Itajaí
Os Toth encontraram no Brasil a oportunidade de recomeço no pós-guerra
Dez pessoas da família Toth desembarcaram no Rio de Janeiro, em 1949, trazendo na bagagem a esperança por dias melhores
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]
![Stefan Toth chegou ao Brasil com os pais e seis irmãos em 1949. Aqui casou e teve três filhos](/fotos/201712/700_5fd6dc0d512cb.jpg)
![miniatura galeria](/fotos/201712/200_5fd6dc0d512cb.jpg)
![miniatura galeria](/fotos/201712/200_5fd6dc0dbc782.jpg)
A situação da Europa ao fim da Segunda Guerra Mundial era bastante complicada. Se os países vencedores estavam arrasados, imagine a Alemanha, que contava com muitos campos de refugiados. Num desses campos, o húngaro Stefan Toth, então com 12 anos, teve ajuda de grupos humanitários para localizar o pai, Karl Toth, que deixou a família para lutar na guerra. A mãe de Stefan, Julianna, e os sete filhos pequenos se mudaram de cidade em cidade, durante anos, tentando fugir do rastro de fome e violência. Foi na Alemanha que a família Toth reencontrou o patriarca Karl e decidiu recomeçar a vida em outro país que estivesse disposto a recebê-los.
O único país que aceitou a família foi o Brasil e foi de navio que eles chegaram. Por aqui, depois de muitas mudanças, Stefan se instalou em Itajaí, nos anos 70, e afirma que encontrou o verdadeiro lar. “Na Europa, nunca fomos bem tratados. O Brasil me deu tudo, um país acolhedor, que me deu a oportunidade de trabalhar e formar minha própria famí- lia”. Stefan é casado com a brasileira Luzia há quase 60 anos.
Stefan conta que a cidade onde nasceu, Sombor, fazia parte da Iugoslávia, país em que o Marechal Tito foi primeiro ministro e presidente. Aliado de Stalin, ditador da Rússia, Tito impôs o idioma sérvio a todas as escolas da região. “Todo mundo, no leste europeu, conseguia se entender, mas de um dia para o outro, as aulas passaram a ser em sérvio e não podíamos falar nosso idioma, o húngaro. Como a Rússia perdeu terreno na guerra, Stalin e Tito se aliaram. Por isso, nossa família fugiu de carroça, depois de carona num tanque de guerra alemão, até chegar num campo de refugiados, onde os americanos ajudavam as famílias a encontrar um novo país para morar”, explica.
A escolha pelo Brasil aconteceu por causa da política migratória bilateral, que concedia benefícios aos refugiados da guerra, como translado de navio e trabalho no novo país. A saga dos Toth em terras brasileiras começou em 13 de agosto de 1949, quando aportaram na Ilha das Flores (RJ), onde era feita a triagem dos imigrantes. Depois de alguns meses, a família foi aconselhada a vir para Santa Catarina, onde se concentravam descendentes alemães, cujo idioma eles também sabiam falar. “Fomos de trem até Blumenau, onde minha mãe trabalhou na Cremer e meu pai como mecânico. Eu trabalhava como soldador, mas ao contrair pneumonia, fui afastado”, recorda.
Depois de Blumenau, a família seguiu para Joaçaba, onde o pai foi trabalhar num moinho. Um ano depois, se mudaram de novo, desta vez para Petrópolis, na serra fluminense, para onde o pai foi transferido. Stefan tinha 16 anos. Foi lá que conheceu a esposa Luzia numa noite, às vésperas do Natal, em 1958. Um ano depois, estavam casados. Também foi em Petrópolis que nasceram os filhos Juliana, Margit e Stefan, este falecido recentemente. “A morte precoce do Stefan me abalou muito. Além de filho, era meu companheiro de trabalho”, lamenta.
A família chegou a Itajaí em 1974, e Stefan foi trabalhar no Moinho Peônia, na rua Blumenau, onde se aposentou depois de décadas. Por aqui, moraram em Cabeçudas e no casarão centenário, onde fica a Fundação Cultural de Itajaí, no centro. Em 1987, eles se mudaram para o atual endereço, pertinho da avenida Beira Rio, onde Stefan montou uma oficina de motores de barco, fechada após a morte do filho. Para lidar com a perda, ele se voltou aos pincéis, que já eram seus companheiros nas tardes de folga. Além dos quadros de frutas e marinas, agora, ele ostenta em seu quarto, duas obras em homenagem ao filho, em seu barco a vela. “Era onde ele se sentia mais feliz”.