Já pensou?
Até -71°C: conheça Yakutsk, a cidade mais fria do mundo
Inverno rigoroso dura sete meses e faz os 300 mil habitantes se virarem nos 30 para literalmente não morrerem de frio
Ana Júlia Kamchen [editores@diarinho.com.br]
J á imaginou viver a -71°C? Esta é a realidade dos mais de 300 mil habitantes de Yakutsk, na Sibéria, considerada a cidade mais fria do mundo. O inverno rigoroso dura cerca de sete meses, com uma temperatura média de -50°C. Um dos motivos que explicam o frio tão intenso é que a cidade foi construída sobre o permafrost - solo típico do Ártico, que fica permanentemente congelado. Há dois anos, a moradora Kiun B. compartilha os desafios e curiosidades sobre a realidade extrema, através de seu canal de Youtube.
Frio intenso e perigoso
A vida em Yakutsk exige uma adaptação constante às condições extremas, afetando tanto a saúde física quanto mental dos moradores. O preço a ser pago pela população pode incluir queimaduras de frio, hipotermia e até morte por congelamento. Fora isso, ainda há a deficiência de vitamina D e envelhecimento precoce, causado pela grande quantidade de energia exigida pelo corpo para que se mantenha aquecido.
O isolamento, em períodos de frio muito intenso, também pode afetar o bem-estar mental. A falta de luz solar pode desencadear um tipo de depressão conhecido como transtorno afetivo sazonal. Para contornar tantos perigos associados às baixas temperaturas, a população se molda em tbusca pelo calor - dentro do possível.
Em períodos de cinco a 10 minutos, a exposição ao ar livre em temperaturas extremamente baixas pode causar fadiga, dor aguda no rosto e dores nos dedos das mãos e dos pés. Segundo Kiun, 20 minutos do lado de fora é o limite, mesmo para os moradores mais resistentes da cidade.
Nestas condições não é possível utilizar óculos feitos com metal, por exemplo. O material congela e gruda no rosto, o que dificulta a remoção sem arrancar pedaços de pele. Em um vídeo, Kiun faz esta simulação com um pedaço de carne em um poste de metal. Em poucos segundos, o alimento já está completamente grudado ao poste.
No inverno, os ônibus são a aposta de grande parte da população para evitar o contato com o ar livre. O transporte público da cidade funciona sempre. “Só podemos andar alguns minutos de cada vez para evitar congelamento”, explica Kiun.
Já no caso dos moradores motorizados, é preciso estacionar os veículos em garagens aquecidas com um cobertor enrolado na bateria. “Se você tem um carro é um pouco problemático. Você não pode desligar o motor, caso contrário a bateria congela”, detalha Kiun.
Camadas de roupas
Sair de casa sem a roupa adequada traz risco de vida em Yakutsk. “Muitas pessoas estão se perguntando como sobrevivemos em um ambiente tão hostil e minha resposta é: com a roupa certa”, comenta Kiun.
No corpo, blusa e calça térmica, cobertos por uma legging e um suéter de lã, embaixo de calças impermeáveis, casacos de pele ou casaco acolchoado térmico. Nos pés, meias quentes e botas tradicionais yakutianas feitas de pele de rena.
Geladeira pode ser o quintal
Tudo congela rapidamente ao ar livre em Yakutsk, por isso muitos moradores armazenam alimentos fora de casa. Na cidade, o mercado ao ar livre mais frio do mundo mantém peixes e carnes naturalmente congelados e frescos. Cidades menores da região obtêm água através de blocos de gelo de rios ou lagos, já que tubos de água congelam facilmente.
Atividades ao ar livre incluem pesca no gelo, nadar no gelo e pintura, com alguns moradores até praticando banhos de gelo a -50°C, mas isso deve ser feito com cautela e orientação profissional.
Reservas de ouro e diamante
A cidade foi fundada em 1632, mas passou a receber mais pessoas principalmente no final do século 19, quando foram descobertas reservas de ouro no solo yakutiano. Além do ouro, a região é responsável por 20% do abastecimento mundial de diamantes brutos ainda hoje. Uma lenda local conta que quando Deus estava criando o mundo e distribuindo suas riquezas, acabou com as mãos entorpecidas pelo frio quando chegou em Yakutsk e deixou todas as riquezas no solo da cidade.