Investigação confirma: assassino agiu sozinho e era viciado em cocaína
Exame identificou presença de cocaína e outras substâncias tóxicas no sangue do autor do massacre em Blumenau
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]
O ataque durou apenas 20 segundos, mostrou a investigação (foto: divulgação)
O assassino do ataque à creche Cantinho Bom Pastor, em Blumenau, foi indiciado por quatro assassinatos e cinco tentativas de homicídio, com agravantes de motivo torpe, meio cruel, impossibilidade de defesa e por as vítimas serem crianças. Exames apontaram a presença de cocaína no sangue do autor. Ele passou por clínicas de reabilitação e seguia páginas satanistas no Facebook.
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As informações foram divulgadas pela Polícia Civil em coletiva de imprensa na Acadepol, em Florianópolis, na tarde de segunda-feira, durante apresentação da conclusão da investigação sobre ...
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As informações foram divulgadas pela Polícia Civil em coletiva de imprensa na Acadepol, em Florianópolis, na tarde de segunda-feira, durante apresentação da conclusão da investigação sobre o crime que terminou com quatro alunos mortos e outros cinco feridos no dia 5 de abril. O inquérito será encaminhado ao Ministério Público.
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A polícia informou que 21 pessoas foram ouvidas na investigação, incluindo a mãe e o padrasto dele, amigos, um policial e outras pessoas que tiveram algum tipo de contato com o assassino.
Segundo a polícia, o homem não participava de nenhuma célula neonazista e agiu sozinho. Apesar de o comportamento indicar “tendências esquizofrênicas” e de histórico de surtos, não apareceu na investigação nenhuma informação de que o autor tivesse diagnóstico de algum transtorno mental.
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De acordo com o delegado Ronnie Reis Esteves, coordenador da Divisão de Investigação Criminal de Blumenau, a mãe do assassino contou que o filho sempre foi “muito calmo” e uma “criança respeitável”. O comportamento mudou após o rapaz, já adulto, iniciar o uso de cocaína. A droga provocava alucinações e ele dizia que era perseguido.
Um dos perseguidores, nas falas do assassino, seria o padrasto, que não aceitou mais o enteado em casa por causa das drogas. Ele morou então com um tio por um mês até que voltou pra casa da família e esfaqueou o padrasto, num crime ocorrido há dois anos. Na época a vítima não quis seguir adiante com a denúncia, pois o enteado foi internado numa clínica.
Mais tarde, o rapaz voltou pra Blumenau, mas seguiu nas drogas e passou a perseguir o padrasto, que fugiu da cidade em 2022. À polícia, o autor do ataque disse que não podia ter contato com o padrasto e com um policial, que inicialmente ele havia apontado como o mandante do atentado. Esse policial é um lutador de jiu-jitsu que treinou na academia do rapaz e, em depoimento, disse desconhecer o autor.
"Crianças correm devagar”
A informação de que o ataque teria sido ordenado por alguém não se confirmou na investigação. Mais de 12 pessoas, incluindo dois amigos do assassino relataram que ele tinha alucinações envolvendo o padrasto e o policial. Duas semanas antes do ataque, o rapaz tinha conversado com os amigos e dito que faria “algo grande”, mas ninguém deu bola.
Ao ser ouvido uma segunda vez pela polícia, o assassino disse que não houve ordem ou ameaça pra fazer o ataque e que fez “aquilo” pra mostrar que também era corajoso. “Na cabeça dele, foi um ato de coragem”, destacou o delegado Ronnie.
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O delegado relatou que o assassino se manteve frio, dizendo que não se arrependia de nada e que faria tudo de novo. Questionado sobre o motivo de ter atacado crianças, o autor justificou que elas eram mais fáceis, “porque as crianças correm devagar e ele teria condições, caso isso acontecesse, de alcançá-las”.
No depoimento, o assassino conta que uma criança chegou a rir pra ele, achando que era uma brincadeira, e ele a matou. De acordo com o delegado, o autor não tinha nenhum motivo para o ataque. “[Ele] era uma pessoa antes do uso da droga e quando ele passou a usar a droga, a cocaína, ele se tornou esse monstro que todos nós conhecemos”, comentou. “É uma pessoa que de fato não tem nenhuma condição de conviver em sociedade e nenhuma punição será suficiente pra reparar o que ele fez”, analisou o delegado.
Não há risco de impunidade
Assassino teria deixado de atacar outras escolas por causa da dificuldade imposta por muros altos
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O delegado Rodrigo Reiter, que fez a prisão em flagrante do autor, apresentou o caminho feito pelo criminoso desde a saída de casa, às 8h03, até ele se entregar do batalhão, às 9h08. Imagens de câmeras apontam que a chegada nas imediações da creche até a fuga que durou três minutos, sendo que o ataque em si durou 20 segundos.
Antes do atentado, o autor foi numa academia e, antes de se entregar, comprou água e cigarro num posto de gasolina. Segundo a polícia, duas escolas numa rua perto da casa do autor seriam o alvo do ataque, mas ele teria desistido porque o muro era alto. A Polícia Científica fez mais de 20 laudos sobre o caso, incluindo perícia do celular do assassino e exames toxicológicos.
A perícia no celular não encontrou mensagens de que o ataque teria sido um desafio ou que a ação teria sido coordenada por alguém. A polícia identificou apenas a participação do autor em grupos satanistas no Facebook, mas sem troca de mensagens.
Já o exame toxicológico apontou presença de cocaína, cocaetileno (substância formada pelo consumo de cocaína e álcool) e benzoilecgonina, formada pelo metabolismo da cocaína. O laudo não identificou a quantidade das substâncias no organismo e nem quando teriam sido consumidas.
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“Ele era usuário de cocaína e tinha cocaína no sangue dele, agora a gente não pode presumir se ele fez [uso] na hora, se fez antes de sair de casa ou se fez no dia anterior por conta de metabolização”, explicou o delegado-geral da Polícia Civil, Ulisses Gabriel.
Ulisses ainda comentou que questões sobre a sanidade do autor poderão ser discutidas na fase judicial do processo, mas que isso não implica em impunidade. “Independentemente de o cidadão ter um problema psicológico e agir em razão dele, isso não enseja qualquer situação de impunidade. Pelo contrário, o cidadão será punido pelos crimes que praticou”, disse.
Ações preventivas
Com o fim do inquérito, o governo destacou o foco em ações preventivas integradas com as forças de segurança, escolas e famílias. “Nenhuma ação sozinha vai dar conta, a gente precisa fazer um trabalho intersetorial e que faça sentido na vida das nossas crianças e dos nossos adolescentes”, comentou a secretária-adjunta de Educação do Estado, Patrícia Lueders.
A polícia vai traçar o perfil psicológico do autor do ataque e analisar o perfil nas redes sociais pra identificar condutas e comportamentos que possam ser usados em ações preventivas pra identificar eventuais suspeitos.
A instituição divulgou quatro projetos preventivos nas escolas, envolvendo medidas pra identificar comportamento agressivo em crianças, medidas de proteção, e ações com policiais civis com estudantes pra discutir bullying e cyberbullying.
Na semana que vem, o governador anunciará investimentos tecnológicos na Polícia Civil pra prevenção. Após o ataque em Blumenau, a Civil já fez mais de 10 operações de prevenção nas escolas. Já a PM fez 400 operações, com mais de 20 armas brancas apreendidas e 23 prisões, 20 de menores.
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