A turista, que é natural da região, mas vive há cinco anos nos Estados Unidos, está passando férias no litoral catarinense e decidiu praticar o naturismo – hábito comum em praias do exterior. No entanto, ao ficar nua, foi alertada da suposta proibição da prática. Constrangida, vestiu-se rapidamente e deixou o local.
O dono de um estabelecimento da orla também confirmou que não existe mais a obrigação do banhista precisar estar pelado para frequentar a parte da praia que era destinada ao naturismo. Com isso, segundo ele, está cada vez mais difícil ver um pelado na faixa de areia.
Um motorista de app, que frequentemente transporta passageiros para as praias agrestes de BC, afirmou ao DIARINHO que não há mais placas no Pinho indicando a prática de naturismo, que deu fama nacional e internacional à praia de BC.
No site Tripadvisor, plataforma de avaliação de pontos turísticos, há comentários de 2024 relatando que a praia segue cheia de banhistas, mas sem adeptos do nudismo, que era a principal filosofia do local. “Não conseguimos viver a experiência naturista que gostaríamos. O local deveria ser exclusivo para naturistas e não para curiosos. Além disso, a falta de wi-fi e sinal de internet dificulta até pedir um Uber”, escreveu um usuário.
Luiz Hack, ex-presidente da Associação de Naturismo do Pinho, disse que o naturismo no local tem perdido força ao longo dos anos, gerando desconforto aos naturistas que ainda frequentam o local. “Isso é um absurdo. A praia nasceu como local naturista e foi reconhecida pelas autoridades ao longo dos anos”, afirmou, ao ter conhecimento do caso desta sexta.
Embora afastado da associação e da praia há mais de dois anos, Luiz comentou ter ouvido relatos de que a praia do Pinho teria se tornado mista após uma decisão judicial. Segundo ele, atualmente os frequentadores podem optar por curtir o local vestidos ou não, mas que cada vez menos a prática naturista está ocorrendo no Pinho.
Luiz atribui o enfraquecimento do naturismo à falta de engajamento. “A associação abandonou a praia há muitos anos. Depois criei a Pinhonate [Associação Naturista do Pinho] e resgatei a praia para os naturistas. No entanto, o engajamento sempre foi pequeno. Tentava marcar reuniões, mas ninguém participava. Perdemos a praia pelo desleixo dos que se dizem naturistas, mas não assumem o compromisso”, lamentou.
De Curitiba, onde atualmente reside, Luiz segue praticando o naturismo no litoral paranaense. Ele afirmou não ter acesso à decisão judicial, mas acredita que ela foi motivada por uma denúncia feita ao Ministério Público. “O MP teria entrado com uma ação civil pública, alegando o direito constitucional de ir e vir, e a justiça determinou que a praia não poderia ser exclusiva para naturistas”, explicou Luiz.
O atual presidente da associação naturista, Carlos Galz, que poderia dar detalhes sobre a suposta decisão judicial, não atendeu às ligações e nem respondeu às perguntas enviadas pelo DIARINHO. A assessoria do MP, que está em regime de plantão, ainda não se manifestou sobre o caso.
Lei que proíbe naturismo ainda não foi aprovada
A prefeitura de Balneário Camboriú afirmou desconhecer qualquer ação judicial proibindo o naturismo na praia do Pinho. Entretanto, informou que a câmara de vereadores já aprovou, em audiência pública, uma proposta que visa proibir a prática de nudismo no local. No entanto, a proposta ainda não foi transformada em lei.
A iniciativa do vereador Anderson Santos (Podemos) propõe a alteração da lei de revisão do Plano Diretor, de 2006, retirando o reconhecimento da praia do Pinho como área destinada ao naturismo. O item está atualmente listado entre as atividades que podem ser exploradas no município, de acordo com as diretrizes da política municipal de turismo.
Caso a proposta seja aprovada, o nudismo será oficialmente proibido na praia do Pinho, e caberá à prefeitura regulamentar a aplicação da nova lei. Segundo o vereador, o objetivo é “descaracterizar a praia do Pinho como local de prática de naturismo e transformá-la em uma praia de amplo e livre acesso, sem restrições de entrada ou permanência”.
Nesta sexta-feira, Anderson Santos explicou que o projeto já cumpriu todas as etapas, incluindo aprovação nas comissões e em audiência pública. “Agora, aguardamos o presidente colocar a pauta para votação. Tivemos uma discussão muito positiva, e conseguimos convencer os colegas vereadores. Nessa nova legislatura, vamos trabalhar para que a mudança aconteça ainda nesta temporada ou, quem sabe, até a próxima, transformando a praia do Pinho em um local para todas as pessoas, sem a prática de naturismo”, destacou.