A fila única para matrículas de crianças de zero a seis anos na Educação Infantil, em Itajaí, estaria parada, sem novos chamamentos de inscritos no programa. O problema foi relatado por moradores que viram o ano letivo iniciar sem conseguir garantir a escola para os filhos.

Na Educação Infantil, as aulas voltaram na semana passada para 16.985 alunos, sendo 10.723 atendidos em 70 creches da rede municipal e outros 6182 alunos das unidades credenciadas. A compra de vagas em escolinhas particulares busca ampliar a cobertura e reduzir a falta de vagas.

Pelo programa Fila Única, a efetivação das matrículas deve obedecer à ordem do cadastro de solicitação de vagas por zoneamento. Com a inscrição, os pais entram na ordem de classificação e aguardam ser chamados pra fazer a matrícula.

A posição na fila pode ser acompanhada pelo site http://intranet.educacao.itajai.sc.gov.br/login#filaunica. Pelo sistema, a mãe de um menino de seis meses não vê a fila andar desde antes do início das aulas e está preocupada por não conseguir matricular o filho, que tava na 13ª posição no cadastro.

A mulher mora no bairro Santa Regina. Ela conta que todas as escolinhas da região estão com vagas, mas que as creches não podem chamar a criança porque não têm autorização da prefeitura. “O prefeito só está pensando em tirar os andarilhos das ruas, e não está cuidando das nossas crianças”, reclama a moradora. Outra mãe do bairro enfrenta a mesma situação, sem vaga para a filha de seis meses. A mulher é mãe solteira e iniciou o processo no Fila Única ainda em outubro de 2024.

A secretaria de Educação esclareceu que está organizando a separação dos contratos por turmas para fazer a liberação no sistema. A promessa é que até sexta-feira o processo de chamamento será finalizado.

Creche do PAC

O Santa Regina está mapeado pra receber uma nova creche do município. A unidade é prevista na Domingos Nunes dos Santos, com investimento de R$ 4 milhões pelo Novo PAC, do governo federal. A escolinha vai atender 188 crianças na região que teve o maior crescimento populacional da cidade nos últimos anos.

Escolas sem ar-condicionado e com rede elétrica detonada

As aulas iniciaram nas escolas municipais também com queixas sobre aparelhos de ar-condicionado estragados ou aguardando instalação diante da onda de calor. Entre as unidades escolares denunciadas estão a escola básica Marechal Olímpio Falconieri da Cunha, no São Vicente, e a creche Padre João Pivatto.

O prefeito Robison Coelho (PL) e o secretário de Educação, Silvano Amaro, fizeram reunião emergencial pra tratar da manutenção da rede elétrica das escolas e creches. Segundo o prefeito, a antiga gestão deixou muitas unidades com instalações precárias. A avaliação é de rede elétrica sucateada e perigosa em pelo menos 60% das unidades escolares. Há aparelhos novos de arcondicionado já queimados devido à situação da rede elétrica.

Dos quase dois mil aparelhos, metade apresentou problemas. “Infelizmente, o quadro é assustador, temos muito trabalho pela frente; nós vamos colocar em ordem, mas vai demorar algum tempo”, disse Robison. Conforme o prefeito, muitos problemas foram resolvidos por equipes próprias da nova gestão, mas a secretaria vai contratar mais empresas pra dar conta das manutenções nos próximos 90 dias.

Os reparos serão feitos antes na rede elétrica, permitindo a instalação e manutenção dos aparelhos de ar-condicionado. “Nós precisamos de pelo menos 90 dias. Há bastante desconforto por parte dos alunos e queixas por parte dos pais, mas a forma como nós pegamos as unidades de ensino, não pode ser resolvido da noite pro dia”, explicou o secretário de Educação.

Crianças aguardando na fila única

Também moradora do Santa Regina, outra mãe relata que está com a filha de sete meses na fila única desde outubro. Ela conta que até agora pôde ficar com a criança, mas vai voltar a trabalhar a partir da próxima segunda-feira e precisa do apoio da creche.

Ao pedir informações sobre vagas, a moradora foi orientada a esperar, pois há crianças aguardando há mais tempo, com casos de um ano e meio na fila. “O que eu vou ter que fazer é matricular minha filha numa creche particular”, lamenta.

A falta de vagas também afeta as escolas. A mãe de um menino de seis anos, que vai completar sete em maio, precisa de uma vaga no 1º ano no Centro Educacional Pedro Rizzi, no Cidade Nova. “O lugar mais perto pra mim é ali, mas só tem vaga lá no bairro Cordeiros e eu não tenho como levar”, lamenta.

A mãe de outra criança do bairro espera desde o ano passado a transferência da filha da escola 15 de Junho, também no Cidade Nova, para o colégio Pedro Rizzi. “Fui na segunda-feira no Pedro Rizzi e pediram para eu voltar na quarta-feira (dia 5). Voltei na quarta-feira e simplesmente elas [atendentes] olharam para minha cara e falaram que não tem o que fazer, porque não tem vaga”, relatou.

A secretaria de Educação diz que está organizando as turmas para fazer a liberação de novas vagas no sistema.

Fim do período integral nas creches conveniadas

Pais também denunciaram que a prefeitura suspendeu o atendimento integral em creches credenciadas – nas quais a secretaria de Educação compra vagas para atender à demanda. São 6182 alunos estudando nas creches particulares.

A mãe de uma menina de cinco anos, aluna da creche Recanto do Saber, no São Vicente, ficou sabendo da decisão do meio período quando foi deixar a filha na escolinha. Ela é mãe solteira, vive com três meninas menores e paga aluguel. Duas crianças ficam com a filha mais velha, que é casada. Pra não deixar a menina sozinha, a mãe tem trabalhado em meio período. “Sou diarista e preciso trabalhar o dia todo. Eu fiz a inscrição pra vaga no final do ano. Se soubesse que seria meio período, teria me organizado já, mas agora estou indo trabalhar como posso”, disse.

A Educação informou que está avaliando o caso junto à comissão julgadora para o processo de aprovação das vagas integrais. “Há poucas vagas na rede. Dessa forma, todos os deferimentos serão enviados às atividades credenciadas”, disse a gerente de Ensino, Kátia Venâncio. Os critérios pra período integral priorizam crianças em situação de vulnerabilidade, a idade e a renda familiar.