O sindicato dos Armadores e das Indústrias da Pesca de Itajaí e Região (Sindipi) se posicionou contra a possível criação de um polo pesqueiro chinês no Brasil. O polo teria gestão da empresa Ample Develop Brazil, com investimento de 30 milhões de dólares. A sede seria na cidade de Rio Grande, no estado do Rio Grande do Sul.
A proposta do conglomerado chinês ganhou força assim que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) publicou em seu Twitter, no último sábado, um post sobre a ideia. Bolsonaro publicou a mensagem ...
A proposta do conglomerado chinês ganhou força assim que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) publicou em seu Twitter, no último sábado, um post sobre a ideia. Bolsonaro publicou a mensagem, com erros de português, informando que os “Chineses fazem proposta de pólo pesqueira para tomar conta de todo a pesca no litoral brasileiro”.
José Jorge Neves Filho, presidente do Sindipi, diz que a entidade patronal é contra a criação do polo e desconfia do interesse de empresários chineses de instalar uma base na costa do Brasil.
A proposta da Ample, que tem sede em Goiânia, seria de montar um projeto de pesca de arrasto marinho, com investimentos de cerca de R$ 150 milhões, com apoio do governo do estado gaúcho. “Eles possuem uma grande quantidade de embarcações, na sua maioria da modalidade de arrasto, e de acordo com as informações, baseadas em relatos e publicações de outros países já explorados por essas embarcações, as mesmas não praticam pesca sustentável em suas operações. Pelo contrário, pescam de forma predatória, processando tudo o que foi pescado”, exemplificou, em nota, o presidente do Sindipi.
O sindicato alerta que as embarcações são de grande porte, com autonomia e poder de captura superiores aos das embarcações brasileiras. Elas ainda são auxiliadas por “navios-mãe” ou “navios-fábrica” que fazem o transporte e o processamento dos pescados ao mesmo tempo em que garantem o reabastecimento dos barcos pesqueiros.
O Sindipi alerta que com a atuação dessas embarcações seria impossível mensurar o estoque pesqueiro disponível. “Impede a avaliação de nossas autoridades de dimensionar quanto foi capturado, principalmente os impactos aos nossos recursos pesqueiros, com certeza, à margem das normas brasileiras de pesca, e prejudicando sensivelmente o equilíbrio de nossos recursos marinhos e, consequentemente, de todo o setor pesqueiro brasileiro legalmente constituído,” argumenta o sindicato.
O DIARINHO fez contato com o secretário de Aquicultura e Pesca, Jorge Seif Júnior, que é armador da região de Itajaí, mas ele não respondeu a mensagem até o fechamento desta edição.
Proposta não passa de especulação, diz estudioso
O oceanógrafo, pesquisador e professor universitário, Paulo Ricardo Schwingel, acredita que o anúncio da criação do polo pesqueiro pela empresa chinesa não passa de mera especulação. Ele lembra que a mesma proposta foi anunciada pra costa uruguaia em outubro deste ano e não foi levada adiante. “Uma comissão chinesa fez algumas visitas no Brasil, mas não tem a mínima chance disso se concretizar”, acredita.
O professor lembra que o Brasil não tem recurso pesqueiro pra uma pesca de grande vulto que interesse mesmo aos chineses.
Paulo Ricardo lembra que o Brasil não é um país que tem águas com grandes volumes de biomassa de espécies alvos de recurso pesqueiro. “É um país que está em uma área de baixa produtividade. Esse tipo de empreendimento chinês estaria fadado ao fracasso, porque não existe recurso pesqueiro suficiente pra sustentar uma pescaria de vulto maior que a da nossa indústria. Hoje já estamos pescando mais do que deveríamos,” conclui.