Após a morte repentina de Tancredo Neves, em 1985, o primeiro presidente civil pós-ditadura, mas ainda eleito via colégio eleitoral, o Brasil vivia dias turbulentos sob a batuta de José Sarney, do PFL, partido derivado do PDS, a antiga Arena. A inflação era galopante, mesmo com a tentativa do governo de conter os preços através do Plano Cruzado. No ano seguinte, era vez de votar novamente no dia da República, 15/11, tradição que foi quebrada nos anos 90.
No dia 25 de novembro, a manchete do Diário do Litoral (DIARINHO): “Deu zebra na cabeça” mostrava que a renovação dos quadros políticos em Santa Catarina, iniciada em 1982, se confirmava com a eleição ...
No dia 25 de novembro, a manchete do Diário do Litoral (DIARINHO): “Deu zebra na cabeça” mostrava que a renovação dos quadros políticos em Santa Catarina, iniciada em 1982, se confirmava com a eleição de Pedro Ivo Campos (PMDB), desbancando Vilson Kleinubing (PFL) e deixando Amilcar Gazaniga (PDS) comendo poeira. A charge foi de Miro.
Nesse ano, embarcaram na barca figuras como Noemi Cruz (PMDB), Esperidião Amin (PDS), em fim de mandato como governador, Ademir ‘Bozó’ Furtado (PMDB) e Irene Dagnoni (PDS). Sobrou um espacinho até para o governador biônico (nomeado pelos militares) Colombo Machado Salles (PDS), que depois virou nome de ponte.
Apesar da charge apresentar um Pedro Ivo sacana, abanando com o lencinho para os perdedores, mandando o Amin avisar a dona Ângela que ele “já estava melhorzinho”, a verdade era outra. Pedro Ivo estava com câncer e viria a falecer em 1990, antes de terminar o mandato, passando o bastão para o vice, Casildo Maldaner (PMDB).
Essa barca foi a primeira das muitas em que o atual senador Esperidião Amin (PP) foi estrela da embarcação, tanto entre os perdedores, como de boas, com os vencedores. Para ele, perder a eleição era dolorido, mas participar da barca faz parte do folclore político. “Em Florianópolis tinha barca também e partia do Miramar, no centro. A diferença, no caso do DIARINHO, é que o jornal tem um vocabulário próprio, fazendo crítica pesada ou não, mas sempre com muito humor, por isso minha admiração”, elogiou.
Ele acrescenta que além dos grupos que se alternaram no poder ao longo das décadas, havia aqueles que nunca perdiam, ou seja, perdiam, mas se bandeavam para o lado vencedor. “Vocês têm que incluir nesse folclore a tropa de choque e a tropa de ocupação. Na tropa de ocupação se infiltram aqueles que perderam, os adesistas”, afirmou. Ou, no popular, os vira-casacas.
BARCA 1988
Da câmara antiga só sobrou o Elói. O resto se fu... O texto da Barca de 1988, em 5 de dezembro, dava conta do terremoto que abalou as estruturas de Itajaí após a eleição municipal. João Macagnan (PMDB) foi eleito prefeito e Voltei Morastoni estreava como vereador, pelo PT.
Já na câmara, dos que lá estavam, “só se sarvaro quem tinha fôlego: o Tibério, a Iraci, a Rosa que sartaro fora antes, o resto tomou no r*”, afirmava o povão do São Vicente. Desta vez, a barca foi pro fundo antes de zarpar. Estavam nela Valdeci Cunha, Ademir Furtado, Luís Plácido, Ori Oliveira, Taicil Tavares, João Campos, Valdemir Chagas, Zézinho, Damião Bezerra, Nazareno, Picoli, Magru, José Orsi, Deolindo, Terezinha Romagnoni, Aílton Patrício, Sabino Anastásio, Aristides Russo, o Caveira e Gerd Klotz.
Gerd afirma que não perde uma barca, já que é uma tradição muito pexera. “Eu me sinto honrado, apesar de estar na posição de derrotado, mas a luta é difícil, ainda mais representando as forças democráticas de esquerda. Acho muito interessante essa tradição e espero que se mantenha”. Ele foi candidato a vereador a primeira vez em 1982, e depois em 1988 pelo PMDB. Em 2016, se candidatou pelo PT. “Em 1982 eu fiz 461 votos, naquele tempo era voto! Tinha só 22 aninhos”, afirmou.