Aquecimento global
COP do Clima: como os riscos e danos crescem a cada meio grau de aquecimento global
Mundo caminha para aquecer 3,1 °C, o dobro do limite de 1,5 °C estipulado pelo Acordo de Paris. Veja os cenários
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Agência Pública | Por Isabel Seta | Edição: Giovana Girardi
Nesta segunda-feira (11), tem início a 29ª Conferência do Clima da ONU, a COP29, primeiro marco de um calendário definido pelo secretário-executivo da Convenção do Clima da ONU, Simon Stiell, como “dois anos para salvar o mundo”. Considerando a intensificação das mudanças climáticas, esse é o tempo para os países mudarem a atual rota de aumento das emissões de gases do efeito estufa e conter o aquecimento global.
Neste ano se completam nove anos em que os países adotaram o Acordo de Paris, mas o ritmo de emissões ainda não diminuiu. Pelo contrário. No ano passado elas cresceram 1,3%, e 2024 muito provavelmente vai fechar como o ano mais quente do registro histórico – o primeiro com a temperatura média já superando 1,5 °C –, quebrando o recorde que era do ano passado.
Se os planos climáticos que estão hoje na mesa forem cumpridos em sua totalidade, o que depende de recursos, o planeta ainda pode chegar a um aumento de 2,6 °C ao longo deste século – um aquecimento catastrófico, nas palavras da ONU, e muito distante da meta de 1,5 °C estabelecida coletivamente por quase todos os países do mundo no Acordo de Paris, em 2015.
Para manter essa meta viva e, assim, evitar a piora da crise climática, as emissões precisam cair 42% até 2030 e 57% até 2050 – um corte sem precedentes, como aponta a ONU em seu último relatório. Tamanha queda exige metas mais ambiciosas e políticas efetivas que viabilizem a transição energética dos combustíveis fósseis para fontes renováveis em apenas algumas décadas.
É com este desafio que representantes de dezenas de governos se reúnem ao longo das próximas duas semanas em Baku, no Azerbaijão. Na mesa de negociação, está um debate crucial: quem vai pagar, e quanto, para que os países em desenvolvimento possam fazer suas ações de mitigação e adaptação.
A COP29 inaugura o ciclo de atualização das metas que cada país deve apresentar para cumprir o Acordo de Paris. Sem a realização de um evento oficial, o Brasil apresentou sua nova meta na última sexta-feira (8), pela qual se compromete a reduzir suas emissões de gases de efeito estufa entre 59% e 67% em 2035, na comparação com os níveis de 2005.
Enquanto isso, o limite de 1,5 °C parece cada vez mais distante. A reeleição do negacionista climático Donald Trump, que, em seu primeiro mandato, retirou os Estados Unidos do Acordo de Paris, jogou um balde de água fria na comunidade climática. Mas a realidade já era desafiadora mesmo antes disso. As políticas em curso atualmente colocam o planeta no rumo de um aquecimento de 3,1 °C acima dos níveis pré-industriais.
Quanto mais quente, pior. Cada meio grau conta
Pode soar como pouca diferença – 1,5 °C, 2 °C, 3 °C –, mas imagine uma febre que eleve a temperatura do seu corpo dos saudáveis 36-37 °C para 38 °C. No caso do planeta, um aumento na temperatura média é ainda mais grave por bagunçar todo o interligado sistema terrestre.
“A cada meio grau a mais, o aumento dos extremos é exponencial”, resume o climatologista Carlos Nobre, um dos maiores especialistas do mundo em mudanças climáticas.
Por extremos, entenda tempestades mais fortes, secas mais severas, incêndios mais devastadores, ondas de calor mais intensas. Esses eventos implicam, na prática, sofrimento e morte de pessoas e animais, degradação de ecossistemas e bilhões de reais em prejuízos. Apenas entre 2021 e 2023, eventos climáticos extremos causaram na União Europeia uma perda de 162 bilhões de euros (mais de R$ 1 trilhão).
Um aquecimento acima de 2,5 °C seria diferente de tudo que a humanidade já viveu ao longo de seus milhares de anos na Terra. “Desde que o Homo sapiens existe, há uns 200 mil anos, desde que o Homo erectus existiu, há 2-3 milhões de anos, nunca tivemos uma temperatura mais alta do que essa”, explica Nobre.