Educação ambiental

Cientista famosa ensina a garotada da rede pública de Balneário Camboriú

Joana passou seis semanas na Amazônia estudando o impacto das partículas de poeira que vêm do Deserto do Saara

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Renata Rosa
Especial para o DIARINHO

Alguém poderia imaginar que a Amazônia, que tem a maior biodiversidade do mundo, precisa de um recurso que vem do outro lado do Atlântico para manter as árvores saudáveis? E que este plus nutricional vem de um lugar tão seco quanto o Deserto do Saara? Pois é esta relação de cooperação intercontinental o tema de pesquisa que deu reconhecimento internacional à cientista Joana Rizzolo, 42 anos, que hoje ensina a garotada do Caic do bairro dos Municípios, em Balneário Camboriú. Ela foi pioneira em coletar dados na imensa torre instalada em plena floresta, em 2015, a uma altura de 320 metros, equivalente a um prédio de 75 andares.

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“Eu levava uma hora e meia para subir até lá e trocar os filtros. Como fui a primeira cientista a trabalhar nessa torre, também fazia coleta para outros pesquisadores internacionais que pesquisam a Amazônia. A primeira vez que desci fiquei meio mareada, depois, foi só contemplação”, revela. Para chegar à torre, instalada numa reserva ambiental, ela pegava uma caminhonete 4x4 para encarar a estrada de chão, uma hora de barco e 15 minutos de caminhonete. O suporte era dado pelo Instituto Nacional de Pesquisa Amazônica (Inpa).

O resultado da pesquisa resultou no artigo “Nutrientes solúveis de ferro na poeira do Saara sobre a floresta amazônica central”, publicado em 2016 na revista científica Atmospheric Chemistry and Physics, publicada pela União Europeia. Joana conta que a floresta depende destes nutrientes nas altas camadas da atmosfera, porque o solo é pobre em sais minerais. “As raízes das árvores são aparentes justamente para captar estes nutrientes”, ensina.

Joana é doutora em engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia e até os 35 anos se dedicou à carreira de cientista graças às bolsas de estudos na universidade federal. Formada em Biologia em Pelotas (RS), em 2010 ela se mudou para Curitiba onde emendou mestrado e doutorado pela UFPR. Sua tese de doutorado, também pioneira, foi produzir aguardente de batata doce (bioetanol), que chegou a ser patenteado devido ao ineditismo do processo.

 

Contato com trabalhadores e ribeirinhos foi enriquecedor

Em Curitiba, a cientista participou ativamente de protestos contra o consumo de carne e utilização de cobaias  (foto: Arquivo pessoal)
Em Curitiba, a cientista participou ativamente de protestos contra o consumo de carne e utilização de cobaias  (foto: Arquivo pessoal)

 

A experiência na Amazônia só foi possível porque buscou a orientação do professor Ricardo Godoy, do departamento de Engenharia Ambiental, que fazia pesquisa na área de poluição atmosférica. Ele lhe deu duas opções de pós-doc: fazer pesquisa na Antártida ou na Amazônia. Como já não era muito fã de frio, nem pestanejou. “Nunca tive no horizonte a Amazônia, mas quando me deparei com a possibilidade de passar uma temporada lá, o encanto foi instantâneo. Além de conhecer a floresta, também tive contato com pesquisa de ponta”.

Joana disse que, por estar focada na pesquisa, não conheceu tanto a floresta quanto gostaria. Uma das coisas que mais lhe marcou foi o contato com os trabalhadores que faziam o serviço pesado do centro de pesquisa e os ribeirinhos. “Eles ficavam admirados por eu não comer carne, já que a caça faz parte de sua cultura. Um deles me confidenciou que o único bicho que parou de caçar foi o macaco, pois certa vez um deles chorou ao se ver encurralado”, relata.

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Aliás, o veganismo não só virou tema de debate nas conversas nas pausas da pesquisa como mudou até o cardápio do centro de pesquisa. “Quando meu professor avisou que iria uma pesquisadora vegana, eles perguntaram o que incluir no cardápio e eu falei o tradicional arroz com feijão, farinha de mandioca, legumes, salada e frutas. Por minha causa, tinha muitas frutas no café da manhã todo dia, o que acabou melhorando a alimentação de toda a equipe”.

 

Veganismo se tornou bandeira contra a exploração animal

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Joana também dá oficinas de culinária vegana (foto: divulgação)
Joana também dá oficinas de culinária vegana (foto: divulgação)

 

A empatia pelos animais e a decisão de não fazer mais parte do processo de exploração capitalista surgiu logo na graduação, em 2006. Na época, Joana não sabia que era possível não consumir nenhum alimento de origem animal, por isso se tornou vegetariana. Mas em 2010, quando passou a frequentar ONGs como a ONCA, não só virou vegana como ativista.

Pra conscientizar a sociedade sobre o sofrimento imposto aos animais ela participou de protestos e panfletagem nas ruas da capital paranaense e também ministrou oficinas de culinária em parceria com a nutricionista Bruna Nascimento. Entre as iguarias que já ensinou estão fermentados como o iogurte de coco, a kombucha, o kefir de água, além de leites e cremes vegetais que substituem os derivados do leite de vaca nas receitas.

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A vinda para SC aconteceu de forma natural, já que o atual companheiro tem família em BC. Depois de seis anos lecionando numa faculdade particular de Curitiba, a intenção era buscar estabilidade financeira através de concurso público. “Ficamos um ano focados em estudar e felizmente passei, já meu companheiro trabalha como ACT”.

Em BC, Joana dá aula de ciências no ensino fundamental no Caic. “Ensinar raciocínio científico e senso crítico numa comunidade apegada a dogmas religiosos não é fácil, mas eu sempre digo que minha disciplina é pautada pela ciência e não em opiniões desta ou daquela crença”, pontua.

 

 

 






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