Marcos Corrêa, 14 anos, não podia imaginar que na roda de amigos de bate papo estaria o seu assassino. Na noite de quarta-feira, Baguinha, como era conhecido, estava conversando no cruzamento das ruas Francisco de Paulo Seara e Antônio Carlos Mendes, no bairro São Paulo, em Navegantes, quando seu algoz agiu. O assassino arrancou a arma que a vítima carregava na cintura e, à queima-roupa, atirou contra a cabeça do dimenor. Baguinha tava andando armado pra se proteger das ameaças que vinha sofrendo, mas foi ela que acabou lhe tirando a vida.
Era perto das 21h30 de quarta-feira, quando a mãe da menina M.P.M., 13 anos, fazia a janta, e ouviu o barulho de um tiro. Sua filha saiu de casa para ver o que tinha acontecido, mas logo voltou ...
Era perto das 21h30 de quarta-feira, quando a mãe da menina M.P.M., 13 anos, fazia a janta, e ouviu o barulho de um tiro. Sua filha saiu de casa para ver o que tinha acontecido, mas logo voltou correndo, chorando e berrando: mataram o Baguinha. Baguinha era o namoradinho de M., e a menina não acreditou quando o viu, ensanguentado, estirado no chão com um balaço na cabeça.
Sem saber se ele estava vivo ou morto, vizinhos levaram Baguinha ao hospital de Navegantes antes mesmo da chegada da ambulância, mas o socorro foi em vão. O piá morreu antes de chegar ao pronto-socorro. Após os disparos, a rua ficou vazia. Moradores e comerciantes se trancaram dentro de casa, pois alguns achavam que rolaria um tiroteio. A polícia Militar foi chamada, fez buscas, mas não encontrou ninguém. Na manhã de ontem, restava no local do crime um pouco de sangue, encoberto com areia, e o medo dos vizinhos, que não se atreviam a dar muitos detalhes sobre o que viram.
Intuição de mãe alertou o perigo
No mesmo horário, na casa amarela número 50 da travessa Márcio Correia, no bairro Nossa Senhora das Graças, o aposentado Antônio Alberi Correa, 62, não entendia o que estava acontecendo com a mulher. Já era tarde da noite e o filho caçula ainda não tinha voltado para casa, quando ela começou a dizer que alguma coisa tinha acontecido. Foi nesse momento que o telefone tocou. Do outro lado da linha, uma pessoa que não se identificou disse que Baguinha tinha sido levado ao hospital, com dores de cabeça.
Seu Antônio desconfiou que algo realmente ruim tivesse acontecido. Seu guri era forte e saudável demais para precisar de atendimento médico por causa de uma dor de cabeça, mas para não preocupar ainda mais a esposa, não falou nada. Quando o casal chegou ao hospital, a desconfiança se tornou realidade. O filho estava morto.
Marcos era o único dos três filhos do casal que ainda morava com eles. A filha mais velha morreu há 10 anos, durante uma cirurgia, e a do meio é casada e não mora mais ali. A gente tava em três dentro de casa, agora somos só dois, lamenta o pai.
Velório
No canto esquerdo inferior da TV, uma foto 3x4 de Baguinha servia para lembrar sempre de pedir proteção ao filho. Religiosos, os pais costumavam se reunir na sala de estar, enfeitada com imagens de santos e com uma bíblia aberta, para rezar e pedir proteção para a família. Na tarde de ontem, mais orações seriam feitas, mas desta vez de despedida. Os sofás foram retirados da sala e amontoados no quarto para dar espaço ao caixão. Faltavam apenas alguns detalhes, que a mãe de Marcos ainda definia, para velar o corpo do filho em casa. Parentes vieram de longe. Teve quem veio da cidade de Maravilha, oeste do estado, para se despedir do menino.
O enterro aconteceu ainda ontem no cemitério do bairro Machados.
Primos dizem que Baguinha tava envolvido com drogas; pai nega
Segundo a PM, Baguinha estava na rua com a namorada quando quatro rapazes apareceram de bicicleta e um deles disparou contra a vítima. Já os primos têm outra versão. Segundo os rapazes, que pediram para não seridentificados, Baguinha traficava e também seria usuário de maconha. Ele teria ido justamente fumar um baseado com amigos, próximo à casa da namorada, quando foi morto. Os primos acreditam que, ao ver a arma que Baguinha carregava consigo para se proteger, os guris resolveram pegar o berro, e atiraram. Foi na trairagem, disse um dos parentes.
Seu Antônio, porém, não acredita nisso. Para ele, ainda é difícil entender por que mataram o filho. O pai sabia de algumas ameaças que Baguinha vinha sofrendo e que havia boatos sobre o envolvimento dele com o tráfico, mas tudo não passaria de fofoca. Eu não acredito nisso aí, lascou. O caçula era o orgulho do pai. Apesar de ir mal na escola, o garoto levava jeito para o trabalho e, segundo seu Antônio, já era um homem feito.
Há alguns meses, ele tinha até começado a trabalhar com a mãe cortando e limpando peixes, mas teve que parar por causa da pouca idade. Ele tinha o meu jeito. O homem [que o havia contratado] gostou demais do trabalho dele, conta o pai.
Eram poucos motivos pra reclamar do filho. A única coisa é que ele tava com um vício desgraçado, mas fazer o quê?, disse, referindo-se a cigarros.
Questionado se espera que os envolvidos no assassinato de seu filho sejam pegos, seu Antônio parece incrédulo. É o que a lei pode fazer, mas depois que tiraram a vida dele, nada mais adianta. Os filhos são as únicas riquezas da vida, falou, desolado. A mãe de Baguinha não quis conversar com a reportagem.
O caso será investigado pelo delegado Ricardo Labes. Ontem à tarde o dotô chegou a ouvir pessoas que estavam com Baguinha no momento do crime, mas ninguém ficou preso. A polícia Civil confirma que o menor estava envolvido com o tráfico de drogas, e isto teria lhe custado a vida. Ele seria usuário e também vendia a porcariada.