido. Eu fiz questão de ser expulso, porque eles mandaram eu calar a boca. Eu questionei: ´vocês estão mandando eu calar a boca porque eu estou trazendo um milhão de reais para vocês? E vocês estão apoiando o Johnny, que é um incompetente´. Daí, eu fui expulso da câmara. Ainda hoje o Johnny, incompetente que é, ainda está recebendo dinheiro da Penha – o que é uma sacanagem com o povo da Penha.

DIARINHO – A sua família vendeu a Dalçóquio e hoje vocês estão investindo em transporte aquaviário de carga, no porto Trocadeiro. Porque essa mudança de ramo?

Emílio: Enquanto tiver esse governo, nós temos que rever tudo que nós estamos fazendo. Com esse governo, eu sugiro que todos os empresários revejam seus planos. Cada caminhão anda com um book, se tiver um item errado, o caminhão é multado. Os funcionários e os fornecedores têm que dar graça a Deus que ainda teve alguém que comprasse a empresa com o cenário caótico que a gente vive no Brasil. [E pra sua família foi um bom negócio?] Foi um bom negócio!




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