Covardia
Drag queen é agredida a socos e chutes na orla
Ataque foi no fim da Marcha da Diversidade. Agressores não foram identificados
Franciele Marcon [fran@diarinho.com.br]
Uma drag queen de 36 anos foi agredida por quatro homens, por volta das 19h de domingo, no final da Marcha pela Diversidade de Balneário Camboriú. Vídeos mostram a vítima caminhando pela avenida Atlântica, quando na altura da rua 1801 foi agredida pelo bando.
Nas imagens, a drag “Joégua”, que é a personagem encarnada pelo administrador de imóveis Denis Cristyan de Vito, aparece andando na direção contrária do grupo de rapazes. Ao se encontrarem, um dos homens fala algo para a drag, enquanto o outro já dá um chute no peito da vítima.
Jo cai no chão e passa a ser agredida covardemente. Ela leva pisão e chutes na cabeça, além de pontapés na barriga. A agressão foi bem em frente a um quiosque movimentado da avenida Atlântica.
Os frequentadores do quiosque e pessoas que estavam caminhando socorreram a vítima, enquanto tentavam afastar os agressores. A vítima aparece se levantando e um agressor volta a dar um chute violento em seu peito.
Os agressores retornam para a frente do quiosque e agridem novamente a drag, com mais chutes e socos. Uma mulher que passava de carro filmou a cena. “Estão batendo, não tem ninguém para separar?”, questiona.
Os covardes voltam a derrubar a drag e batem novamente nela. “Olha o ódio... estão batendo no cara...”, fala a mulher no vídeo. Um dos agressores ainda pega a capa usada pela drag, que é em forma de arco-íris, e a rasga ao meio. Após o ataque, os agressores saem andando calmamente pela orla.
A vítima foi acudida pelos moradores que acionaram a Polícia Militar. “Eu estava passando na hora que começaram a agredir. Eu estava no outro lado da rua, atravessei e fui ajudar, tirar do meio da rua, porque não tinha ninguém ajudando. Arrancaram a peruca, derrubaram no chão, deram um chute na cabeça. Deu dó”, contou ao DIARINHO uma das testemunhas.
“Os caras batiam mesmo caída no chão, e ainda um pessoal gritava que merecia apanhar. Falavam que tinha que apanhar mesmo, que era isso que merecia... Derrubaram novamente e chutavam a cabeça”, narra a testemunha.
A vítima foi socorrida pelo Samu e levada para atendimento médico, onde recebeu pontos na cabeça. Segundo a PM, a drag disse desconhecer os agressores e o motivo das agressões. Um boletim de ocorrência foi registrado, mas os agressores ainda não foram localizados.
“Pensei que fosse morrer”, desabafa artista
Ao DIARINHO, Denis contou que mora em Curitiba (PR) e veio para a Marcha da Diversidade e para se apresentar como “Joégua” na boate The Grand, personagem que encarna há 16 anos.
Denis confirmou ao DIARINHO que a agressão foi totalmente gratuita. Ele explicou que o grupo desceu de um carro e fez uma encenação como se Denis tivesse falado algo que pudesse motivar a agressão.
No entanto, não houve discussão. “Eles desceram e já deram um chute em meu peito. Eu caí no asfalto e bati a cabeça. Fiquei tonto, no chão, enquanto eles chutavam minha cabeça e faziam esganaduras em meu pescoço”, conta.
Em uma tentativa de justificar a agressão, o grupo alegava que Denis tinha chamado alguém de macaco. “Eles falavam como se eu tivesse dito algo para motivar a violência. Gritavam para as pessoas pra pensarem que eu havia começado uma briga. Eu apanhando e sem entender nada”, conta. “Pensei que fosse morrer. Muitas pessoas sem entender o que estava acontecendo. Até que umas meninas perceberam que era maldade e mentira”, completa.
Denis estava sozinho porque os amigos ficaram na Marcha e ele seguiu para casa pra descansar, porque à noite faria o show na boate The Grand.
Denis promete levar o caso à Polícia Civil e à Justiça. “Pois poderia não estar mais aqui”, conta, falando que espera que a polícia chegue até os agressores e eles paguem pela violência.
Esta foi a segunda agressão sofrida na vida. A primeira aconteceu em sua cidade natal. “Infelizmente, não foi um privilégio em BC”, desabafou.
Repúdio
A Associação das Famílias de Pessoas LGBTQIAPN+ - AFAM Diversa e demais entidades organizadoras da parada de BC manifestaram repúdio aos atos de violência. “Trata-se de uma clara demonstração de homofobia, direcionada a todos os participantes desse evento. Ressaltamos que a Marcha pela Diversidade foi concebida como um espaço de expressão pacífica, respeitosa e inclusiva, onde se valoriza e celebra todas as formas de diversidade”, disse a nota. A entidade já encaminhou os vídeos das agressões às autoridades, para que identifiquem e responsabilizem os agressores. A associação está prestando apoio à vítima.