Os médicos mortos por serem confundidos no Rio de Janeiro, outros tantos feridos em outro tiroteio numa escola nos EUA, os ataques em Israel. Vivemos um tempo em que gente tem medo de gente e todo mundo tem medo da vida. Os muros cada vez mais altos e a discussão sobre a legalização de armas não solucionam o problema e a tensão só aumenta. Em um ambiente inseguro, o medo se torna irmão do desespero e o desespero pai da violência.
Há quem diga que você não sabe do que é capaz quando exposto a uma situação extrema de violência. Há quem reage, quem foge e quem fica paralisado. Enquanto um se apodera do desespero e atira contra os colegas de sala, o outro se esconde no banheiro da escola. O problema maior é que, quanto mais expostos estamos à violência, maior as chances de nos habituarmos a ela e, consequentemente, nos tornarmos agressores em potencial.
As tragédias são acompanhadas pela TV, redes sociais, rádios a todo momento, muitas vezes não temos nem tempo para absorver sobre o homicídio que acabamos de ouvir e já é apresentada uma nova notícia de sequestro.
Viver como prisioneiros em nossas próprias casas não é justo, então encaramos o mundo e torcemos para sobrevivermos a mais um dia.
O problema é que o sangue frio que aprendemos a ter para aguentar pequenos abusos cotidianos uma hora esquenta, e a raiva nem sempre tem uma direção certa.
Uma discussão no trânsito, uma briga na escola pelo bullying sofrido, o assalto para garantir o dinheiro para a refeição do dia... e as crianças acompanhando tudo isso “de camarote”, aprendendo com o exemplo dos pais que maltratam a faxineira da casa, com a novela que aborda o tema da sexualidade íntima acessível, traições e com outros jovens que defendem a liberdade de não serem obrigados a nada.
A violência vem da repetição de pequenos abusos, do desespero e do medo. A violência é aprendida e aprendemos que é melhor reagir do que ser surpreendido, não é mesmo? O terror cotidiano está nos ensinando a fazer valer o “olho por olho, dente por dente”.
Medrosos, muitos de nós nos armamos, e o gatilho está prestes a explodir o palavrão, o soco, o tiro. Quem será o próximo alvo da nossa raiva?