Por Alfabile - alfabile@gmail.com
✨ Alfa Bile — fotógrafo, poeta e escritor. Autor do livro Lume, suas obras Fine Art já decoram hotéis como Hilton e Mercure. Publicado pela National Geographic e DJI Global, expressa nas imagens e pal
                Publicado 03/11/2025 17:54
Alterado 03/11/2025 20:02            
                              
                                                          
Dizem que o haikai é o suspiro da poesia: breve, leve, mas capaz de conter o universo.
Três versos, dezessete sílabas, uma imagem que se revela e desaparece como o voo de uma libélula.
Meu encontro com o haikai nasceu entre a fotografia e o silêncio. Descobri que uma imagem podia caber dentro de poucas palavras. Que o olhar, quando atento, transforma qualquer instante em poesia.
Folhas vermelhas
o farol não se move,
guarda o silêncio.
(Alfa Bile)
Escrevi este haikai observando o farol do Molhe da Barra, em Itajaí. O vento agitava a árvore de folhas vermelhas e o farol permanecia imóvel, guardando o horizonte. Foi nesse contraste que entendi o poder do instante.
O haikai (俳句, haiku em japonês moderno) nasceu no Japão do século XVII, mas suas raízes estão em um gênero mais antigo chamado renga, uma poesia coletiva em que vários autores escreviam versos intercalados.
O primeiro verso dessa sequência, chamado hokku, acabou se tornando uma forma independente e, com o tempo, ganhou vida própria como haiku.
O grande nome dessa transformação foi Matsuo Bashō (1644–1694), considerado o pai do haikai moderno. Ele via nessa arte um caminho espiritual, uma maneira de alcançar o essencial da vida por meio da observação simples da natureza.
Bashō escreveu:
“Aprenda das pinhas o que é o pinho,
e das flores, o que é a flor.”
Essa frase resume o espírito do haikai: ver as coisas como elas são, sem querer transformá-las em discurso.
O haikai tradicional japonês seguia uma métrica de 5–7–5 sílabas poéticas, com 17 sons ao todo.
Devia conter um kigo, uma palavra que indicava a estação do ano, como neve, flor, verão ou cigarra.
Também trazia um kireji, uma pausa ou corte que separava as ideias, criando um contraste poético.
No Brasil, o haikai chegou no início do século XX com autores como Guilherme de Almeida, Millôr Fernandes, Paulo Leminski e Alice Ruiz.
Leminski, irreverente e genial, dizia que o haikai é “um telegrama enviado do agora”.
E talvez seja mesmo isso: um breve aviso de que a vida está acontecendo.
Hoje, o haikai se libertou das regras rígidas. Muitos poetas não seguem mais a contagem de sílabas nem usam o kigo obrigatório.
O foco está no espírito do instante, no olhar sensível que captura o efêmero.
Mais importante que as regras é a verdade do olhar, o “aqui e agora” que pulsa no verso.
Barro molhado
infância travessa corre,
joelhos ralados.
(Alfa Bile)
Haikai é presença. É o agora em sua forma mais pura.
E é isso que este blog, VersoLuz, pretende ser: um espaço para respirar poesia, observar o tempo e encontrar beleza onde o mundo parece apressado demais para ver.
✍️ Por Alfa Bile – Blog VersoLuz | Jornal Diarinho
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