Marcelo Duclos
"Ele se tornou um símbolo, o símbolo das ideias liberais. Ele ultrapassou a política, ultrapassou as fronteiras da Argentina e é um fenômeno que estamos descobrindo em tempo real”
Jornalista, coautor da biografia “Milei – A revolução que eles não esperavam”
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]
O jornalista portenho Marcelo Duclos está em Balneário Camboriú neste final de semana para lançar no Brasil o livro “Milei – A revolução que eles não esperavam”, escrito em coautoria com o advogado Nicolás Márquez, onde contam a trajetória pessoal e ideológica de Javier Milei, o atual presidente da Argentina. O lançamento foi nesta sexta-feira na Money Week, evento de finanças promovido pela EQI Investimentos, em Balneário Camboriú. Em entrevista à jornalista Franciele Marcon, Marcelo explicou que o livro de 320 páginas foi dividido em duas partes. A primeira, escrita por Nicolás Márquez, traz a biografia clássica de Javier Milei. A segunda parte, de responsabilidade de Marcelo Duclos, traça a trajetória ideológica de Milei, com seus ideais políticos, a influência da Escola Austríaca de Economia e todo o seu pensamento considerado “ultraliberal”. Marcelo afirma que, antes de se tornar deputado, Milei era ainda mais enfático com seus pensamentos, mas que agora ele “está em paz”. Neste sábado, Marcelo Duclos ainda fará uma tarde de autógrafos, das 13h às 15h, na a|Livraria, no BravaMall, na Praia Brava de Itajaí, onde o livro estará à venda. As imagens são de Fabrício Pitella. A tradução da entrevista é do senhor Jaime Mera. A entrevista completa, em áudio e vídeo, você confere no portal DIARINHO.net e em nossas redes sociais.
DIARINHO – Por que o livro que conta a trajetória de Milei, atual presidente da Argentina, também interessa aos brasileiros?
Marcelo: Não apenas aos brasileiros; Milei se tornou um fenômeno internacional. É algo que superou até mesmo a discussão política e se transformou em um símbolo. Por exemplo, acabei de voltar de uma viagem pela Europa e na Espanha se fala mais de Milei do que dos políticos locais. Eu estava em uma viagem no meio da Toscana (Itália), no meio do nada, e o motorista que nos levava a uma vinícola era fã de Milei. Um italiano que nunca esteve na Argentina. Ele se tornou um símbolo, o símbolo das ideias liberais. Ele ultrapassou a política, ultrapassou as fronteiras da Argentina e é um fenômeno que estamos descobrindo em tempo real. A história está sendo escrita e vamos ver como isso termina. Eu acredito que suas ideias são adequadas para os problemas argentinos. A Argentina tem a possibilidade de dois mandatos presidenciais apenas, acho que o espera um futuro muito interessante. Depois de ser presidente argentino, ele poderá percorrer o mundo como representante dos ideais liberais.
DIARINHO - Quando o senhor decidiu escrever a biografia de Milei?
Marcelo: O livro é dividido em duas partes: a primeira é uma biografia tradicional do personagem, ou seja, a história pessoal de Javier Milei, escrita por Nicolás Márquez, que tem muita experiência em relatar histórias de personagens concretos. O que me interessava escrever era a segunda parte. As ideias, o que pensa esse personagem que chegou à presidência da Argentina, que se refere com o libertarismo, com a Escola Austríaca de Economia. Isso era tudo o que eu queria escrever. Eu tinha interesse em escrever sobre isso muito antes do fenômeno Milei. O que acontece é que eu considerava que não tinha a “desculpa” para um livro popular, para falar de filosofia política libertária. Milei me deu a oportunidade de escrever sobre isso. Surgiu minha proposta para Nicolás, se ele estaria interessado na biografia tradicional da pessoa, que é o que as pessoas encontram na primeira parte do livro, e essa segunda parte explicando o que é o liberalismo libertário, que eu queria escrever há 20 anos. Javier Milei me deu a oportunidade e a plataforma para que hoje estivéssemos aqui discutindo essas ideias, porque se não fosse por ele nada disso estaria acontecendo. [É uma biografia autorizada ou não é oficial?] Se falou muito sobre isso porque ele recebeu muito bem o livro, provavelmente porque conhece Nicolás e me conhece há muitos anos. Mas não é uma biografia autorizada, não foi uma biografia encomendada, ninguém nos pediu para escrever sobre isso. Ele sabia, porque na primeira parte há uma extensa entrevista que Nicolás Márquez fez com ele, que serve como tronco, como coluna vertebral da biografia. É uma entrevista que Javier Milei concedeu a ele, então ele tinha alguma ideia. Na minha parte, eu não o consultei em absolutamente nada. Temos muita afinidade ideológica, então falamos o mesmo idioma, mas a resposta concreta é que não é uma biografia autorizada, mas estamos muito felizes que ele tenha gostado do livro. Quem conhece Márquez e a mim sabe muito bem que isto não é oportunismo para lançar um livro, porque essas são as ideias que sempre defendemos publicamente. Eu tenho artigos sobre a Escola Austríaca escritos há 15 anos. O Nicolás tem uma perspectiva mais de direita, mais conservadora, enquanto a minha é mais liberal-libertária. Essas foram as posições que sempre mantivemos.
"O que esse homem despenteado dizia aos gritos na televisão fez com que as pessoas se conectassem com uma proposta concreta para os problemas que os argentinos enfrentavam”
DIARINHO – O presidente age de forma polêmica e inflamada nos discursos que acompanhamos. Ele também se comporta assim no dia a dia, ou aquele é um personagem encarnado para o grande público?
Marcelo: Não é um personagem, é o Milei que foi sempre. Quando eu o acompanhei, em conferência ou algo, quando recém estava aparecendo, é o mesmo personagem. É muito interessante porque agora que é presidente eu o vejo em paz, mais assentado, com uma estabilidade, muito condizente com o cargo que ocupa, mas em nenhum momento se tratou de um personagem ou de uma estratégia. O que apareceu na televisão, antes de ser deputado, era o Milei que se podia encontrar discutindo em um café. Não houve a criação de um personagem, isso foi algo tão autêntico que muitas pessoas valorizaram, porque a política está sempre tão cheia de coaching, tão planejada, com grupos focais, pesquisas, o que convém dizer, o que não convém dizer... Milei rompeu com todas essas questões. Isso explica o segredo de seu sucesso.
DIARINHO – Pouco se sabe sobre a vida pessoal do presidente, ele tem filhos, esposas, namoradas? Tudo isso está tratado no livro?
Marcelo: Na primeira parte do livro se fala da vida pessoal de Javier. Embora tenha a ver logicamente com sua ascensão política, aborda a questão de sua família, sua mãe, seu pai, por que ele estudou economia. Ele é solteiro, agora parece que está com uma namorada ou “amiga-namorada”. Já esteve em um relacionamento com uma cantora, depois com uma atriz, mas até hoje é solteiro, e ele diz: “meus filhos de quatro patas”, referindo-se aos seus cachorros. [Milei já disse em entrevistas que conversa até hoje com um cachorro que amava muito e morreu. Como é essa história?] Isso tem muito de mito. Esse tema em particular eu nunca discuti com ele, minha relação sempre teve mais a ver com questões políticas, ideológicas, de ideias. Toda essa questão sobre o primeiro cachorro que ele teve, há muitos rumores na mídia, mas ele não se manifestou a respeito disso. No livro, o que as pessoas vão encontrar é a história do goleiro de futebol, ele começou como goleiro no clube Chacarita Juniors. Um clube importante, que ele chegou até a reserva e fez carreira nas categorias de base. Por que ele estudou economia, fenômenos concretos da economia argentina que fizeram com que ele optasse por essa carreira em particular. Ele entrou na discussão dizendo que nunca participaria da política. Há um processo que o levou a mudar radicalmente de opinião e, posteriormente, a se tornar presidente da nação. E a música, ele é muito fã dos Rolling Stones, foi vocalista de uma banda de rock, então todas essas questões são o que o público encontrará na primeira parte do livro.
"A inflação caiu radicalmente, a inflação na Argentina despencou”
DIARINHO – Quais episódios ao longo da vida de Milei o transformaram em um político ultraliberal?
Marcelo: Ele era um economista logicamente pró-mercado, mas não era um economista liberal libertário. Ele conta que a primeira coisa que viu foi no processo de hiperinflação argentina no final dos anos 80, que é o que, por exemplo, diz o manual de economia, que quando os preços sobem a oferta se retrai e as pessoas compram menos. Quando os preços caem, as pessoas compram mais. Ele pensava que os livros lhe diziam isso, mas quando ele ia ao supermercado, os preços subiam cada vez mais e as pessoas se desesperavam para comprar e comprar. Embora os preços subissem, as pessoas compravam. Ele começou a dizer: “Algo que li nos livros não explica muito bem essa questão”. Ele fez carreira como professor e, há alguns anos, encontrou um texto de Murray Rothbard, que é, digamos, o impulsionador do pensamento anarcocapitalista, onde ele encontrou certas questões técnicas que lhe fizeram entender que sua formação como economista neoclássico estava errada (...) Para alguém que já havia publicado muitos artigos, que foi professor por muitos anos, perceber que estava errado já na idade adulta... Não é para qualquer um falar muito bem de sua honestidade intelectual. Ele conheceu a Escola Austríaca e isso lhe deu uma plataforma de originalidade, quase um monopólio natural, porque não havia economistas na televisão falando de libertarianismo e Escola Austríaca. Isso, misturado com o personagem, é o que acabou gerando algo que estamos discutindo há cerca de 10 anos.
DIARINHO - Milei defende a abolição do Estado e possui ideias bastante liberais na economia. Ideologicamente, ele se aproxima de um regime anárquico?
Marcelo: Eu conto isso na segunda parte do livro, ele é filosoficamente anarcocapitalista. É importante fazer uma ressalva que eu menciono no livro. Anarquia, para o anarcocapitalista, não é ausência de regras, porque um modelo anarcocapitalista parte de normas, não é o Estado, o monopólio que está por trás, e logicamente o respeito à propriedade privada e aos direitos individuais. Agora, o anarcocapitalismo não é a agenda política de Milei, mas sim o liberalismo clássico da Constituição argentina. Vamos imaginar que estamos aqui, ou seja, quando a Argentina foi potência, tinha uma Constituição liberal, liberal clássica, que fez com que a Argentina tivesse o PIB per capita mais alto do mundo. Abandonar esse projeto nos levou ao ponto onde estamos. A Argentina se afastou e foi em direção ao socialismo, ao estatismo, ao desastre em que estamos. O Milei político propõe apenas que voltemos aqui [modelo liberal], com impostos mais razoáveis, um Estado menor, menos ministérios, menos burocracia, mais liberdade individual. Daqui para o libertarianismo e o anarcocapitalismo é uma discussão filosófica muito interessante. É muito raro ouvir um político que adere a uma filosofia concreta, porque o político diz o que seus assessores lhe dizem. A política é uma aproximação até um esquema de liberalismo clássico. Ele reconhece sua filosofia libertária, mas a agenda política de Milei é tirar a Argentina do socialismo e do dirigismo para devolvê-la à Constituição Nacional. [Milei tem relação com Steven Bannon, o estrategista de Trump e Bolsonaro?] Não sei se há um vínculo pessoal, a verdade é que desconheço. Posso dizer é que houve muito pouca estratégia por trás da chegada à presidência. Houve muito pouca estratégia e houve muita espontaneidade. Eu desconheço quem foram seus estrategistas concretamente.
“Antes do fenômeno Milei, se alguém perguntasse quantos eram os liberais-libertários-austríacos na Argentina, entrávamos aqui [na sala da entrevista] e ainda sobrava espaço”
DIARINHO – O senhor acompanhou a rotina do presidente Milei? Quais foram as fontes de pesquisa utilizadas para traçar a trajetória de vida dele?
Marcelo: Antes do fenômeno Milei, se alguém perguntasse quantos eram os liberais-libertários-austríacos na Argentina, entrávamos aqui [na sala da entrevista] e ainda sobrava espaço. Éramos muito poucos. Eu era um desses raros liberais libertários-austríacos. Os autores, as influências, as coisas que Milei tem em sua concepção são, ao mesmo tempo, a minha biblioteca. Explicar o que Milei pensa em matéria de filosofia política, foi explicar minha filosofia política porque compartilhamos mais de 90%. [Mas houve conversas e contato pessoal com Milei?] Não, não foi necessário porque explicamos os erros do socialismo, o que ele explica é a política do que eu escrevo no livro, o que é a Escola Austríaca de economia, por que surge, qual é o problema do pensamento keynesiano. Ou seja, tudo o que ele muitas vezes diz eu posso até terminar em minha cabeça a frase que ele está dizendo. von Mises [economista teórico austríaco], Hayek [um dos fundadores da Escola Austríaca], Rothbard [economista heterodoxo norte-americano da Escola Austríaca], os clássicos, Adam Smith [filósofo e economista escocês].
“A Argentina se afastou e foi em direção ao socialismo, ao estatismo, ao desastre em que estamos. O Milei político propõe apenas que voltemos aqui [modelo liberal], com impostos mais razoáveis, um Estado menor, menos ministérios, menos burocracia, mais liberdade individual” “
DIARINHO – Quais fatores contribuíram para a ascensão meteórica de Milei à presidência?
Marcelo: Eu acredito que suas características contribuíram para ser um personagem popular, mérito próprio dele, de suas características, mas convergiram duas questões. O fracasso do Estatismo e do Dirigismo se tornou muito palpável, as pessoas conectaram o que acontecia em sua vida diária com o que essa pessoa dizia aos gritos na TV, de forma muito excêntrica. Provavelmente, em um país com uma economia mais civilizada Milei não teria passado de um personagem levemente popular, com muita sorte teria chegado a ser deputado, mas provavelmente não teria ido além disso em um contexto normal, natural de um país com uma economia medianamente civilizada. A Argentina retrocedeu tanto em termos de obscurantismo econômico, déficit fiscal galopante, empresas estatais deficitárias, uma política reguladora absolutamente sufocante, que levou o país ao desastre. O que esse homem despenteado dizia aos gritos na televisão fez com que as pessoas conectassem com uma proposta concreta para os problemas que os argentinos enfrentavam. Vínhamos com anos e anos de inflação, e os políticos diziam que era preciso colocar polícia nos supermercados para controlar os preços, e isso falhava. Os produtos ficavam cada vez menores, a qualidade piorava e os preços subiam. Aparece um cara na TV dizendo que é preciso fechar o Banco Central, parar de emitir pesos, reduzir o estado, e as pessoas disseram: “bem, a proposta estatista, a proposta socialista não está funcionando”. Aí convergiu um personagem com características que todos conhecemos e uma receita que não fazia parte da discussão política, e os argentinos disseram: “é por aí”.
“Provavelmente, em um país com uma economia mais civilizada, Milei não teria passado de um personagem levemente popular, com muita sorte teria chegado a ser deputado, mas provavelmente não teria ido além disso em um contexto normal, natural, de um país com uma economia medianamente civilizada”
DIARINHO – Houve alguma melhora econômica e social desde que Milei assumiu a presidência?
Marcelo: Há várias questões que são palpáveis hoje em dia, mas só agora vamos começar a ver grandes mudanças. Entre as coisas que são palpáveis e que o argentino vê, há muitas coisas que são muito duras e difíceis, porque houve um processo de sinceridade em uma economia completamente dirigida e intervencionista. Por exemplo, se as tarifas de luz, gás ou água tinham altos subsídios que eram financiados por meio de emissão monetária, talvez quando as pessoas pagavam a luz, o que pagavam era mais ou menos barato, mas cada vez que iam ao supermercado os preços subiam cada vez mais e o dinheiro não dava. Houve um processo de sinceridade da economia, onde logicamente há algumas coisas que são uma transição muito complicada e outras questões que já começam a mostrar que as políticas começam a dar resultados. A inflação caiu radicalmente, a inflação na Argentina despencou. Problemas concretos como, por exemplo, a Lei de Aluguéis. O Estado fixava e regulamentava os contratos de aluguel e as pessoas não conseguiam alugar, não encontravam um apartamento para morar, e isso era muito problemático. Ele revogou essa lei por decreto e isso se resolveu da noite para o dia. Há algumas coisas que já começam a mostrar bons resultados e outras questões em que estamos em uma transição complicada para uma economia razoável. O tema do gás e da energia é um problema para a Argentina, porque apesar de ter o recurso, não o tinha disponível, precisava importar, gastava divisas, os dólares escasseavam. Bem, Vaca Muerta é um grande campo onde há muitos recursos naturais, e um investimento de 30 bilhões de dólares, que será o maior investimento em infraestrutura da história, seria feito na província de Buenos Aires. Na província de Buenos Aires governa um kirchnerista chamado Axel Kicillof, que foi responsável pela nacionalização da petrolífera YPF [Yacimientos Petrolíferos Fiscales], o que agora faz com que a Argentina tenha que pagar uma indenização multimilionária. Milei propõe um sistema de incentivos para grandes investimentos aos governadores. Alguns governadores assinam e subscrevem, e os mais opositores dizem que não. A notícia desta última semana é que esse investimento, que seria feito na província de Buenos Aires, será feito em uma província mais ao sul, chamada Rio Negro, e que da noite para o dia, apenas por subscrever um sistema de bons incentivos para investimentos, atraiu o maior investimento em infraestrutura da história argentina. Isso aconteceu na semana passada. Começou uma revolução onde, por exemplo, as províncias que acompanham as decisões inteligentes começarão a florescer, enquanto as que decidem manter o modelo corporativo mostrarão que não melhoram e que o vizinho sim melhora.
“O que apareceu na televisão antes de ser deputado, era o Milei que se podia encontrar discutindo em um café. Não houve a criação de um personagem, isso foi algo tão autêntico que muitas pessoas valorizaram, porque a política está sempre tão cheia de coaching, tão planejada, com grupos focais, pesquisas, o que convém dizer, o que não convém dizer... Milei rompeu completamente com todas essas questões”
DIARINHO – As políticas econômicas e os cortes estatais feitos pelo presidente argentino estão aumentando as taxas de pobreza e o número de argentinos que não conseguem pagar o aluguel e se encontram em situação de rua. Existem pesquisas que medem a satisfação dos argentinos com o novo presidente?
Marcelo: Há muitas pesquisas, as mais pessimistas dizem que ele tem 50% de aprovação e de rejeição, e os que têm mais afinidade com o governo dizem que supera amplamente os 50%. Não houve, na Argentina – isso é muito importante explicar, porque na imprensa há muitos meios de comunicação de tendência de esquerda que costumam querer transformar essas questões –, não houve cortes em políticas sociais e de subsídios para as pessoas mais necessitadas. Houve outros cortes muito drásticos e muito grandes, por exemplo, em dependências públicas, em ministérios, que realmente não tinham razão de existir, segundo a proposta do presidente. Por exemplo, uma agência estatal de notícias, quando o mercado tem muitas agências que competem. O governo diz que não deve haver mais uma agência de notícias estatal e a fecha. O ministério da mulher e do gênero, não precisa haver um ministério para a mulher e o gênero. Houve um corte que atingiu 13 pontos do PIB, que, segundo Milei, é o corte mais importante da história da Argentina e do mundo, feito em apenas seis meses. Não houve corte em programas de políticas sociais para as pessoas necessitadas.
“A Argentina deixou claro que tem interesse comercial, não apenas com o Mercosul, mas com todos os países do mundo, com todos os blocos”
DIARINHO – Milei esteve em BC recentemente. Ele não quis participar da cúpula do Mercosul e evitou um encontro com Lula, mas fez questão de encontrar o governador Jorginho e o ex-presidente Bolsonaro. Milei não tem mais interesse em se relacionar com o governo do Brasil? É uma opção ideológica?
Marcelo: Há uma questão que tem muito a ver com a formação e a visão libertária. Para os liberais, a relação entre os países não é feita pelos presidentes. Não é nem de Lula, nem de Milei, porque alguém pode dizer toda a afinidade que ele tem com Bolsonaro, então ele está bem com o Brasil, porque está bem com Bolsonaro ou com Lula? Não! Há uma questão que provavelmente é complicada de explicar para um presidente libertário, que considera que o mais importante são as relações entre os indivíduos, as empresas, os investimentos, o turismo. Para ele, não se monopoliza a visão da relação entre um país e outro com o vínculo entre os presidentes. Definitivamente, para a política argentina, como vimos com a chanceler Diana Mondino, o Brasil é um país, não apenas um sócio comercial e um vizinho próximo, é um país muito importante para a Argentina. Mas, seja qual for a discussão, hoje vimos a notícia de que o Brasil assumiu a embaixada da Argentina na Venezuela, hoje a bandeira do Brasil está no território da embaixada argentina, o presidente Milei agradeceu ao Brasil por essa questão e os diplomatas argentinos irão para Portugal, se não me engano, na Europa. A relação entre Argentina e Brasil é absolutamente fundamental para a Argentina. O governo tem isso muito claro, não pode ser que as discussões entre os presidentes ou políticas manchem vínculos importantes. Infelizmente há casos, como ocorreu na Espanha, onde Pedro Sánchez, devido a uma discussão ideológica com Milei, cometeu, na minha opinião, o gravíssimo erro de retirar o embaixador e cortar as relações diplomáticas. [Mas quando ele se ausenta de um encontro em que estarão todos os presidentes dos países do Mercosul, essa importância que o senhor citou há pouco não fica evidente...] A Argentina deixou claro que tem interesse comercial, não apenas com o Mercosul, mas com todos os países do mundo, com todos os blocos.
Raio X
NOME: Marcelo Duclos
NATURAL: Buenos Aires (Argentina)
IDADE: 42 anos
ESTADO CIVIL: Solteiro
FILHOS: Não
FORMAÇÃO: Formado em Jornalismo, com mestrado em Ciências Políticas e Economia
TRAJETÓRIA: Foi colunista de opinião do Perfil, Infobae, produtor da POP Rádio, professor de Estrutura Econômica Mundial e responsável pela comunicação da Fundação Naumann; autor do livro “Milei - A revolução que eles não esperavam”, em coautoria com o advogado Nicolás Márquez.