A cantora e apresentadora Ana Vitória Monforte, de 35 anos, a MC Trans, foi vítima de transfobia em um hotel de Blumenau na noite desta quinta-feira. MC Trans denunciou o caso pelas redes sociais, registrou um boletim de ocorrência e irá processar o hotel.

Um assessor da MC Trans fez a reserva para ela e o marido no Hotel Salto do Norte, próximo à BR-470. Blumenau está com todos os leitos de hotelaria ocupados por causa da Oktoberfest.

Ana, que tem mais de 8 milhões de visualizações no YouTube e 500 mil seguidores no Instagram, veio para a cidade para fazer um procedimento de peeling de fenol na manhã deste sábado. “Meu esposo desceu do Uber, foi levando as malas na frente. Eu fui pagando o Uber. Quando eu cheguei, que ele [o recepcionista] viu que eu era uma mulher trans, ele falou que não ia me hospedar, porque o dono do hotel não libera hospedar pessoas assim...”, contou MC Trans ao DIARINHO.

O casal filmou toda a cena e a negativa de hospedagem. Nas imagens, o recepcionista alega que o dono do hotel é uma pessoa idosa, conservadora e que enfrenta problemas com um grupo de travestis, que ficam próximas do hotel para se prostituir.

O recepcionista, em determinada parte do vídeo, ainda alega que o hotel não possui “espaço separado para isso”. O funcionário ainda alegou que, como o patrão é um senhor de idade, as normas “são deles”.

Indignada após o preconceito sofrido, a artista tentou se hospedar em outro hotel, onde já havia ficado outras vezes, mas eles estavam sem quartos disponíveis. Para não passar a madrugada ao relento, o casal foi abrigado na residência de uma amiga. “Não teve grito, não teve briga, eu não me exaltei. Eu fiquei tão chocada que só queria chorar”, recorda Ana.

MC Trans registrou um boletim de ocorrência pela violência que sofreu nesta sexta-feira e promete processar o hotel. “Eu vou processar o hotel. Eu passei transfobia somente pela minha existência. Meu dinheiro não tinha valor, a minha profissão não tinha valor, e o fato de eu estar respirando na portaria do hotel era um problema para eles. A minha existência foi o maior motivo de eu não poder me hospedar naquele local”, desabafa.

Pelo WhatsApp, o hotel Salto do Norte informou ao DIARINHO que “irá se manifestar em nota pública de esclarecimento assim que apurar todos os fatos ocorridos”.

MC Trans diz que ama Blumenau

Ana ainda reforçou ao DIARINHO que ama Blumenau, que considera o município uma das cidades mais lindas do Brasil e onde está instalada maior clínica de transição de gênero do Brasil, a Transgender Center Brazil. Ela comentou que sempre foi muito bem acolhida na cidade, fez diversos trabalhos por aqui e, após a divulgação do caso de preconceito, Ana recebeu muito apoio dos moradores da cidade.

Transfobia é crime

O advogado Diego Figueiredo, que irá representar a MC Trans, explica que a conduta ofensiva do hotel fere um dos preceitos mais básicos da Constituição Federal, o da dignidade humana. “A MC Trans é uma mulher, e até o Judiciário já corroborou isso, ao autorizar a mudança dos seus documentos, desta feita, tal argumentação sobre o gênero da artista não deve ser discutido em hipótese alguma. Minha cliente já foi orientada a registrar um Boletim de Ocorrência pelo crime de preconceito a partir da lei de discriminação por raça, na modalidade transfobia”, explica o advogado, em nota.

O advogado lembra que transfobia é um crime enquadrado no artigo 20 da Lei do Racismo (7.716/1989), com previsão de um a três anos de prisão. “Podendo chegar a cinco em casos mais graves. O crime é inafiançável e imprescritível. Além disso, o hotel poderá responder civilmente pelo abalo emocional e transtorno que causou à artista, podendo até ser condenado a pagar indenização”, finaliza Diego.