Coleta seletiva tem contrato milionário não fiscalizado
Já as cooperativas de trabalhadores, que fazem trabalho social e ambiental, relatam descaso por parte da prefeitura
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]
Itajaí paga R$ 4 milhões ao ano pra Ambiental recolher lixo reciclável, mas serviço gera queixas
(fotos: Joca Baggio)
Residencial buscou solução com recicladores pra não depender da Ambiental
Há 10 anos a Cooperfoz arrecadava R$ 70 mil por mês com a reciclagem vinda da Ambiental, mas atualmente valor não chega a R$ 30 mil
Marli pede auxílio para buscar recicláveis nas empresas
Há poucos dias, a Reciclavale perdeu a Besta usada para a coleta de resíduos recicláveis
Temporada passada Ambiental diz ter arrecadado 700 toneladas de recicláveis
As reclamações sobre as falhas na coleta de lixo reciclável em Itajaí têm sido cada vez mais frequentes e os problemas se intensificaram com a chegada do verão. A maior parte das queixas é de moradores do centro, Vila Operária, Fazenda e Cordeiros. No entanto, há problemas pontuais em algumas ruas da Ressacada, Murta, Cidade Nova e São Vicente. A Ambiental, concessionária dos serviços de coleta e destinação do lixo na cidade, alega que os problemas ocorrem pela “desinformação” dos usuários com relação às mudanças nos horários de coleta.
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Cláudio mora no São Vicente e conta que é comum ele retirar o lixo reciclável na noite anterior ao dia estipulado pela Ambiental e o caminhão não passar conforme a programação anunciada ...
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Cláudio mora no São Vicente e conta que é comum ele retirar o lixo reciclável na noite anterior ao dia estipulado pela Ambiental e o caminhão não passar conforme a programação anunciada. “Aí o lixo fica de uma semana para outra, mas geralmente os catadores passam, rasgam os sacos e espalham tudo o que não querem pelas calçadas e meio-fio”, lamenta.
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Já uma moradora da rua Expedicionário Marquetti, no Fazenda, conta é comum o caminhão deixar de passar e a família acaba tendo que misturar o lixo reciclável com o orgânico porque não tem onde armazenar. Elizete, da Vila Operária, e Sergio, do São João, relatam já terem passado por esse tipo de problema nas últimas semanas também.
Na Ressacada, uma moradora da rua Irene Bonanomi da Silva conta que além do caminhão da coleta seletiva não ter passado na segunda-feira, nem a coleta do lixo comum passa desde a semana passada. “Provavelmente por causa da obra que bloqueou a rua e impediu o acesso dos caminhões. Mas poderiam ter organizado uma logística deixando o caminhão na rua mais próxima e uma equipe ir a pé para recolher o lixo. Provavelmente será a semana toda assim com o lixo acumulado, moscas e mau cheiro”, lamenta a moradora.
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O que poucos usuários sabem é que o valor do serviço da coleta dos resíduos recicláveis representa 9% do valor total da tarifa. Ou seja, um morador do bairro São Vicente que paga R$ 221 por ano de taxa de lixo de um apartamento de dois quartos, deste valor R$ 19,92 são para os serviços da coleta reciclável. Já o município paga mensalmente à Ambiental o valor de R$ 314.224,40 para realizar a coleta de recicláveis, um contrato com cifras que quase chegam a R$ 4 milhões anuais.
Condomínio encontrou solução pra insuficiência do serviço
Residencial buscou solução com recicladores pra não depender da Ambiental
A síndica do condomínio residencial Vistalegre, no bairro Cordeiros, Irene Sobanski, conta que precisou buscar uma solução alternativa porque os serviços oferecidos pela Ambiental não atendem às necessidades do condomínio. “Temos 272 apartamentos, cerca de 850 moradores e uma produção muito elevada de resíduos recicláveis. Tentei negociar com a Ambiental para que eles fizessem a coleta três vezes na semana, mas foram irredutíveis”, relata a administradora.
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Irene abriu mão dos serviços da concessionária e fez um acordo com um casal de recicladores que coleta todos os resíduos recicláveis três vezes na semana. “Aqui no condomínio busco orientar os moradores com relação à separação correta do lixo, mas vejo que falta incentivo na cidade para essa política,” conta.
A Ambiental diz que a coleta dos resíduos recicláveis é realizada uma vez por semana nas residências em geral e duas vezes por semana nos condomínios e outros grandes geradores.
Cooperativas de recicladores enfrentam abandono governamental
Há 10 anos a Cooperfoz arrecadava R$ 70 mil por mês com a reciclagem vinda da Ambiental, mas atualmente valor não chega a R$ 30 mil
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O não cumprimento dos horários estipulados pela responsável pelo serviço de coleta e a ação dos catadores que buscam resíduos recicláveis nas lixeiras domésticas acaba também impactando os ganhos dos recicladores associados à Cooperativa de Trabalho dos Coletores de Materiais Recicláveis da Foz do Rio Itajaí (Cooperfoz). A cooperativa realiza a triagem dos resíduos recicláveis vindos através da coleta seletiva. “Só que os catadores acabam retirando todos os produtos de maior valor agregado e chegou o momento que esse material baixou tanto de valor que ficou inviável depender apenas desses materiais”, diz o presidente Jonatas de Souza.
Para se ter uma ideia das perdas, há 10 anos a Cooperfoz arrecadava R$ 70 mil por mês com a reciclagem do material oriundo da coleta da Ambiental e hoje esse valor não chega a R$ 30 mil. Esses recursos, segundo Jonatas, são usados para pagar despesas e dívidas da cooperativa e o restante é dividido entre os cooperados. “Isso faz com que cada um receba entre R$ 800 e R$ 1200 em meses muito bons. Mas no geral não passa dos R$ 1000”, acrescenta.
Ele conta que as dívidas da Cooperfoz se acumulam e que a diretoria da cooperativa vem buscando já há alguns anos auxílio do município por meio de subvenções, parcerias, mas diz que, infelizmente, os dirigentes do município não olham para as cooperativas com um olhar profissional. Jonatas acrescenta que essa realidade é resultado de uma série de fatores, entre eles a falta de fiscalização eficiente do contrato firmado entre prefeitura e Ambiental e a falta de comprometimento da empresa com a cooperativa. “Os problemas somente serão resolvidos na hora em que houver uma parceria entre o município, a Ambiental e as cooperativas, e uma atuação incisiva do Ministério Público na fiscalização”, opina.
O município, por sua vez, diz que há um profissional que é fiscal deste contrato e acompanha, periodicamente, o trabalho da empresa em diferentes pontos da cidade. Essa ação é realizada de maneira aleatória para verificar a eficácia do serviço prestado.
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"Não queremos migalhas, queremos ações efetivas do poder público"
Há poucos dias, a Reciclavale perdeu a Besta usada para a coleta de resíduos recicláveis
A Reciclavale sobrevive da comercialização do lixo coletado do programa municipal Cata Treco. Só que a entidade diz que sofre com a falta de condições para poder executar seu trabalho em decorrência do descaso e abandono por parte do poder público. A presidente da entidade, Marli das Dores Martins, explica que mesmo a cooperativa tendo assinado um termo de cooperação com a secretaria de Obras e a entidade sendo declarada de utilidade pública e parceira no programa Cata Treco, não recebe nenhum subsídio do município e nem auxílio para o recolhimento do lixo reciclável, nem para a retirada nas empresas que fazem as doações e nem para fazer o transporte dos galpões da Secretaria de Obras para o galpão da cooperativa, no bairro Canhanduba.
Para agravar a situação, o único veículo que a cooperativa tem é uma caminhonete Kia Besta ano 2000 que já rodava em péssimo estado, até que na última semana foi atingida por um caminhão que prestava serviços à prefeitura. O automóvel ficou totalmente destruído.
Para continuar executando o trabalho a que se propõe e garantir o sustento das 16 pessoas associadas à cooperativa, a presidente da Reciclavale conta que vem tentando que a secretaria de Obras auxilie a entidade com a cessão de um caminhão de pequeno porte ou caminhonete, ou que o município coloque um veículo para auxiliar os trabalhos da cooperativa.
A recicladora diz que o município alega que não há forma legal da Reciclavale ser paga pelos trabalhos executados. “Se eles não encontram formas de nos remunerar, como é feito em muitos municípios, então que nos auxiliem dando condições para que possamos trabalhar e buscar os resíduos junto às empresas com quem mantemos contrato. Não queremos migalhas, queremos condições para executar nosso trabalho”, desabafa.
Ela conta que hoje a cooperativa paga cerca de R$ 5,5 mil por mês de frete e acumula dívidas que ultrapassam R$ 25 mil em impostos, prestadores de serviços e até de terceirização de frete. “Temos três opções: pagar frete e as dívidas, dividir o lucro entre os associados ou pagar impostos. Mas reciclador precisa sobreviver”, argumenta.
Marli relata que teve diversas reuniões com o secretário de Obras e com o prefeito Volnei Morastoni (MDB) na tentativa de conseguir uma subvenção do município, mas acabaram em vão. “Chegaram a exigir que comprovássemos a importância da cooperativa para o município nesses 20 anos que atuamos ininterruptamente, para receber R$ 20 mil por mês. Isso é inadmissível. O poder público gasta muito mais que isso com coisas de menor relevância”, desabafa. Marli diz que a cooperativa não está pedindo coisas impossíveis: apenas condições de trabalho.
O município de Itajaí rebate dizendo que apoia o trabalho das cooperativas de reciclagem da cidade. Em nota, o gabinete diz que o governo municipal cedeu o terreno onde a Cooperfoz e a Reciclavale estão instaladas hoje. Além disso, segundo o documento, no contrato de concessão com a Ambiental está previsto que a empresa deve destinar gratuitamente os materiais recicláveis recolhidos na coleta seletiva para a Cooperfoz e que a Ambiental também entrega os eletroeletrônicos e alguns materiais recebidos no PEV para destinação por meio da Reciclavale. Os eletrodomésticos recolhidos pelo Cata Treco são destinados a esta cooperativa.
Já as pessoas que tiverem interesse em ajudar a Reciclavale podem entrar em contato pelo número (47) 99655 1547.
Marli pede auxílio para buscar recicláveis nas empresas
Ambiental diz que serviço é eficiente
Temporada passada Ambiental diz ter arrecadado 700 toneladas de recicláveis
Procurada pela reportagem do DIARINHO, a Ambiental diz que não tem registros de queixas do serviço. “A coleta seletiva está ocorrendo normalmente na cidade de Itajaí, de segunda-feira a sábado, em dois turnos, das 6h às 22h35. Nas casas, a coleta ocorre uma vez na semana e nos condomínios duas vezes na semana”, diz a nota oficial.
A empresa justifica que as reclamações acontecem por mudanças no esquema da coleta passando das 8h para as 6h. Essa mudança aconteceu nos bairros Ressacada, Campeche, KM 12, Paciência, centro, Vila Operária, Dom Bosco, Cabeçudas, Praia Brava, Cordeiros, Imaruí, São João, São Vicente, Cidade Nova e Cordeiros.
“O que pode estar acontecendo é que talvez esses moradores estejam levando seus resíduos após as 6h, depois do caminhão ter passado pela rua, mesmo que a Ambiental tenha visitado os imóveis, contratado carro de som e também divulgado as informações para a imprensa”, alega a nota.
A empresa informa ainda que entre dezembro de 2022 e fevereiro de 2023 foram recolhidas quase 700 toneladas deste tipo de resíduo. O número representa um acréscimo de mais de 50% na comparação com a temporada anterior, quando foram coletadas 462,59 toneladas no mesmo período.
A secretaria de Obras disse que não recebeu nenhuma reclamação em relação à coleta de resíduos nos últimos meses. Os cidadãos podem registrar reclamações/sugestões sobre a coleta de lixo na Ouvidoria pelo telefone 0800.646.4040, WhatsApp (47) 98819-0955, e-mail ouvidoria@itajai.sc.gov.br ou por meio do aplicativo Conecta.í. Também é possível fazer solicitações pelos canais de contato da Ambiental.
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