Luto na Umbanda
Morre Mãe Alzira, do terreiro Nosso Senhor do Bonfim
Mãe de santo teve complicações pulmonares; ela ficou deprimida desde que deu terreiro foi incendiado
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]

Barra Velha se despediu da popular Mãe de Santo Dona Alzira, conhecida zeladora do terreiro de Umbanda Nosso Senhor do Bonfim, mestra e sacerdotisa dessa religião de base africana. Dona Alzira havia completado 67 anos no último dia 12, e faleceu de complicações pulmonares.
Ela estava deprimida desde que seu terreiro, no Morro do Colchão, bairro São Cristóvão, foi destruído por um incêndio, no último mês de agosto. Luana Ayan, uma das filhas de santo da sacerdotisa, lembra da amizade com Alzira, iniciada há cinco anos.
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“Ela estava incorporada pelo seu Baiano, espírito guia dela. Lembro como se fosse hoje, ele conversou comigo e com os meus amigos. Disse tudo que ia acontecer em minha vida, e aconteceu mesmo”, destacou Luana. “Desse dia em diante meu coração pertenceu à Tenda Nosso Senhor do Bonfim, a todos os orixás e guias da casa”.
Segundo Luana, mãe Alzira mudou sua vida por conta de seus exemplos, orientações e histórias de vida, além da simplicidade e da dedicação à caridade. “Serei eternamente grata por tudo o que ela fez por mim, até quando eu não sabia que estava fazendo. Me lembro de tudo, das últimas conversas que tivemos após nossa casa ser incendiada, lembro que ela me contou uma parte da sua vida, e que vida!”, observou.
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Alzira acreditava que o incêndio em seu terreiro havia sido criminoso. De agosto para cá, uma vaquinha de adeptos das religiões de base africana vem acontecendo, para reconstruir o espaço religioso. “Não estávamos prontos para isso, queríamos que a senhora conhecesse seu novo terreiro. Não deixaremos sua história passar, sabemos que a morte é só uma passagem. Mas dói!”, finalizou Luana.
Após o incêndio, uma live com uma “gira” (culto religioso afro) foi feita para arrecadar recursos, em 22 de agosto. E ela, dentro da sua simplicidade, se expressou: “ajudem com o que sobra para vocês, não deem do que vocês precisam”, frisou.
Em setembro deste ano, nova decepção: o prefeito de Barra Velha, Douglas da Costa (PL), criticou o espiritismo em um vídeo, atribuindo supostas “feitiçarias” que ele recebia na porta de casa como sendo criações de espíritas ou umbandistas. O grupo de Mãe Alzira se posicionou publicamente contra a intolerância religiosa.
A religiosa tinha 50 anos de atuação na Umbanda, e iniciou a casa espiritualista em Barra Velha em 1996. O local do funeral e sepultamento ainda não foram divulgados. Ficam as suas palavras para reflexão: “Queimaram meus santos, destruíram meu templo, mas eu não quero saber de quem me jogou no buraco, eu quero saber de quem vai me tirar”, frisou na ocasião do incêndio.