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Atração nacional

Festival de Música de Itajaí terá Gilberto Gil

Evento com shows e oficinas projeta a cidade nacionalmente

Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]

 A região volta a respirar música em setembro. O Festival de Música de Itajaí acontece de 1º a 8 de setembro e chega à sua 25ª edição. A programação oficial será lançada no final de agosto, junto com a abertura das inscrições para as oficinas. Serão shows nacionais, estaduais e regionais, e já foram divulgadas as participações de Gilberto Gil, no dia 6 de setembro, e do Vocal Ordinarius, do Rio de Janeiro, no dia 4.

Estão programados 14 shows para dois palcos montados ao ar livre, um em frente à Igreja Matriz e outro entre a Casa da Cultura Dide Brandão e o Palácio Marcos Konder, além de um megashow no Centreventos. Serão ainda 27 oficinas de música. Apresentações musicais diversas também ganharão espaço em palcos alternativos em outros pontos da cidade.



A expectativa é, também,  um show do Chico César, mas a organização ainda não confirmou. A edição 2023 será encerrada com o Espetáculo Festival de Música de Itajaí 25 anos, levando para o palco as “crias do festival nessas mais de duas décadas e meia”, adianta  o superintendente Normélio Pedro Weber.  


 

Gilberto Gil e família farão  show no Centreventos

O show de Gilberto Gil será no Centreventos, local com maior capacidade de público. Gil sobe ao palco com um grupo de 18 pessoas, entre músicos e vocal, incluindo os músicos José Gil, Francisco Gil e João Gil, filho e netos de Gil.


Já o premiado grupo vocal Ordinarius, que é considerado um dos mais importantes do Brasil, vem com um repertório sofisticado. Após mergulhar em universos de grandes referências da música brasileira como Carmen Miranda e Aldir Blanc, o septeto lançou no início deste ano o álbum “Pizindim”, em homenagem ao grande Pixinguinha. O grupo conta ainda com Fabiano Salek, que é filho do músico Marcos Leite, um dos idealizadores do festival na década de 1990. 

O show comemorativo à 25ª edição do festival vai reunir no palco principal músicos que se formaram ou se aperfeiçoaram nos festivais no decorrer dessas mais de duas décadas e meia de oficinas, além de promover um encontro de gerações. Daí a denominação carinhosa de “crias do festival”, dada por Normélio a esse grupo de artistas. A ideia é que a apresentação contemple banda, base e convidados.

“O festival surgiu como uma oportunidade de formação. No entanto, atingimos um nível tão bom que hoje dá perfeitamente para dizer que nos tornamos uma oportunidade de aperfeiçoamento para músicos da cidade, estado e do país. Nossos músicos já têm qualidade suficiente para subir ao palco em patamar de igualdade com grandes nomes da MPB e é por isso que a partir deste ano eles não tocarão mais na frente da cortina. Eles farão parte da programação”, arremata Normélio.

 


Oficinas garantem aperfeiçoamento e excelência musical

A primeira edição do Festival de Música de Itajaí trouxe para a cidade Guinga, Arismar do Espírito Santo, Roberto Gnatalli e Marcos Leite, que comandaram oficinas e workshops na Casa da Cultura Dide Brandão. A iniciativa reuniu oficineiros de Itajaí e de outros municípios catarinenses e também de fora do estado. Foi o pontapé inicial para que as oficinas, que se repetem ano a ano, chegassem ao patamar de hoje. 

Os anos foram passando e outros ícones da música foram incorporados: Lô Borges, Mônica Salmaso, Heraldo do Monte, Hermeto Pascoal, Naná Vasconcelos, Zuza Homem de Mello, Arthur Maia, Yamandu Costa e Mauro Senise. Nesta edição 2023 serão realizadas 27 oficinas totalmente gratuitas, incluindo as áreas de instrumental, de arranjo, produção e criação musical, improvisação, canto, entre outras opções, como escola de samba, banda marcial e educação musical para professores. 

“As oficinas, muitas delas trabalhando a improvisação, estimulam os participantes a refletir e construir seus conhecimentos sobre música”, destaca a musicista e maestrina Mônica Zewe Uriarte. Já o diretor do Conservatório de Música Popular de Itajaí Carlinhos Niehues, Eliezer Patissi, diz que as atividades formativas ultrapassaram o nível de formação. “Hoje as oficinas e workshops são um meio de aperfeiçoamento, de aprimoramento musical”. 

Bárbara Damásio é intérprete e participa das oficinas desde a terceira edição, quando ainda criança. Ela diz que a cidade cresceu muito em termos de formação musical em paralelo ao festival e também em relação às inúmeras opções que são apresentadas aos músicos locais e regionais. “Todos os nossos movimentos [festivais, conservatório de música, graduação em música da Univali], tudo é fruto. A cidade cresceu em paralelo aos festivais em diversos aspectos culturais e as oficinas tiveram papel determinante nisso”, analisa  Bárbara.

“Cada um desses grandes nomes que passa por aqui traz consigo não só bagagem musical, mas também experiências de vida, de carreira. Nos possibilitam compreender como é viver de música, pelo olhar e pela experiência de quem faz isso há anos e que é reconhecido por sua excelência”, acrescenta a compositora, musicista, professora e intérprete Giana Cervi.


Inclusão

Outro ponto que tira as oficinas do Festival de Música de Itajaí do lugar comum é a acessibilidade. Exemplo são as oficinas de percussão e educação musical para pessoas com o transtorno de espectro autista e oficinas para deficientes visuais. Eliezer destaca que o movimento de inclusão vem desde 2017 e atende novas demandas que surgem no mercado cultural. 

"As oficinas, muitas delas trabalhando a improvisação, estimulam os participantes a refletir e construir seus conhecimentos sobre música"

Mônica Zewe Uriarte

 

Musicalidade de  Itajaí se destaca desde o início do século 20

A miscigenação das culturas europeia, indígena e africana fez de Itajaí um berço de diferenças e de riqueza cultural. “Na música, os hábitos e temperos trazidos das diversas nações deram início a um movimento de reunião de ideias e trocas de talentos que reflete nos dias de hoje”, diz a jornalista Natália Uriarte Vieira, no seu livro “Clave de sol, clave de mar – História da música instrumental em Itajaí”. A afirmação é comprovada com uma rápida pesquisa na história musical de Itajaí. A cidade foi berço de importantes bandas musicais já nas primeiras décadas de 1900.  

Nesse contexto ganham destaque Os Foliões, Volares Band, 4ª Redenção e Incandescentes. Também foi em Itajaí que surgiram virtuosos instrumentistas e compositores como Oscar Nicolau Kleis – o Nêni, – Arnou de Melo, Grupo ABC, Carlinhos Niehues, Beto Blues, Daniel Montero, Peninha, Giana Cervi, entre tantos outros nomes de peso na música. 

Os gêneros vão do samba ao jazz, passando pelo pop e pelo rock. E movimentos como Itajazz, festivais de inverno e encontros de corais contribuíram para esse cenário de diversidade musical.

No entanto, as oficinas que surgiram com a primeira edição do Festival de Música de Itajaí, em setembro de 1998, enriqueceram e diversificaram ainda mais a cena musical na cidade. As atividades formativas com workshops e oficinas de práticas musicais, de instrumentos e ainda que relacionam a música e questões tecnológicas de mercado e acessibilidade são vistas no meio musical como a principal ferramenta para essa nova realidade.

“Os impactos vão muito além do que conseguimos enxergar. O festival mudou os hábitos de uma grande parcela da população nas questões culturais, na profissionalização dos músicos, no acesso à informação musical de qualidade, na criação de leis de incentivo à cultura, de escolas, de cursos superiores”, diz Giana Cervi. Ela destaca que o festival tornou a cidade referência em qualidade musical e diz desconhecer outra cidade no país que, proporcionalmente, tenha essa concentração de pessoas estudando e fazendo música.

Não foi à toa que o cantor e compositor Ivan Lins disse que “Itajaí é a cidade que o Brasil gostaria de ser” após seu show na 9ª edição do festival. Dez anos depois, em uma segunda passagem pela mostra musical, disse que eventos musicais como o Festival de Itajaí são coisas raras no Brasil. Já em 2018 o compositor e violonista Luiz Meira disse que Florianópolis precisa aprender a fazer cultura com Itajaí. Meira tem grande prestígio no meio musical e acompanha grandes intérpretes e compositores. Ele subiu ao palco com Gal Costa em inúmeras ocasiões, inclusive no Festival de Música de Itajaí. 

25 anos de lutas, mas também de muitos aplausos

A primeira edição do Festival de Música de Itajaí foi realizada de forma modesta, porém a iniciativa foi classificada como bastante arrojada nos meios culturais da época. 

Os grandes protagonistas foram a dupla Mônica Uriarte e Antônio Carlos Floriano, ela à frente da Casa da Cultura Dide Brandão e ele na direção de eventos da Fundação Cultural, que contaram com a ajuda do maestro compositor e arranjador Marcos Leite e do instrumentista, arranjador e compositor Roberto Gnatalli. 

A ideia foi comprada pelo presidente do Conselho Municipal de Cultura, Guto Dalçóquio, e teve o incondicional apoio do então secretário da Cultura e Esportes, Edison d’Ávilla. 

No entanto, o primeiro obstáculo foi a falta de recursos, pois o orçamento para cultura em Itajaí era baixo. O evento acabou sendo custeado pela extinta Telesc, por meio da Lei Rouanet. Marcos Leite assumiu a coordenação das oficinas e o músico Arismar do Espírito Santo também abraçou a causa, como se fosse um artista da terra. Como resultado, o evento abriu oficialmente em 4 de setembro de 1998 com a apresentação dos músicos Arismar do Espírito Santo e Maurício Carrilho na Casa da Cultura Dide Brandão, com a abertura das oficinas de música. O primeiro show, com o Grupo Cama de Gato, aconteceu quatro dias depois na Sociedade Guarani. 

O evento cresceu com o aumento da oferta de oficinas e também do número de shows. Já nos primeiros anos se apresentaram em Itajaí nomes como Tom Zé, Chico César, João Bosco, Nana e Dori Caymmi, Paulinho da Viola, Zeca Baleiro, Elza Soares, Leila Pinheiro e Milton Nascimento. A sétima edição marcou a mudança do festival da Sociedade Guarani para o Teatro Municipal e em 2005 a 8ª edição marcou uma nova fase: o evento cresceu, a mostra nacional ultrapassou as paredes do teatro e alguns shows foram para as ruas. 

Nesta edição se apresentaram Ed Motta, Vanessa da Mata, Edu Lobo e BR 6. Ney Matogrosso & Pedro Luiz e a Parede lotaram a Beira Rio e Alceu Valença levou um público fora do comum para o bairro Imaruí. A frente da Casa da Cultura também ganhou um palco para apresentações dos músicos das oficinas.

A partir daí, nomes como Arnaldo Antunes, Zé e Elba Ramalho, Moraes Moreira e Roupa Nova se apresentaram em áreas montadas nos molhes, Beira Rio e bairros como São Vicente, Rio Bonito e Imaruí. Os shows de abertura e encerramento eram realizados em diferentes pontos da cidade. 

Foi no ano passado a grande mudança, com a criação dos dois palcos externos – palco Elza Soares, em frente à Igreja Matriz, e palco Arthur Maia, em frente à Casa da Cultura. A partir de então, todos os shows passaram a ser realizados ao ar livre, sendo que neste ano um acontecerá no Centreventos. Nesta edição, o palco da Igreja passará a se chamar Gal Costa, que já se apresentou no festival e faleceu em novembro do ano passado. O palco secundário se chamará Marcos Leite. O maestro, além de ter coordenado as oficinas de música por quatro anos, sofreu um AVC durante a edição de 2001 do festival, em Itajaí, vindo a falecer em janeiro do ano seguinte.

 

Transformação do festival é narrada a partir do olhar de terceiros

“Assim como o festival vem crescendo e evoluindo, os músicos, não só de Itajaí, mas de diversas cidades brasileiras, que beberam ou bebem no nosso festival, também estão aprimorando”, diz o compositor, cantor e percussionista Francisco Luiz da Silva Cardoso, o Chico Preto. Bárbara Damásio e Giana Cervi acrescentam que o festival está crescendo e se aperfeiçoando, assim como o trio Antônio Carlos Floriano, Guto Dalçóquio e Mônica Uriarte, que iniciaram o festival nos idos anos de 1990. 

O legado do festival também é comentado por jornalistas e profissionais da imprensa que cobriram as primeiras edições e acompanham a evolução. “O festival trouxe para Itajaí vacas sagradas da música brasileira e, mais importante que isso, aproximou esses mitos do público por meio dos shows e oficinas”, diz o jornalista Marcos Espindola. Ele cobriu várias das edições do festival no período em que assinava a coluna Contra-Capa, no caderno de variedades do Diário Catarinense. “O festival de Itajaí também fomentou e inspirou outros bons festivais no estado. O festival que acontece no Ribeirão da Ilha, em Florianópolis, também navega nesse mesmo mar e conta com muitas pessoas que tiveram formação em Itajaí”, destaca. 

Vânia Campos, que cobriu as primeiras edições do evento e também atuou como assessora de imprensa do festival, diz que foram setembros memoráveis. “A cidade respirava música e a Casa da Cultura Dide Brandão era o polo convergente de artistas, músicos de todo o Brasil, dos professores das oficinas e alunos”, diz a jornalista. Vânia conta que continua acompanhando o festival e a evolução ao longo desses 25 anos. 

“Algumas intervenções foram positivas, outras negativas. Claro que é legal apostar em novos nomes, abrir o palco, criar oportunidades, mas não se pode negar que muita gente bacana foi deixada de lado”, diz Vânia. Giana Cervi acredita  que o festival é o orgulho de todos os que vivem de música na cidade, mas que sempre existem mudanças possíveis. Ela defende a oferta de novas ferramentas para além da música. “Sobre as novas tecnologias, planejamento de carreira, produção, redes sociais…”.

O repórter fotográfico Ronaldo Silva Jr, que registra o festival desde sua primeira edição, diz que desde o seu nascimento o evento tem mostrado uma riqueza sem precedentes. “O festival se mostrou com uma estatura forte para poder prosseguir com seu acolhimento e se mostrando inclusivo para todos os segmentos, inclusive, outras categorias artísticas se mostraram maduras como o teatro, a dança, as artes plásticas e a pintura. O festival se modernizou”, diz Ronaldo. Com um livro fotográfico publicado, com imagens antológicas das primeiras 15 edições, ele pretende editar uma versão atualizada. “O festival e suas elegâncias precisam ser visualizadas num novo livro, com suas inúmeras nuances musicais,” completa.

 

 




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