PROSPERIDADE
Cooperativas de crédito transformam o mercado financeiro
Importante fator de desenvolvimento, cooperativas alteram as relações na oferta de crédito
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]




Uma revolução silenciosa vem sendo gestada num dos pontos centrais da organização econômica da nossa sociedade: o mercado financeiro. Graças ao surgimento e ao crescimento das cooperativas de crédito, o cenário composto pelas mais diversas instituições financeiras sofre uma mudança gradual, que impacta desde as políticas públicas em âmbito nacional, aciona mecanismos do Banco Central, dos principais bancos de fomento, altera a relação de forças entre os bancos comerciais e, o mais importante, gera uma força extra para o desenvolvimento das economias locais, principalmente quando o assunto são micro e pequenas empresas.
No Brasil, aproximadamente 24 milhões de pessoas estão associadas a uma cooperativa de crédito. Santa Catarina, levando em conta a relação com o tamanho da população, é o estado brasileiro com o maior número de cooperados. Em solo catarinense, segundo levantamento de dados realizado pela Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (Ocesc) referentes ao ano de 2024, quase 2,7 milhões de pessoas estão associadas a cooperativas de crédito, o que representa mais de 15% de todos os cooperados do setor no país.
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Fora o impacto na oferta de crédito, o setor, que conta com 67 cooperativas em atividade, emprega atualmente cerca de 20 mil funcionários e segue uma tendência de crescimento no número de agências físicas, na contramão dos gigantes do mercado financeiro e das novas opções de bancos digitais. Mesmo investindo mais em estrutura física para novas agências, e aumentando os custos com o pagamento de funcionários, o setor registra crescimento e empilha resultados positivos. Em 2024, o faturamento das cooperativas de crédito catarinenses chegou a R$ 21 bilhões, com ativos acumulados em R$ 146 bilhões.
Mais concorrência
Um dos fenômenos provocados pelo crescimento das cooperativas de crédito, segundo o professor Alexandre Schwinden Garcia, doutor em Economia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e professor da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), é uma tendência de descentralização da oferta de crédito e aumento da concorrência entre os bancos. “Em dezembro de 2024, 66% do estoque de operação de crédito no Brasil estava concentrado nos cinco maiores bancos. E o Banco Central tem uma agenda regulatória para a redução de concentração e aumento de competição. O crescimento das cooperativas de crédito entra nessa agenda”, destaca.
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O aumento da oferta de crédito funciona como uma alavanca para toda a economia e o professor Alexandre acrescenta que, no caso das cooperativas, a proximidade com os cooperados é determinante para que as taxas de financiamento sejam mais acessíveis, principalmente para as micro e pequenas empresas. “Quando existe uma relação de proximidade entre a cooperativa e o cooperado, isso se traduz na oferta de menores taxas de juros porque a cooperativa consegue com maior assertividade determinar o nível de risco de cada cliente”, explica.
Inserção na comunidade
O coordenador técnico da Ocesc para o ramo de crédito, Claiquer Carneiro, reforça a tese de que um dos principais fatores para o crescimento das cooperativas é a forte participação nas comunidades. “O nosso objetivo é ter presença dentro das comunidades, com funcionários que são pessoas da comunidade e que conseguem ter a sensibilidade de entender quais as necessidades daquela microeconomia”, ressalta.
No entanto, ele lembra que outro fator importante para o aumento da participação das cooperativas de crédito no mercado financeiro nacional é a parceria com os grandes bancos de fomento, como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE). “Esses bancos não têm estruturas voltadas para atender o empreendedor, então as cooperativas fizeram convênios, operacionalizam recursos oficiais e conseguem fazer com que eles cheguem a mais pessoas”, afirma.
Círculo virtuoso
O diretor executivo do Sicredi Vale Litoral, Arão João da Silva Neto, destaca ainda o círculo virtuoso que se forma quando uma cooperativa de crédito atua no fomento da economia local. “A cooperativa distribui as sobras e esse dinheiro não vai para a matriz de um banco ou para acionistas, ele retorna para a comunidade, e realimenta todo o sistema. Essa é a essência do cooperativismo, fazer com que as pessoas cresçam juntas”, explica.
Arão destaca ainda que o trabalho das cooperativas vai para além das operações de crédito e chega também à área de projetos sociais. “O projeto é bem maior, com cooperativas escolares, educação financeira, inserção de jovens no mercado de trabalho, fortalecimento de entidades sem fins-lucrativos”, enumera.
Futuro promissor
O coordenador de crédito do Sicoob, Tiago Costa Brando Rosa, afirma que a tendência de crescimento das cooperativas deve se manter nos próximos anos. “Houve uma preocupação inicial com o crescimento dos bancos digitais no pós-pandemia. Mas hoje verificamos que os bancos digitais permanecem com a mesma fatia de mercado, enquanto as cooperativas cresceram nos últimos dois anos”, explica.
Tiago afirma que para manter a competitividade, além de continuar oferecendo o crédito com menor custo principalmente para os micros e pequenos empreendedores, as cooperativas devem se manter atualizadas em tecnologia. “Hoje o sistema de cooperativas tem investido muito em tecnologia, no acesso facilitado para pagar e receber dinheiro, por exemplo, para se manter competitivo no mercado. O nosso futuro é promissor, sim”, afirma.
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