ENSINO SUPERIOR
Alunos da Univali denunciam corte de bolsas de estudos pelo governo estadual
Só no curso de Medicina, cerca de 100 acadêmicos teriam sido prejudicados. Governo diz que não houve mudanças no programa
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]
Alunos da Univali denunciaram o corte de bolsas de estudo do Programa de Bolsas Universitárias de Santa Catarina (Uniedu), concedidas a estudantes da educação superior do estado. De acordo com acadêmicos do curso de Medicina, um dos afetados, houve uma redução drástica no número de bolsas neste ano, mesmo com o aumento de recursos.
“Não temos mais bolsas de estudo suficientes e uma grande parte dos acadêmicos do curso depende delas para estudar”, comentou Lucas da Silva Cardoso, um dos estudantes da Univali. Ele lembrou que desde o primeiro semestre na faculdade sobra verba da bolsa e que o estado faz diversas redistribuições dos recursos, o que deixou os alunos surpresos com o corte atual.
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“Não estamos entendendo o que aconteceu. O investimento de 2022 foi de R$ 455 milhões e o de 2023 de R$ 505 milhões. Então, faria sentido mais pessoas serem contempladas”, avaliou. “Peço essa mesma bolsa desde o primeiro ano de faculdade e é o primeiro ano que falta verba, sempre sobrou e faziam uma nova redistribuição”, comentou outra estudante, Tainá da Silva Santos.
Para os alunos, a conta não fecha com tantos estudantes não contemplados e mesmo com o aumento das mensalidades. Eles ainda destacaram que a redução nas bolsas ocorreu logo no ano em que o governador anunciou o programa Universidade Gratuita, que vai bancar as mensalidades dos estudantes nas universidades do sistema Acafe.
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Mariana Vieceli de Carvalho, de 23 anos, é outra acadêmica do 6º período de Medicina. Ela confirma que são cerca de 100 alunos do curso afetados. Segundo conta, a situação ainda está “nebulosa” e os alunos estão buscando uma explicação para o corte. “Não sabemos o que aconteceu com os recursos, porém o que houve de fato foram muitos alunos com índice de carência considerado baixo sem bolsas. E não só da Medicina (meu curso), mas de todos”, disse.
Conforme relatou, diversos colegas estão cogitando trancar o curso por falta do benefício. Mariana conta que o corte ocorreu já pra este semestre. “Muitos alunos pagam somente a matrícula e esperam a bolsa cair pra pagar o restante das parcelas com o desconto da bolsa aplicado. Agora a bolsa não veio pra muita gente que não tem como pagar e já vai ter que trancar o curso agora”, lamenta.
Inclusão para alunos carentes
As bolsas do Uniedu buscam promover a inclusão dos estudantes no ensino superior nas universidades cadastradas no programa. Para este ano, são 74 instituições participantes, entre as unidades da Univali, Unisul, Sinergia, Cnec, Unisociesc e Uniavan na região da Amfri.
O programa oferta diferentes tipos de bolsa de estudo e de pesquisa e extensão, que podem ser integrais e parciais, para estudantes de graduação e pós-graduação. Conforme a modalidade, os estudantes precisam atender a uma série de critérios pra receber o benefício.
O repasse de verba para universidades comunitárias, como a Univali, volta para a sociedade na forma de serviços, como assistência à saúde, no caso do curso de Medicina. “Com o projeto de Jorginho Mello, essa verba seria distribuída entre as faculdades comunitárias e as privadas, sendo que as privadas não oferecem nenhum tipo de retorno pra sociedade, situação que consideramos injusta demais”, disse Mariana.
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Os acadêmicos da Univali informaram que o repasse teria sido feito de forma adequada para a universidade, o que gerou dúvida diante da redução do número de bolsas. Por outro lado, a instituição teria esclarecido aos alunos que não recebeu o recurso, ficando um “jogo de empurra”. A Univali confirmou o recebimento de recursos à reportagem do DIARINHO. A Secretaria Estadual de Educação ainda não se manifestou.
O governador Jorginho Mello (PL) foi cobrado por alunos da Univali nas redes sociais. Ele respondeu nos comentários dizendo que o programa não sofreu nenhuma mudança neste semestre, inclusive com os mesmos valores de 2022. “A concessão das bolsas é de responsabilidade de cada instituição e a indicação é procurar a Central de Atendimento ao Aluno”, orientou. O cronograma de concessão das bolsas para este semestre tem datas de cadastro e consultas até junho.
Univali recebeu mais de R$ 62 milhões para bolsas neste ano

Para 2023, Univali concedeu cerca de 3000 bolsas aos universitários
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A Univali esclareceu que o processo do UniEdu está ocorrendo em “plena normalidade”. Para 2023, a universidade informou que recebeu R$ 62.460.347,28 para a concessão de bolsas de estudos, entre novas bolsas e renovações. Na primeira etapa da seleção, foram 3709 inscritos, sendo que 2106 alunos terão bolsa concedida conforme os critérios.
Somando os alunos com direito à renovação do benefício, serão cerca de 3000 alunos com bolsa do UniEdu homologada no 1º semestre de 2023, segundo a Univali. O valor do benefício é dado de acordo com o índice de carência, garantindo o atendimento aos alunos mais carentes. Pela regra, quanto menor o índice de carência, maior é o percentual da bolsa.
A Univali informou que, no período de postagem de documentos e preenchimento e atualização do cadastro, entre 6/2 e 16/3, todos os candidatos tiveram o suporte institucional para a inscrição, com atendimentos virtuais e presenciais, vídeos institucionais e tira-dúvidas.
“Não medimos esforços para que os alunos tivessem, no mínimo, um retorno quanto à documentação postada e informações prestadas no cadastro antes do fechamento do prazo”, ressaltou. Para os alunos não contemplados no programa, a Univali tem a opção de financiamento estudantil pelo Credies/Fundacred, entre as alternativas de bolsas ofertadas.
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Universidade Gratuita
Outra preocupação dos estudantes é que o UniEdu seja substituído pelo programa Universidade Gratuita e ainda há incerteza sobre como funcionaria o projeto, que deve ser votado na Assembleia Legislativa. “Até agora não recebemos qualquer tipo de informação sobre, exceto de que aparentemente não vai ser nada como o UniEdu, que fornece bolsas, e longe de ser ‘gratuito’ como o nome diz”, criticou a acadêmica.
O novo programa do governo, com previsão de ser implantado ainda neste ano, pretende repassar os recursos diretamente aos estudantes e somente aos matriculados nas universidades comunitárias. O valor para 2023 é de R$ 500 milhões, atendendo cerca de 70 mil alunos do sistema Acafe. Em troca das vagas gratuitas, os estudantes deverão prestar trabalho voluntário após a formatura.
"O programa Faculdade Gratuita está sendo construído focando no desenvolvimento de Santa Catarina e as definições sobre a aplicação dependerão, também, da análise da Assembleia Legislativa", esclareceu a Secretaria de Estado da Educação.