O Ibama apreendeu 11 animais exóticos e silvestres numa exposição ilegal no Continente Shopping, em São José, na grande Florianópolis, no dia 22 de fevereiro. O tutor foi multado em R$ 24,5 mil e o caso reacendeu o debate: essas exposições são uma ferramenta educativa ou apenas exploração disfarçada?

Para entender os impactos e a legalidade desse tipo de evento, o DIARINHO conversou com a médica veterinária Catharina Fonseca, especialista em animais silvestres e exóticos, e com o biólogo Federico Argemi, gerente de operações técnicas do Oceanic Aquarium.

Exibição responsável ou risco desnecessário?

“A grande questão é sobre a procedência dos animais expostos”, argumenta Catharina. A veterinária destaca que profissionais de educação ambiental devem seguir a legislação, porque o comércio ilegal compromete o equilíbrio do ecossistema. Além disso, alerta que o manuseio de animais fora do seu habitat natural pode ser perigoso, pois comportamentos imprevisíveis podem levar a acidentes graves.

“Há diversos projetos, inclusive sem fins lucrativos, realizados de uma forma impecável para demonstrar todo o potencial da beleza e convívio com esses animais, respeitando os princípios do bem-estar animal”, acrescenta Catharina.

Em estabelecimentos profissionais regularizados, como o Oceanic Aquarium de Balneário Camboriú, são mais de 20 profissionais trabalhando diariamente no manejo, cuidados veterinários, nutrição e avaliação do bem-estar dos animais.

“Gostamos de dizer que o bem-estar não é negociável. [...] Os pilares dos zoológicos e aquários modernos são a pesquisa, a conservação e a educação”, detalha Federico Argemi.

Enquanto exposições legalizadas garantem bem-estar animal e promovem educação ambiental de forma segura, as irregulares podem envolver tráfico de animais, condições precárias, desequilíbrio ambiental e riscos para visitantes, como acidentes e até transmissão de doenças, na análise dos especialistas.

“A presença de um médico veterinário especializado, biólogo ou zootecnista é de suma importância para garantir a segurança. Além disso, terrários, aquaterrários ou viveiros com tamanhos adequados, temperatura e umidade ideais de acordo com a espécie são requisitos básicos”, acrescenta Catharina.

Animais silvestres ou exóticos? Entenda a diferença

Segundo Catharina, um animal exótico é aquele que não pertence à fauna natural do país. Já os silvestres são aqueles nativos da fauna local, mas que vivem na natureza e não deveriam ter contato com humanos.

Riscos do comércio ilegal

O comércio ilegal de animais exóticos ainda é um grande problema, alerta a veterinária. Ele pode resultar na introdução de espécies invasoras ou na propagação de doenças estrangeiras. No caso do tráfico de animais silvestres, o impacto pode levar ao risco de extinção, ao desaparecimento de espécies essenciais para a fauna e ao desequilíbrio ecológico.

O biólogo Federico Argemi acrescenta que o tráfico de animais ameaça tanto as espécies nativas quanto os seres humanos, já que animais exóticos que chegam ilegalmente não passam por controle sanitário. “Os zoológicos e aquários têm protocolos rigorosos sobre as quarentenas dos animais para reduzir a possibilidade de disseminação de doenças”, explica.

Posso ter um animal exótico ou silvestre de estimação?

No Brasil, é possível comprar um animal exótico de forma legal em criadouros registrados no Ibama, com emissão de nota fiscal e animais devidamente cadastrados e identificados.

Os “pets” mais comuns desta categoria são aves, como o ring neck, e répteis, como o gecko ou a pogona. Já entre os animais silvestres permitidos para criação doméstica, há o papagaio, cágado, algumas espécies de periquitos e serpentes, como a jiboia arco-íris.

“Antes de escolher qualquer espécie para se ter como pet, é necessário avaliar se há condições de espaço, rotina, tempo e condições financeiras”, reforça Catharina.

Como denunciar o comércio ilegal de animais?

O tráfico de animais pode ser denunciado pelos seguintes canais:

• Polícia Militar Ambiental: 190
• Linha Verde do Ibama: 0800-61-8080
• Rede Nacional Contra o Tráfico de Animais Silvestres (Renctas)

Animais foram encaminhados para centro especializado

Os animais apreendidos no Continente Shopping, em São José, em 22 de fevereiro, foram levados ao Centro de Triagem e Reabilitação de Animais Silvestres (Cetas), administrado pelo Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina (Ima), no Parque Estadual do Rio Vermelho, em Florianópolis.

Após passarem por triagem e avaliação clínica, parte dos animais já foi destinada a empreendimentos autorizados para uso e manejo de fauna silvestre. No total, foram apreendidos nove animais vivos, entre espécies exóticas e silvestres, além de dois animais mortos e a pele de uma sucuri.

Vivos:

3 cobras-do-milho (exóticas)

• 1 jiboia (silvestre)
• 1 tarântula (silvestre)
• 2 sapos (silvestres)
• 1 perereca australiana (exótica)
• 1 aranha-marrom (silvestre)

Mortos ou partes:

• 1 cobra-de-vidro
• 1 cobra-cega
• 1 pele de sucuri