Aresc diz que não há contaminação na água distribuída pelo Semasa
Pontos móveis continuam abertos enquanto a salinidade oscilar; ontem teve pico e depois a taxa de sal caiu pra abaixo do nível máximo
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]
Na polêmica dos laudos em Itajaí, as versões geram contradições sobre a qualidade da água coletada de fonte particular na praia Brava e distribuída à população. Resultado mais recente do Semasa, com amostras do dia 3 de novembro, analisadas pelo laboratório DJ Saneamento, indicam que a água está própria pra consumo. Já o laudo entregue em denúncia à subseção da OAB de Itajaí, aponta contaminação, o que as análises da agência de Regulação dos Serviços Públicos de Santa Catarina (Aresc) não confirmaram.
Em entrevista coletiva na segunda-feira, o vereador Fernando Pegorini (PSL), que é coordenador da campanha do candidato a prefeito Robison Coelho (PSDB), informou que o resultado do exame que pediu à Aresc mostrou que a água estava própria pro consumo, mas ressaltou que a conclusão “não é definitiva”.
Segundo o Semasa, os laudos da Aresc não confirmam contaminação por coliformes fecais e nem por necrochorume, como foi denunciado pelo laudo da OAB.
Técnicos da agência de regulação que fiscaliza o Semasa fizeram coleta de amostras da água no poço da Brava e em quatro pontos móveis de distribuição do Semasa espalhados pela cidade no dia 1º de novembro. A medida fez parte, conforme o órgão, de ação de fiscalização emergencial após o rompimento na barragem do rio Itajaí-mirim.
“Conforme resultado da análise laboratorial de amostras de água tratada e disponibilizada à população de Itajaí, não foi detectada contaminação por coliformes totais e E. coli nos cinco pontos coletados, tornando-se a distribuição própria para consumo”, informou a Aresc em nota ao DIARINHO. De acordo com a agência, a situação seguirá sendo monitorada até que o abastecimento volte à normalidade.
O DIARINHO enviou questionamentos ao diretor da DJ Saneamento, Jorge Luiz Isolani, responsável pelos laudos apresentados pelo Semasa e pela OAB de Itajaí. Ele ficou de responder, mas não o fez até o fechamento dessa matéria. Conforme a autarquia, as análises constantes da água do poço feitas pelo laboratório sempre atestaram a potabilidade.
Na resposta ao ofício da OAB de Itajaí, que condenava a água do poço, o engenheiro químico do Semasa, José Adriano Kielling, destacava que um poço pode estar próximo a um local contaminado e mesmo assim não receber água de um lençol freático que esteja contaminado por esse local.
“Pois o ‘cone’ de influência do poço remete ao lençol freático e não ao local contaminado. O que determinará se há contaminação será o laudo analítico”, argumentava. O químico ressaltou que, pelo laudo da OAB, não se poderia confirmar contaminação pois o “resultado não é absoluto”. Ele ainda explica no documento que o laudo se refere à “água subterrânea in natura”, sem elementos de desinfecção, como o cloro, que é aplicado como protocolo na água distribuída pelo Semasa.
Pontos de água seguem ativos
Os 44 pontos de distribuição de água potável nos bairros de Itajaí seguem mantidos pelo Semasa, mesmo após a autarquia considerar a normalização dos índices de salinidade na captação junto à barragem do rio Itajaí-mirim. Os pontos no mercado do Peixe, que atende o centro, e no bairro Fazenda, já tiveram queda na procura pelos moradores.
Nos pontos de distribuição, a autarquia colocou cópias dos laudos da análise da água coletada nos poços, que indicam que o aquífero está livre de contaminação e que a água distribuída é própria para o consumo.
A situação na barragem ainda é monitorada até que a taxa de sal na água se estabilize abaixo do normal para o consumo humano. Segundo o Semasa, os consumidores ainda poderão perceber sal nas torneiras, em virtude da água que ainda está não rede ou nos reservatórios.
Desde o dia 4 a água salgada no ponto de captação vinha se mantendo abaixo do limite de 250 mg/L. Às 6h de ontem houve pico de 475 mg/L, mas a taxa caiu pra 150 mg/L às 15h.
Água de poço menos sujeita à contaminação
O geólogo Alexandre Menezes, da empresa GeoEnvi Geologia e Meio Ambiente, já fez alguns estudos no terreno da Najaha Administração e Participações, onde estão os poços usados pelo Semasa. O DIARINHO perguntou ao especialista se os poços profundos como os da Brava são menos sujeitos a contaminações da superfície, conforme defende o Semasa.
Ele afirmou que sim, sendo que a água costuma ser mais limpa que a captada em locais mais superficiais. “Se o poço foi perfurado conforme as normas da ABNT é uma captação segura, normalmente com qualidade de água superior a uma captação superficial”, destaca. “Para isto, as empresas de perfuração necessitam de um profissional geólogo como responsável técnico, com emissão de ART [Anotação de Responsabilidade Técnica] do projeto e perfuração”, informa.
De acordo com a professora da Univali Fabiane Fisch, mestre em Geologia e doutora em Ciência e Tecnologia Ambiental, não é a profundidade do poço que protege de contaminação externa. “E, sim, se há alguma infiltração (natural ou artificial) que possa levar contaminantes a esta fonte de água subterrânea”, frisa.
Sobre a dúvida se a água de poços subterrâneos é mais limpa que a captada em rios, por exemplo, ela destaca que vai depender de cada fonte que esteja sendo avaliada.
“Geralmente as águas subterrâneas estão mais protegidas de contaminantes, porém sempre vai depender se há ou não uma infiltração que possa contaminar esta fonte. Rios e outros cursos de água, apesar de estarem expostos a uma ação mais fácil de contaminantes, nem sempre precisam ter baixa qualidade de suas águas”, analisa.
O relatório geológico do poço que o DIARINHO teve acesso junto ao Semasa diz que a fonte da Brava é do aquífero Serra Geral, formado por rochas impermeáveis.