Cães-guia

Corpo técnico pede as contas e expõe crise na escola Helen Keller

Ex-funcionários afirmam que estavam com salários atrasados e pedem a saída do presidente Emílio Dalçoquio

Helen Keller existe desde 2000 e agora enfrenta dificuldades financeiras e de gestão
(Foto: Arquivo)
Helen Keller existe desde 2000 e agora enfrenta dificuldades financeiras e de gestão (Foto: Arquivo)

A escola de formação e treinamento de cães-guia Helen Keller está em crise. Pelo menos três profissionais pediram demissão após quatro meses de salários atrasados e discordância com as ações da atual diretoria. A gestora técnica foi demitida na última terça-feira. Desde outubro de 2020, o empresário Emílio Dalçoquio é o presidente da instituição.

As demissões ocorreram no corpo técnico da Helen Keller. Entre as saídas, estão a da gestora da Área Técnica e do Aprimoramento Genético, Jhenifer Ferreira; da responsável pelo Desenvolvimento de Filhotes e cadete a Treinador de Cães-Guias, Elisa Natsuko; do cadete a Treinador de Cães-Guias, Renan Silveira Ewald, e do instrutor Fabiano Pereira -, que atuava na escola há 15 anos.

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Com a saída de praticamente todo o corpo técnico, o trabalho de treinamento, socialização e o destino dos filhotes está em risco. A saída ocorreu após a exigência de uma renúncia não acatada pela atual diretoria, principalmente, por parte do presidente Emílio Dalçoquio, empresário do ramo de transporte.

Os funcionários da escola estariam com salários de três a quatro meses atrasados. Além disso, a Helen Keller ações trabalhistas, está sem a certidão negativa de débitos para o recebimento de verbas públicas e não houve a prestação de contas do exercício de 2020. Segundo as denúncias, funcionários foram contratados de forma irregular, e ainda há coação e intimidação da atual diretoria contra o grupo de técnicos. 

Projeto em risco

A saída dos principais profissionais da equipe técnica coloca em risco a formação de novos filhotes e a entrega de cães-guia que já estavam em processo final de treinamento. “Se ele permanecer e a equipe não voltar, eu vou devolver o cão que estou socializando. Não vou ficar relacionado a esse esquema que claramente é golpista e está sendo cruel com os funcionários que deram muito pra escola, trabalhando dia e noite com salários atrasados”, opinou um socializador que pediu para ter o nome preservado.

Um grupo de socializadores, aliado a ex-funcionários, está preocupado com o futuro da escola. Eles pedem transparência sobre as últimas decisões da diretoria, além da saída imediata da presidência, a implantação de uma diretoria de transição e o retorno imediato dos técnicos para que o trabalho com os cães não seja perdido.

Já haveria um grupo de empresários disposto a assumir as dívidas e a manter financeiramente o trabalho da escola, mas, por não concordar com a atuação da atual diretoria, quer uma diretoria de transição. Quem assumiria a administração seria Jairton Fabeni Domingos, que é diretor geral da Associação dos Deficientes Visuais de Itajaí e Região (Advir), e usuário de cão-guia. A atual gestão não topou, contudo, abrir mão do comando da entidade.

Presidente afirma que não vai renunciar ao cargo

Emílio Dalçóquio afirma que não vai renunciar

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A assessoria de comunicação da Helen Keller informou que haverá uma reunião do conselho nessa quinta-feira para discutir os problemas.

O empresário e presidente da escola, Emílio Dalçoquio, foi procurado pela reportagem. Inicialmente, ele disse que não iria se pronunciar, mas na sequência afirmou que não vai renunciar ao cargo.  “Não vou renunciar porque não sou irresponsável e nem incompetente”.

Emílio informou que apresentará todas as ações promovidas pela diretoria e também prometeu revelar "atitudes inadequadas de alguns colaboradores".

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Emílio alega que quando foi convidado a gerir  a escola, no ano passado, a Helen Keller estaria praticamente fechada. “Nem ração tinha. Além de custar R$ 85 mil por mês, tivemos o problema da pandemia. Mesmo assim, aceitamos o desafio de não fechar a escola. Também é fundamental esclarecer que a escola não demitiu ninguém da área técnica. Os desligamentos partiram da iniciativa dos que estão saindo”, argumentou.

Emílio disse ainda que os membros da diretoria e do conselho estão agindo para evitar o fechamento da escola. “Os socializadores que desejarem, podem entregar o cão imediatamente, que a escola vai acolher e zelar pelos animais. As manifestações mostram que há pessoas preocupadas, portanto, estão no projeto. Nós compreendemos suas angústias. As soluções já estão a caminho”, concluiu Emilio Dalçoquio, que chegou a gravar um vídeo e enviar aos socializadores.

Instrutor fez carta e se demitiu

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Fabiano estava na escola há 15 anos (foto: divulgação)

O instrutor Fabiano Pereira escreveu uma carta contando a história da entidade e revelando as frustrações e a preocupação com o futuro da Helen Keller. “Cansei de ver os anos passarem e nada mudar. Cansei de fazer o impossível e ser tolhido pela acomodação do sistema. Cansei de mendigar mesmo sendo para fazer o que amo. Cansei de ver a frustração na face de meus colegas, abnegados e teimosos como eu, doando seus dias e noites, incansavelmente, mesmo com meses de salários atrasados e sem as condições que seriam necessárias para o êxito de suas funções”, documentou.

Fabiano conversou com a reportagem do DIARINHO. Ele revelou que, além do atraso de salários e de dificuldades para pagar as dívidas da escola, a diretoria estaria colocando um colaborador contra o outro e até promovendo intimidações. “Funcionários com meses de salários atrasados em um ambiente tóxico... Nós não somos filantropos, a gente se dedica ao nosso trabalho, mas a gente não consegue trabalhar de graça. O trabalho é muito complexo e a gente vinha mostrando que a escola é uma referência no mundo”, comenta.

Fabiano explica que abriu mão dos cargos de administração para se dedicar à parte técnica. A intenção era ser reconhecido internacionalmente pelo trabalho. “Hoje a gente vive uma situação muito pesada dentro da escola, chegou ao cúmulo de haver uma tentativa de criar intrigas entre nós, colegas de trabalho. Eles querendo me colocar contra os outros colegas. É inimaginável o que estávamos passando e não poderia continuar sendo conivente com essa situação. Me afastei da escola, porque quero o bem dela,” desabafou Fabiano.

A saída de Fabiano Pereira e do corpo técnico coloca em risco as certificações internacionais que a escola possui - a única na América Latina com esses certificados. Além disso, todo o conhecimento acumulado ao longo dos mais de 10 anos de atuação pode ser perdido.

“Uma ninhada que nasceu agora, com  cães em socialização, em treinamento; cães graduados prontos para o processo de adaptação e acompanhamento das duplas já existentes. Os projetos de cães de assistência ao autismo, que foram desenvolvidos por esse corpo técnico, e é único no país. Isso tudo, sem contar as conquistas de qualificação internacional da escola, estão pautadas nesse corpo técnico. Não há profissional com habilitação internacional para manter o status do selo internacional de qualidade”, concluiu Fabiano.






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