Estudo do IFSC identifica até glitter em ostras e mariscos cultivados em SC
O microplástico está contaminando os moluscos, mostra pesquisa
Franciele Marcon [fran@diarinho.com.br]
Todas as amostras que foram recebidas no laboratório até agora revelaram contaminação por microplásticos
(Foto: Divulgação)
Estudo é feito por estudantes do IFSC (Foto: Divulgação)
Estudo é feito por estudantes do IFSC (Foto: Divulgação)
Estudo é feito por estudantes do IFSC (Foto: Divulgação)
Estudo é feito por estudantes do IFSC (Foto: Divulgação)
Estudo é feito por estudantes do IFSC (Foto: Divulgação)
Estudo é feito por estudantes do IFSC (Foto: Divulgação)
Estudo é feito por estudantes do IFSC (Foto: Divulgação)
Microscópio mostra até glitter, pontos de brilho, nos moluscos (Foto: Divulgação)
Microscópio mostra até glitter, pontos de brilho, nos moluscos (Foto: Divulgação)
Microscópio mostra até glitter, pontos de brilho, nos moluscos (Foto: Divulgação)
Microscópio mostra até glitter, pontos de brilho, nos moluscos (Foto: Divulgação)
Estudo é feito por estudantes do IFSC (Foto: Divulgação)
Estudo realizado pelo campus de Itajaí do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) localizou microplásticos em moluscos bivalves, como ostras e mariscos, cultivados em praias de Penha e Bombinhas. Os fragmentos de plásticos foram encontrados nas amostras que já foram processadas e que vieram dos dois pontos de cultivo na região.
O projeto “Investigação da presença de microplásticos em moluscos de cultivo em Santa Catarina” começou em fevereiro e terá duração de um ano. A pesquisa está sendo custeada pelo campus ...
O projeto “Investigação da presença de microplásticos em moluscos de cultivo em Santa Catarina” começou em fevereiro e terá duração de um ano. A pesquisa está sendo custeada pelo campus do IFSC Itajaí através de um edital interno de pesquisa.
A estudante Letícia Furtado, do curso técnico em Recursos Pesqueiros, destacou que todas as amostras que receberam no laboratório até agora tinham contaminação por microplásticos. “Encontramos sete microplásticos em uma amostra de ostra e 13 em uma de um mexilhão. Os dois animais são filtradores e acabam ingerindo o microplástico devido ao comportamento similar que esses resíduos têm do fitoplâncton, que é o alimento natural deles. Para se ter uma ideia, em uma amostra que chegou logo após o carnaval, nós identificamos inclusive a presença de glitter, dá para ver no microscópio os pontos de brilho”, explica a estudante.
Letícia faz parte da equipe de pesquisa coordenada pelo professor Thiago Pereira Alves com os estudantes do curso técnico integrado em Recursos Pesqueiros. A proposta do grupo é analisar amostras de cultivo de moluscos bivalves de Penha e Bombinhas e realizar uma análise em cada uma das estações do ano.
“Até o momento analisamos a coleta que foi feita no verão e no outono em que pegamos amostras dos moluscos no trecho da praia na banca onde eles costumam ser vendidos. Estamos coletando nesses dois lugares porque queremos entender se a quantidade de microplástico encontrada nos moluscos é a mesma ou se há alguma alteração quando ele é manuseado, aberto e limpo”, explica o bolsista do projeto, o estudante de Recursos Pesqueiros Guilherme Mendes.
Processo de análise
Assim que chegam ao Laboratório Oficial de Análise de Resíduos e Contaminantes em Recursos Pesqueiros (Laqua), em Itajaí, os moluscos são abertos e é feita a retirada de todo o trato digestivo dos animais. A escolha pela análise do sistema digestivo se dá porque é onde ficam os fragmentos do que é ingerido pelo molusco.
O material é colocado em solução alcalina por 48 horas e após esse período passa por um processo de filtragem em que ficam apenas os microplásticos. Esses resíduos têm cerca de 50 micrômetros e não podem ser vistos a olho nu, por isso precisam ser analisados no microscópio. “Ao olhar os microplásticos no microscópio, percebemos que há diferentes colorações o que nos leva a crer que eles têm origens diferentes. Por exemplo, um que encontramos com um tom de verde remete ao plástico de garrafa PET e outro que parecia trançado lembrava resíduos de uma corda de pesca ou da maricultura”, comenta a estudante Mariana Pereira.
Parte dos resíduos localizados pelos estudantes foi levada para o laboratório de química do IFSC Florianópolis, onde há um equipamento capaz de fazer a identificação dos polímeros plásticos por infravermelho e eles podem ser analisados e categorizados a partir de um banco de dados de uma biblioteca digital. A proposta é que estudantes de Florianópolis também auxiliem nesse processo de identificação dos materiais.
Poluição dos oceanos precisa ser debatida com a sociedade
O professor Thiago Pereira Alves lembra que ao final do estudo serão gerados relatórios e publicações acadêmicas e científicas, assim como encaminhamentos para órgãos como Cidasc e Epagri, para a discussão da contaminação do ambiente marinho. “Esses resultados preliminares mostram que a Política Nacional de Resíduos Sólidos não está sendo eficiente, que aquilo que não está sendo devidamente tratado vai parar no oceano. A ciência já sabe que nós consumimos plásticos e agora nós temos que avançar para tentar entender quais são as consequências disso”, destaca.
O professor ainda reforça que a contaminação dos oceanos por microplástico é um problema mundial. “Precisamos impedir o microplástico de parar no mar. Essa contaminação do ambiente marinho, o mexilhão e a ostra estão nos mostrando que realmente ocorre. Eles são os sentinelas, um indicador. Se analisarmos camarão, peixe, siri, também vai aparecer. O objetivo do estudo é mostrar que a nossa sociedade precisa ter um olhar mais atento sobre a importância de tratarmos os resíduos sólidos, especialmente aqueles que podem ser reciclados como o plástico”, avalia.
Resultado é o esperado, diz especialista
Gilberto Caetano Manzoni, professor e pesquisador da Escola do Mar, Ciência e Tecnologia da Univali, que trabalha com o cultivo de ostra e marisco em Penha, destaca que, infelizmente, o resultado já era esperado. “Fizemos uma monografia com uma acadêmica da Espanha, do curso de Oceanografia, que faz dupla titulação, e tínhamos verificado a presença de microplásticos nos moluscos. Infelizmente é um tema que está presente em todos os alimentos do mar, do pescado. Não só nos moluscos, mas em peixes e todos os organismos”, explica.
Manzoni comenta que, segundo projeções, cada pessoa que come pescados diariamente, consome no mínimo o volume de um cartão de crédito de plástico por mês. “A gente continua nessa linha de trabalho, para ver o impacto nas pessoas, mas por enquanto não avançamos. Isso é uma realidade não só de Santa Catarina, mas de qualquer lugar que for feita uma pesquisa, se tiver uma detecção nos organismos marinhos, os microplásticos estarão presentes”, explica.
Em 2019, a WWF International já tinha mostrado que o ser humano pode estar ingerindo cinco gramas por semana de plástico, o equivalente a comer um cartão de crédito. A informação foi apresentada com base no estudo da Universidade de Newcastle, na Austrália. Os moluscos e a água potável eram as grandes fontes de ingestão de plástico.
O professor acredita que seria necessária uma estratégia para mudar o comportamento e reciclar os resíduos, principalmente os materiais plásticos. “Esse é o caminho que temos que buscar. Se não tiver essa mudança a nível mundial, realmente a sustentabilidade fica cada vez mais difícil. Por isso é importante todos os setores estarem alinhados com políticas públicas mais contundentes neste sentido”, finaliza.
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