Itajaí sedia neste sábado mais um baile black da série que vem se tornando cada vez mais concorrida na cidade – e se firma como não apenas um ponto de encontro da comunidade negra, mas também um point antirracista na cidade. Trata-se de mais um baile “Pretura”, evento que segundo seus idealizadores, nasceu da vontade de criar um espaço que valorizasse a cultura e as pessoas negras fazendo da música e da dança formas de resistência e celebração, conforme reforça Rafael Garcia, idealizador e produtor do evento. 

A edição deste sábado, no The Back Door Pub, em Itajaí, será a nona – dando sequência às festas black iniciadas em junho de 2023, em Balneário Camboriú. “Nosso povo canta e dança para louvar, agradecer ou até mesmo para lamentar. Queríamos algo diferente, algo que não encontrávamos em nenhum lugar em Santa Catarina”, revela Garcia, “um ambiente seguro, acolhedor pensado por e para a comunidade negra da região”, reforça ele. 

Desde 2023 o projeto cresceu, conquistando público fiel e abrindo espaço para artistas da cena black local. De lá para cá, todas as edições registraram público predominantemente negro, “gerando orgulho e pertencimento”, considera Rafael. 

Nos bailes, a pegada é 100% black music: funk, soul music, R&B, hip hop, pagodão e, às vezes, elementos de samba e afrobeat. “Tudo isso com um toque de modernidade e com muito respeito à nossa cultura”, comenta Mano Jahy, produtor, musicista e multi-instrumentista do “Pretura”. 

Ao longo das edições, o baile já recepcionou DJs e artistas da cena black da região de Itajaí e também nomes de fora, sempre com curadoria voltada para a qualidade musical e a representatividade negra. “Já passaram por aqui a DJ Flavia de Verdade (Florianópolis), DJ Makhal (RJ), DJ Pretana (RS) entre outros”, comenta Blade, DJ residente e um dos produtores, ao lado de Rafael.

Questionados pelo DIARINHO sobre como o público entende a mensagem antirracista dos bailes, Rafael, Blade e Mano Jahy lembram que o “Pretura” não é só festa, é também conscientização. “O público que frequenta percebe que se celebra a cultura negra de forma positiva e de resistência, valorizando identidade, autoestima e orgulho da nossa história”, reforça Rafael. 

“Muitos relatam que saem inspirados e mais conscientes. Principalmente pelo fato de que nós, produtores, tivemos a autonomia de olhar e perceber que faltava algo nas festas locais por aqui, e não fomos reclamar disso para ninguém. Nós nos organizamos, planejamos e executamos. É gratificante ver a alegria das pessoas que vão e entendem o que é um baile do gênero”, detalha Blade.

Brancos são bem-vindos 

Outro ponto é a interação com os brancos durante os bailes. Rafael lembra que a cultura da segregação racial nunca fez parte das tradições africanas, portanto, brancos, latinos, asiáticos, todos são bem-vindos. “Quando pensamos no ‘Pretura’, idealizamos e planejamos para as pessoas negras, ou seja, não colocamos o branco nessa equação. Mas a mistura é natural, até mesmo porque vivemos num país onde a miscigenação é uma realidade e pessoas brancas têm livre acesso ao baile”, comenta Garcia. 

“Itajaí é uma cidade portuária com muita miscigenação, e isso se reflete no público; mesmo sendo 80% de pessoas negras a mistura é visível na energia da festa, na dança e no respeito mútuo entre os participantes. Porém, esse é um cenário diferente de nós, negros, que nem sempre temos esse acesso nas demais festas. E é importante que entendam que ali é um espaço de protagonismo negro”, conclui.

Neste sábado, a balada começa às 22h, com os DJs Blade e Ciggaz, “e muita música preta”, como diz Mano Jahy, que é também o mestre de cerimônia. O The Back Door Pub fica na rua Hercílio Luz, nº 37, no centro de Itajaí. Os ingressos variam de 20 a 50 reais, de acordo com o lote liberado. Além da pré-venda, há produtos exclusivos como as camisetas do Pretura. Informações no instagram @preturaa ou no zap +55 47 9638-0148, com Rafael.