Empresários da cadeia do setor portuário relatam preocupação com a demora da Mada Araújo, vencedora do arrendamento provisório do Porto de Itajaí, em iniciar as operações no terminal. Para eles, a empresa está “enrolando” e com dificuldades financeiras na instalação dos equipamentos necessários pra retomada das movimentações. A Mada Araújo classificou as alegações como “fofoca”.

No dia 15 de janeiro, a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) deu mais 30 dias para a arrendatária apresentar o Plano Básico de Implantação (PBI), que lista os investimentos e melhorias na preparação para as operações. Considerando ainda o prazo de alfandegamento, a empresa estima dar início às operações em até 100 dias.

Para empresários do setor, a demora prejudica a retomada de linhas. Um deles comentou que essa é uma “época boa” para assumir, fazendo referência ao início das obras de adequação no cais da Portonave, que abriria espaço pra que algumas linhas pudessem ser redirecionadas pra Itajaí. O empresário informou que o terminal navegantino vai operar com metade do cais, dando prioridade para navios da MSC, dona do grupo.

Segundo ele, duas linhas de outros armadores já estariam indo pra Imbituba pra não ficar na “fila” em Navegantes, enquanto o Porto de Itajaí segue parado. A Portonave negou essas afirmações, esclarecendo ter regras claras para o recebimento de navios.

Já o diretor-executivo da Mada, Marco Antônio de Araújo, rebateu as alegações dos empresários apontando que eles estão “desinformados”. “Desconhecem e não sabem o que falam. Como sempre, fofoca. Tanto o ministério [dos Portos] e a superintendência [do Porto de Itajaí] estão a par”, disse.

Marco afirmou que houve reuniões  com representantes do governo federal, prefeitura, câmara de vereadores, estado e setores portuários. “Não entendemos essas colocações desses desinformados. Tudo isso é lamentável. Estamos trabalhando sério e no prazo”, afirma.

Sobre a preparação do porto pra retomada das operações, o diretor informa que melhorias seguem em andamento, como reforma do pátio e instalação de cabeamento, galerias e tomadas para contêineres refrigerados, além de pinturas internas e reparo de vazamentos. Defensas e cabeços pra proteção e atracação de navios terão a colocação ainda nesta semana.

Ainda segundo o executivo, o PBI está praticamente concluído e a documentação do alfandegamento está em finalização. A empresa diz que a entrega de equipamentos está dentro do cronograma e que os equipamentos internos já estão todos revisados. “Tudo devidamente relatado e apresentado ao Ministério e à Superintendência quase que diariamente”, frisa Marco.

O contrato de arrendamento com a Mada foi assinado em 15 de dezembro. Desde a publicação do ato, em 20 de dezembro, a empresa está autorizada a trabalhar no porto. A superintendência informou que a preparação vem ocorrendo dentro do prazo normal considerando as documentações necessárias.

O porto confirmou que o presidente Lula da Silva (PT) virá pra Itajaí após o Carnaval, ainda no primeiro trimestre, pra marcar a retomada das operações e assinar a renovação da autoridade portuária municipal por 25 anos. Lula deve falar do edital para o arrendamento definitivo. Conforme a superintendência, o presidente virá quando o porto já estiver com navios em operação.

Avanços foram discutidos em Itajaí por secretário nacional

Na semana passada, o secretário nacional de Portos, Alex de Ávila, esteve em Itajaí pra reuniões sobre o futuro do porto. Um encontro foi com o superintendente do Porto de Itajaí, Fábio da Veiga, e o vice-prefeito Marcelo Sodré (PDT). No outro momento, participaram o diretor da Mada Araújo, o secretário estadual de Portos, Robison Coelho, o presidente da Intersindical dos Portuários, Ernando Alves Júnior e parlamentares.

Na reunião, a arrendatária reforçou que trabalha com empenho e dedicação pra retomada das operações. “Posso assegurar a todos os presentes, à sociedade num todo, aos trabalhadores portuários e todo o seu trade, que tudo está sendo pensado da melhor forma e apreço por Itajaí, no que tange ao retorno de cargas de contêineres”, garantiu Marco Antônio.

O secretário de Portos comentou que o contato com a empresa e a superintendência mostrou que o processo está avançando. “Estaremos acompanhando o tema de perto e cobrando para que a empresa vencedora do certame avance, cumpra com seus prazos e, no menor período de tempo, esteja com o Porto de Itajaí a pleno vapor”, disse.

Secretário estadual demonstra preocupação

O secretário estadual de Portos, Robison Coelho, informou que discutiu a preocupação sobre a retomada do porto com o secretário Alex Ávila e com a Mada Araújo há duas semanas. Ele ressalta que a espera agora é pelo plano básico. “Eles vão precisar apresentar todos os investimentos, de onde vem a fonte de recursos, e se eles têm essa condição”, observa.

A outra espera é pelas questões burocráticas que envolvem licenças e o alfandegamento, mas a volta das cargas também depende do fechamento de contratos com navios. Robison lembra que receber cargas conteinerizadas são processos mais difíceis, porque a grande maioria dos armadores já tem contratos fechados com algum porto.

“Também estamos bastante preocupados mas, neste momento, precisamos aguardar a apresentação desse plano básico”, concluiu.

Portonave prepara cais para navios de 400 metros

A obra de adequação da infraestrutura do cais da Portonave pra receber navios de até 400 metros de comprimento iniciou no dia 5 de janeiro. Em comunicado, a empresa informou que desenvolveu um planejamento criterioso com seus parceiros e faz ações para reduzir os possíveis impactos da obra, priorizando o atendimento ao cliente.

“A obra segue seu cronograma e a operação do Terminal está em plena atividade, sem qualquer perspectiva de paralisação”, divulgou.

O projeto tem investimento de quase R$ 1 bilhão e vai se estender até 2025. Sobre as regras para navios durante as obras, a empresa negou privilégios a armadores.

“Todos os armadores seguem as mesmas regras para atracação, que é por ordem de chegada na boca da barra. A exceção são as linhas de cabotagem, que possuem prioridade devido à operação em dias fixos nos portos brasileiros”, esclareceu.