“Noites de Bafons: 30 anos de Céia Maravilha”. Assim é apresentada ao público a exposição da personagem Céia Maravilha, criada há mais de três décadas pelo ator e professor Maurício Bento, de 59 anos. Ícone da noite alternativa em Itajaí, Balneário Camboriú e Floripa, a personagem saiu dos guetos com seu estilo escrachado e irreverente. Maurício, peixeiro da gema, nasceu no bairro São João, mas se criou no São Judas, onde também concebeu a personagem considerada a drag queen mais emblemática de Santa Catarina.
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A exposição conta parte dessa trajetória, com abertura marcada para esta sexta, às 19h30, no Museu Histórico de Itajaí. A mostra permanecerá aberta ao público até 16 de agosto. Os visitantes ...
A exposição conta parte dessa trajetória, com abertura marcada para esta sexta, às 19h30, no Museu Histórico de Itajaí. A mostra permanecerá aberta ao público até 16 de agosto. Os visitantes poderão conferir figurinos que representam a pluralidade de estilos da personagem, muitos pensados e produzidos pelo próprio Maurício, além de fotografias, convites e recortes de jornais que registram a história da dupla e sua relação com a cidade. Os destaques vão para os bares, boates e pessoas que fizeram parte dessa caminhada.
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A curadoria é assinada pela museóloga Tayná Mariane Monteiro de Castro e pela técnica em conservação e restauro Yasmin Sayegh Al Kas, que mergulharam nas vivências da personagem ao longo dessas três décadas, a legitimando como um ícone da cultura peixeira. A exposição integra a programação dos 165 anos de Itajaí.
Personagem nasceu no São Judas
Céia Maravilha nasceu no início da década de 1990. Inspirada nas personagens Anthony (Hugo Weaving) e Adam (Guy Pearce), e na transexual Bernadette (Terence Stamp) do clássico “Priscilla, a rainha do deserto”, Céia costuma levar aos palcos temas polêmicos com leveza, humor e profundo conhecimento. Sexualidade, política, inclusão e igualdade social sempre estiveram em pauta em suas performances.
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No último carnaval, Céia foi uma das principais atrações do bloco itajaiense “Sósias da Fernanda Torres”, criado em homenagem à talentosa atriz que concorreu ao Oscar de melhor atriz por sua atuação no filme “Ainda estou aqui”.
Com graduação em Estudos Sociais e especialização em História, Maurício frequentou cursos de teatro na Casa da Cultura Dide Brandão nos anos 1980 e chegou a integrar a formação de um grupo de teatro infantil. Dos palcos infantis para os palcos da noite LGBTQIAPN+ foi um pulinho. Aliás, pular e saracotear é o que Céia mais faz quando comanda a cena.
Fora dos palcos, Maurício leciona história para alunos do ensino fundamental e médio. Milhares de estudantes, não apenas de Itajaí, mas de diversas cidades da região já compartilharam de seus conhecimentos.
Militância com arte e humor
A abertura da exposição antecede o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+ e coincide com a semana da 29ª Parada de São Paulo, cujo tema será a velhice LGBT+, com foco em memória, resistência e futuro. Nesse contexto, Céia e Maurício se inserem como protagonistas de uma história de resistência e arte.
Há mais de três décadas, Maurício tirou a figura da drag queen dos guetos da conservadora Santa Catarina. Em pouco tempo, a personagem conquistou espaço e passou a ser contratada para festas particulares, aniversários, casamentos de socialites, eventos corporativos, restaurantes sofisticados e casas noturnas da badalada Barra Sul. Desde então, Céia nunca mais saiu de cena.
A mostra faz parte do projeto “Montação de memória com Céia Maravilha”, que tem caráter transdisciplinar e contempla produção de acervo audiovisual e arquivístico, oficinas de arte drag, sessões de cineclube e ações de fortalecimento comunitário. O projeto resultará num documentário curta-metragem.
Com financiamento da Política Nacional Aldir Blanc, via edital da Fundação Cultural de Itajaí, a iniciativa é uma produção do Centro de Direitos Humanos de Itajaí (CDHI), em parceria com a Coletiva Epicena. O CDHI, que há 40 anos atua na defesa de populações socialmente vulneráveis e marginalizadas, desde sua reativação, em 2020, vem se dedicando à preservação da memória dos movimentos sociais. Já a Coletiva Epicena, que completa cinco anos de atuação em 2025, com essa parceria reafirma seu compromisso com a história LGBTQIA+ da cidade.
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