A ialorixá Nanci Cristina dos Santos, a conhecida mãe Nanci de Xangô Baru, sacerdotisa de Umbanda, viveu neste Natal uma despedida marcada por dor, mas também por profunda gratidão. Na madrugada deste dia 25 de dezembro, faleceu Fiapo Felipe, cãozinho que esteve ao lado dela por 15 anos e que, segundo o próprio relato da sacerdotisa, moradora de Barra Velha, foi responsável por salvar sua vida.
Fiapo Felipe chegou à vida de mãe Nanci ainda filhote, com cerca de 60 dias. Ele havia sido abandonado e atacado por outros cães, jogado dentro de uma casa. Ao presenciar a cena, Nanci parou a moto ...
Fiapo Felipe chegou à vida de mãe Nanci ainda filhote, com cerca de 60 dias. Ele havia sido abandonado e atacado por outros cães, jogado dentro de uma casa. Ao presenciar a cena, Nanci parou a moto e, com a ajuda da cunhada, conseguiu resgatar o animal, ferido por diversas mordidas. Colocado dentro de uma bolsa, o filhote rumou para um novo lar.
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Em casa, o cãozinho tremia enquanto tinha os ferimentos tratados por Nanci e Alexandre, seu esposo. Depois de limpo e alimentado, encontrou abrigo no colo da nova tutora. Ao longo de 15 anos, Fiapo acompanhou a família em viagens, encontros, restaurantes e na rotina doméstica. Mais do que um animal de estimação, tornou-se parte da história de vida de mãe Nanci.
Há cerca de três anos, veio o episódio que, segundo ela, mudou tudo. Fiapo passou a cheirar insistentemente sua boca, comportamento incomum. Quando Nanci soprou próximo ao focinho do cão, ele começou a tremer intensamente — reação semelhante à que tinha diante de trovões e fogos.
Diante do comportamento suspeito, interpretado como alerta, a ialorixá procurou atendimento médico. O diagnóstico foi grave: apendicite supurada, condição que exigiu internações e um longo período de tratamento.
Entre dezembro de 2023 e 2024, mãe Nanci passou meses hospitalizada, inclusive numa UTI em Joinville. Durante esse período, permaneceu fisicamente distante do companheiro de quatro patas, mas emocionalmente próxima, acompanhando-o por fotos todos os dias, via celular. Quando finalmente pôde retornar para casa, o reencontro foi marcado por um misto de alegria e ressentimento do animal.
“Fiapo parecia demonstrar mágoa pela ausência — sentimento que, aos poucos, se desfez ao longo de 2025”, relembra Nanci, que também é escritora de livros infantis, professora e comanda um terreiro de matriz africana no bairro São Cristóvão, em Barra Velha.
Apesar da idade avançada, da visão comprometida, da audição reduzida e do caminhar instável, Fiapo ainda surpreendia. Em alguns momentos, corria e brincava como filhote.
Esperou a noite de Natal
Na madrugada do Natal, por volta das 2h, ao retornar da celebração em família, mãe Nanci encontrou Fiapo no alto da escada, à sua espera. Na manhã seguinte, estranhou o silêncio. Já perto das 11h, o cão despertou, fraquinho. Ela o abraçou, beijou, agradeceu e relembrou toda a trajetória. Confessou, inclusive, o medo de perdê-lo.
Pouco depois, levou Fiapo ao quintal. Ainda conseguiu vê-lo correr e latir, em um dos últimos gestos de vitalidade. Horas depois, o companheiro de 15 anos se despediu. “Apesar da dor, essa é uma história construída com muito amor e gratidão”, resume mãe Nanci. Para ela, Fiapo Felipe não foi apenas um cão, mas um guardião enviado pelos orixás — aquele que salvou sua vida e deixou um legado de afeto que atravessa o tempo.
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