TRAGÉDIA NO MAR

Barco de velejador não poderia navegar na costa

Marinha abriu investigação pra apurar causas do acidente; inquérito deve ser concluído em até 90 dias

David Reiser, de 39 anos, morreu após barco virar na costa de Navegantes (Foto: Reprodução)
David Reiser, de 39 anos, morreu após barco virar na costa de Navegantes (Foto: Reprodução)
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A Delegacia da Capitania dos Portos em Itajaí informou, na terça-feira, que abriu inquérito administrativo pra apurar as causas, circunstâncias e responsabilidades ligadas ao acidente com um veleiro que terminou com a morte do engenheiro e instrutor da Associação Náutica de Itajaí (Ani), David Reiser, de 39 anos, no sábado passado. A investigação tem prazo de 90 dias pra conclusão.

Segundo a Marinha do Brasil, a Capitania dos Portos tomou conhecimento do acidente por volta das 19h15 do dia 6 de setembro. Na ocasião, as informações davam conta de um homem no mar, nas proximidades da Meia Praia, em Navegantes.

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“A Delegacia da Capitania dos Portos em Itajaí enviou imediatamente uma equipe ao local para apurar o ocorrido e iniciar as buscas pelo tripulante do veleiro”, informa.

Na nota oficial, a Marinha relata que a equipe encontrou o barco e o corpo do tripulante às 21h57, nas proximidades da praia de São Miguel, em Penha.

O corpo foi transportado à Capitania, sendo posteriormente retirado de ambulância pelo Corpo de Bombeiros Militar de Itajaí para os procedimentos legais. David foi velado no domingo e sepultado na segunda-feira. Ele deixou esposa e filha, de nove anos.

A investigação do acidente prevê perícias e coleta de depoimentos. Concluído o procedimento, o inquérito será encaminhado ao Tribunal Marítimo, órgão da Marinha do Brasil que julga fatos e acidentes de navegação, para a distribuição, autuação e posterior envio para manifestação da Procuradoria Especial da Marinha.

O velejador experiente

David era um velejador experiente e em agosto tinha celebrado a vitória da equipe dele – Easy Rider Sailing Team – no 3º Festival Náutico de Navegantes. Formado em engenharia de produção pela Furb, também era skatista e já tinha trabalhado como guarda-vidas. Profissionalmente, atuava como artesão e designer, na criação de móveis, utensílios e itens de decoração, com reaproveitamento de materiais.

Na Ani, David era membro ativo nas atividades da associação. Ele entrou no projeto de construção naval amadora da entidade como aluno e, depois de dois anos, virou professor voluntário, “compartilhando com generosidade e carinho todo o conhecimento e a paixão que carregava em si”, destacou a Ani.

Em nota oficial da diretoria, a Ani ressaltou a personalidade do velejador e o legado de inspiração que deixou para todos. “Seu coração gigante, sua energia e irreverência, sua disposição em ajudar sempre — tudo isso fez dele um exemplo vivo de altruísmo, solidariedade e fraternidade. Mais do que isso: foi um superpai, supermarido, amigo presente e multitalentoso”, diz a mensagem em memória de David Reiser.

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O velejador costumava compartilhar fotos e vídeos do trabalho, rotina, e momentos de lazer e em família pelas redes sociais, onde também publicava tutoriais para construção de móveis artesanais. A saída para velejar no sábado também foi compartilhada em vídeos no Instagram. Ele navegava sozinho, mantinha contato com colegas em terra e gravou seus últimos momentos antes do acidente.

 

Fabricação de veleiro é artesanal

Veleiro que virou é de modelo feito em projeto de construção naval da Ani (Foto: Divulgação)

David navegava num veleiro de aproximadamente 3,5 metros, chamado Albacora, uma embarcação de fabricação artesanal, de classe miúda, que, no dia do acidente, enfrentou uma condição não favorável à navegação na costa de Navegantes, onde não poderia estar navegando, conforme a habilitação para o modelo.

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O veleiro é uma das mais de 100 embarcações produzidas no projeto de construção naval amadora da Ani, conhecido como Paiol, onde David era professor voluntário. O barco faz parte da classe Ibis Rubra 3.5, que só é construído no curso da Ani. Como aluno do projeto, David fabricou o próprio exemplar com os instrutores do Paiol.

O barco é feito de madeira, em compensado naval resinado. O Albacora, apelidado de Albacorinha, é o de número 97 do Paiol e foi construído em 2021 pela velejadora e mergulhadora Maria Beatriz Rodrigues Vanzuíta, quando ela tinha 15 anos.

O trabalho levou nove meses, com apoio da equipe de três instrutores do projeto – Evandro Cesar Malburg, Renato Venâncio e Manoel Camilo – e fez a vela virar uma paixão na vida de Maria, hoje habilitada como mestre-amadora e que continua compartilhando os trabalhos no Paiol e as velejadas.

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Na segunda-feira, ela postou um vídeo e uma mensagem em homenagem ao David, com quem teve instruções nos últimos meses e que a chamava de “embaixadora” do Paiol, por ser uma entusiasta do projeto.

“Tu foste um grande professor, me ensinou mergulho, madeira, veleiro, ferramentas. Fosse um grande amigo. No último mês estive do teu lado, terças e quintas, aprendendo, rindo e viajando nas tuas histórias. Tua energia era contagiante, fosse além do que alguém poderia ir, pensava mais rápido do que agia”, publicou.

Maria lembrou que David sempre elogiava os vídeos da velejadora e pedia dicas pra também fazer bons vídeos. Em homenagem, ela reuniu diversas gravações de momentos com o professor e colega. “Você e a Albacorinha seguiram o rumo da eternidade juntos. Vão ficar sempre comigo. Fosse um guerreiro. Bons ventos aí de cima, amigo”, completou.

 

Barco não poderia estar fora de águas abrigadas

Ao DIARINHO, o presidente da Ani, Elson Oliveira, que acompanhou a saída de David no sábado, no Saco da Fazenda, numa marina no caminho pra Cabeçudas, disse ser difícil “cravar” uma única causa do acidente. Ele fez considerações sobre a condição do tempo e o modelo da embarcação. Elson informou que o barco não é habilitado para navegação fora de águas abrigadas. Assim, não poderia estar no local do acidente.

A Marinha classifica a embarcação como miúda: pequeno porte, com características específicas e que têm restrições de navegação.“Todos que possuem esta embarcação sabem que são proibidos de navegar fora do Saco da Fazenda”, disse Elson. “O dia não estava propício, pois tinha um vento forte de sul com ondulação grande (1,5 metro a 2 metros de ondas), e período curto (6 segundos)”, relatou.

Ainda sobre a condição no sábado, ele contou que havia uma forte correnteza no rio Itajaí-açu vazando pro mar aberto. “Logo, o retorno torna-se complexo para uma embarcação daquele porte”, considerou. “Tudo isso, somado ao horário em que saiu para velejar (já após as 17h), torna o somatório de situações que terminaram com o trágico acidente”, lamentou.

Nos vídeos postados por David antes da tragédia, o velejador conta que aproveitou a maré vazante pra deixar a baía até pegar o vento na saída da barra. Já na costa, mais pro lado de Navegantes, ele enfrentou ventos fortes e maior ondulação. O barco virou e David chegou avisar os colegas do acidente, mas ele foi encontrado já sem vida na noite de sábado, perto do barco virado, na costa de Navegantes.

Apesar das circunstâncias, o presidente da Ani reforçou que David era uma grande pessoa, muito querido por todos, com muito conhecimento de mar e vela. A morte consternou familiares, amigos e a comunidade.






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