Novos condomínios residenciais poderão reservar áreas para hotéis em Balneário
Novidade do novo plano diretor promete estimular setor hoteleiro em regiões “vocacionadas. Modelo é comum nos EUA
João Batista [editores@diarinho.com.br]
Sindisol vê risco de “superoferta” de hospedagem derrubar preços e qualificação
(fotos João Batista)
Sindisol vê risco de “superoferta” de hospedagem derrubar preços e qualificação (Foto: João Batista)
Proposta de alteração no Plano Diretor de Balneário Camboriú prevê um modelo de ocupação que permite áreas destinadas a hotéis dentro de prédios residenciais. Representantes do setor hoteleiro veem a medida como positiva, mas também há preocupação dos hotéis mais tradicionais com uma “superoferta” de hospedagem que segundo eles poderia derrubar os preços e desqualificar os serviços.
A proposta ainda é discutida no processo de revisão do Plano Diretor, que deve ser retomado em abril. A ideia é impulsionar tanto o mercado imobiliário como o setor de turismo, atraindo ...
A proposta ainda é discutida no processo de revisão do Plano Diretor, que deve ser retomado em abril. A ideia é impulsionar tanto o mercado imobiliário como o setor de turismo, atraindo visitantes mais endinheirados. Atualmente, Balneário Camboriú possui uma hotelaria sem grandes redes, formada por 110 estabelecimentos que somam cerca de 25 mil leitos.
A cidade já é considerada uma das mais verticalizadas do país, com 57,2% da população morando em prédios e endereço dos maiores arranha-céus do Brasil. O modelo para implantação de hotéis em condomínios é novo no país e visa incentivar a construção de novos estabelecimentos de hospedagem em regiões “vocacionadas” da cidade.
“Em algumas regiões haverá um incentivo vocacionado tanto às empresas hoteleiras quanto às construtoras, ou seja, haverá um índice máximo de capacidade para implantação do hotel, e não haverá cobrança de outorgas onerosas”, adianta o secretário de Planejamento, Rubens Spernau.
A proposta é também ampliar o potencial construtivo em projetos de uso misto, estimulando a fachada ativa de novos prédios, com comércios que se integrem aos passeios públicos. “Mas o potencial construtivo da parte residencial, que é aquela que adensa e cria um ambiente mais difícil de enfrentamento na questão da mobilidade, não será ampliado”, ressalta o secretário.
Um projeto com essa ideia é do novo Hotel Marambaia, que se tornará um complexo com uso hoteleiro, comercial e residencial. O empreendimento da FG, apresentado em 2023, prevê preservar o prédio antigo com a fachada histórica do hotel, abrigando praça, bares e restaurantes. Já o prédio dos fundos será demolido e dará lugar a um arranha-céu com hotel de alto padrão e torre residencial.
Outra medida de estímulo à rede hoteleira é a proposta pra alterar a restrição no tamanho mínimo do terreno pra implantação de hotel. O critério, que hoje é de 2 mil m², ficaria a partir de 750 m² de terreno. “Isso também vai possibilitar que BC tenha mais empreendimentos hoteleiros, além de ampliar o atendimento da demanda que vem a negócios”, acrescenta Rubens. As mudanças devem ser apresentadas em audiências públicas a partir de abril, antes do projeto ir à câmara.
Especialista prevê modernização da rede e valorização de imóveis
Para o especialista em mercado imobiliário de alto padrão, Renato Monteiro, a mudança no Plano Diretor vai impactar positivamente, com BC ganhando uma rede hoteleira moderna, como acontece na construção civil, reconhecida pelos edifícios sofisticados. “Com opções de hospedagens que vão atender as necessidades de um público mais exigente, a cidade vai atrair um turismo mais qualificado e com maior poder aquisitivo, o que reflete diretamente no mercado imobiliário, inclusive, com valorização dos imóveis que pode chegar a até 200% nos próximos cinco anos”, acredita.
Ele observa que a cidade também terá chance de qualificar o turismo, atraindo visitantes e atendendo melhor os turistas de negócios e eventos.
“O público de classes A e A++, diferentemente de outras classes sociais, não costuma alugar hospedagens de casas e apartamentos de temporada ou por aplicativos. Eles preferem toda a comodidade que um hotel oferece”, comenta.
Sindisol defende sustentabilidade
O Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Balneário Camboriú e Região (Sindisol) demonstra preocupação com a proposta. Para o presidente da entidade, Rodrigo Vieira, do Hotel Vieiras, a medida precisa ser pensada de forma sustentável pra não prejudicar os hotéis já existentes.
“Depende da forma como será feito, se fizer de forma liberada para qualquer edifício, vamos ter um aumento considerável de oferta e, consequentemente, teremos uma queda geral na diária média do destino, tornando os negócios inviáveis, assim como aconteceu no Rio de Janeiro no pós-copa”, avalia.
Para ele, a medida será “saudável” para a hotelaria se o modelo misto for onde já tem hotéis. Rodrigo explica que o setor não enfrenta defasagem de leitos, com ocupação média anual de 60%. Ele destaca que o percentual é resultado de anos de luta do setor contra a sazonalidade.
“Um aumento na oferta sem aumentar a demanda no destino vai causar um problema que pode ser irreversível. O Sindisol está lutando no Plano Diretor para que isso seja feito de maneira sustentável para o destino de Balneário Camboriú continuar crescendo e ser um dos melhores do país”, comenta.
A construção de novos hotéis seria necessária se a ocupação atual estivesse acima dos 80%, segundo avalia Rodrigo. Para ele, a implantação da medida hoje atenderia apenas os construtores e prejudicaria os estabelecimentos tradicionais da cidade. Para o sindicato, também pode haver uma desqualificação dos serviços.
O empresário ressalta que a hotelaria de BC tem muita qualidade, com avaliações nos melhores canais de venda, onde a média fica acima da nota 7,5. “Os hotéis, em sua maioria, são de empresas familiares que cuidam e sempre estão se renovando para se manter atualizados. É este um dos motivos que fazem que BC seja muito procurada, pois os clientes sabem que encontram serviços de qualidade”, defende.
Modelo nos EUA
Outros representantes do setor veem com bons olhos a proposta. De acordo com o presidente do Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil (Fohb), Orlando de Souza, o modelo pra BC é novo no Brasil, mas vem sendo usado em mercados mais maduros da hotelaria, especialmente nos Estados Unidos.
O conselheiro da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), Osny Maciel Junior, hoteleiro em BC, reforça que a proposta será uma oportunidade para renovação do setor, principalmente para atender a demanda crescente do turismo de negócios.
“Os estabelecimentos terão a necessidade de se atualizar, porque a cidade deixou de ter apenas o turismo de sol e mar e tem que receber também o público corporativo devido à abertura do Centro de Eventos”, opina Junior.
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