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Conversar para negar


Há tempos, nem tão remotos, as notícias [relatos de interesse público] e informações [conjunto de dados sobre algo ou alguém] nos chegavam por meios imponentes. Jornais televisivos noturnos eram apresentados por homens maduros, representando a condição de que coisas públicas tinham conformação masculina. Se saiu no “Jornal Nacional” então era importante, relevante, condicionante, imperativo, legítimo. A pauta das pessoas estava feita e os diálogos orbitavam o eixo das bancadas dos apresentadores ou da capa de jornais.

Nos anos seguintes estes mesmos jornais televisivos passaram a ser apresentados por casais [alguns casados mesmo]. Os novos formatos sociais e políticos foram representados também ali nas bancadas dos jornais. O interesse público passara a ter a presença feminina. Fundamental transformação sociopolítica. No passar dos tempos, os fatores de legitimação de notícias e informações foram pulando das bancadas e das capas de jornais para os computadores. Ainda que o acesso fosse mais facilitado, sem bancadas e sem horário específico, a produção da notícia e da informação ainda resistia em mãos profissionais.

Em períodos mais recentes o instantâneo é a normalização. Tudo é rápido, aparentemente descontínuo [mas não é], de acesso fácil por telefones e com propagação ainda mais insolente [que não respeito convenções sociais, os direitos dos outros]. A produção da notícia pode ser feita e propagada sem bancadas, sem legitimidade, sem cara. Vale a circulação em regime virtual e a propagação em velocidade da luz e dos dedos e dos robôs.

As Fake News, cujo interesse é procurar dar credencial lógica de verdade a uma mentira original ou mesmo a coisas inexistentes, se tornaram patrimônio de ação de marginais. As informações não apresentam dados e as notícias não são originalmente de interesse público, mas do interesse do gerador. E você passa a ser o propagador: não cria, mas procria.

Nos tempos dos absurdos instantâneos e das ilusões convulsionantes, há até mesmo corregedorias sobre a condição de existência do que se fala e se divulga. “É Fake News” ou “É Verdade”? Os investigadores das notícias [nova função] estão por aí a carimbar e legitimar o que pauta nossas conversas nas esquinas ou nos diálogos virtuais.

Estamos em busca de sistemas para que possamos voltar a acreditar no que se recebe a cada segundo por meios virtuais. Informação e notícia, atualmente, passam a ser um risco, uma incerteza, algo perigoso. No telefone qualquer coisa serve, qualquer coisa se recebe, qualquer coisa se envia. Qualquer coisa passa a existir sem mesmo nunca ter sido. Qualquer coisa passa a existir na forma do interesse de alguém e sem forma de origem de fato.

Programas de TV, Programas de Rádios, Produção de jornais estão desprotegidos pelo caos das Fake News, um mundo de mentiras para serem acreditadas tais quais promessas que não podem e nem serão cumpridas. A retomada das notícias legítimas parece ter chegado ao fim: cada um tem a sua e danem-se os fatos, caso existam. Mas a desgraça pior é quando dirigentes eleitos passam a se comportar como se fossem aparelhos telefônicos que propagam mentiras, criam mentiras, provocam mentiras. Esta é a inversão mais perigosa.

São os fatos que dão notícias. Dos fatos podemos tirar informações. Os criadores de notícias nos trazem o pior dos males: ter que conversar primeiro para negar o que não é, não foi, nem será.


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