Justiça
Ex-cover de BC da Dona Hermínia tenta se reinventar após processo
Kauan Quadros foi proibido de fazer o personagem de Paulo Gustavo e teve a conta no Instagram derrubada
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]
Há um ano, a rotina do gaúcho Kauan Quadros era desfilar pelas ruas de Balneário Camboriú, distribuindo sorrisos e posando para selfies, vestido como Dona Hermínia, a personagem icônica do saudoso Paulo Gustavo. Mas sua meteórica carreira de cover e influencer digital sofreu um revés quando o viúvo de Paulo, Tales Bretas, entrou com um processo contra Kauan no ano passado, o proibindo de usar o personagem e levando o Instagram a derrubar sua conta, que tinha 220 mil seguidores.
Sem trabalho e cheio de dívidas, ele teve que se mudar para Barra Velha, onde uma amiga o acolheu. Em sua última postagem, em 18 de janeiro, Kauan fez um apelo aos seguidores pedindo doações via pix.
O DIARINHO conversou com Kauan por vídeo porque o artista se mudou recentemente para Canela (RS). “Tive que vir pra cá para tentar sair dessa situação. Em Balneário não tive oportunidade. Até o apê em que morava a proprietária preferiu locar por temporada”, lamenta.
No verão passado, graças à viralização dos vídeos no Instagram e Tik Tok, Kauan começou a ser chamado para impulsionar empreendimentos, como abertura de lojas, lançamento de produtos, eventos em confeitarias, bingos, inclusive no Dia das Mães, já que a personagem tem um forte apelo familiar e com a terceira idade. A visibilidade chamou a atenção de investidores que o contrataram, em julho, para fazer uma apresentação em Goiânia. Sem pestanejar, ele aceitou, mas a uma semana da estreia, uma decisão judicial da comarca local o impediu de manter o espetáculo.
“Quando fomos para lá, o advogado da agência garantiu que já tinha conversado com a família do Paulo Gustavo e chegado a um acordo. Só quando estava ensaiando soube que não havia acordo e tive que voltar sem pagamento algum”, relata. Segundo o advogado de Kauan, Mattheus Urbanek, o contrato estipula um pagamento mensal de R$ 15 mil e uma multa milionária em caso de quebra da decisão. “A empresa nem tem capital para pagar tal quantia, mas vamos pedir que pague o período em que esteve em vigor, já que Kauan perdeu a fonte de renda”, afirma.
Mattheus conta que fazem parte do processo movido pela família de Paulo Gustavo folders promocionais de eventos com Kauan na capa, que teria sido oferecido ao empresariado de Goiás. Kauan alega que não tinha conhecimento deste material. “Chegamos a fazer uma apresentação fechada, com outros personagens, mas fomos intimados novamente pela justiça e não pudemos dar continuidade”, explica.
O outro lado da história
O empresário L.V., de 35 anos, foi um dos principais investidores no espetáculo que acabou não acontecendo em Goiânia, e alega que a história não é bem assim como conta o artista. Ele disse que conheceu Kauan quando o contratou para fazer publicidade para sua empresa de consultoria jurídica. “Um amigo de Goiânia viu o vídeo e sugeriu fazer um espetáculo em tributo ao Paulo Gustavo. Para isso, foi aberta uma empresa no nome do Kauan chamada Stargen”, conta. Ele diz que, na época, Kauan já sabia do processo, por isso o espetáculo deveria ter outros personagens.
“Eu conversei com a advogada do Thales Bretas que concordou em abrir mão do pagamento da multa diária, caso ele parasse de interpretar os personagens do Paulo Gustavo, já que a família dispõe da propriedade intelectual, mas ele continuou descumprindo a decisão. Daí veio outra decisão o impedindo de se apresentar. Só nessa brincadeira perdi R$ 100 mil”, alega.
Enquanto sua situação não se resolve, Kauan está se virando como pode na antiga função de promotor de marketing, mas sonha, um dia, poder voltar a atuar. “Eu me apaixonei pela vida artística. É uma pena que a família do Paulo não tenha visto minha performance como uma homenagem, eu era muito fã dele”, afirma. Ele lembra que a mudança profissional aconteceu de forma espontânea, quando se vestiu como a personagem numa festa a fantasia. “Nada foi premeditado, mas confesso que nada sabia sobre direito autoral”, reconhece.
R$ 100 mil na justiça e proibição de uso da personagem
Kauan conta que tomou conhecimento do processo de Thales Bretas no site Jusbrasil, já que nunca estava em casa para receber as notificações extrajudiciais que foram se acumulando na portaria de seu prédio. O perfil que tinha o nome da personagem de Paulo Gustavo já tinha sido derrubado e Kauan usou o seu pessoal (@kauanquadrosofc), sem os vídeos virais, com os novos personagens, como Dona Cezinha, inspirado em sua mãe. Mesmo assim, o perfil foi derrubado em 25 de outubro de 2023. Hoje ele utiliza o perfil @kauanquadrosofc7, com 20 mil seguidores, menos de um décimo de engajamento do perfil anterior.
Como acredita não ter descumprido nenhum termo do Instagram, Kauan pediu a ajuda jurídica de Matteus para recuperar a conta, que teve uma liminar favorável em novembro último através de processo movido contra a Meta, dona do Instagram e Facebook. A juíza Luciana Biagio Laquimia, da 17ª Vara Cível de SP, deu um prazo de 15 dias para restabelecimento da conta, e estipulou uma multa diária de R$ 500 até o limite de R$ 50 mil. Mas até agora, três meses depois, a Meta não só não cumpriu a decisão judicial, como a contestou.