Itajaí
Família uruguaia vive um eterno recomeço em Itajaí
Crise econômica no início do século 21 promoveu um grande êxodo no país, economicamente dependente da vizinha Argentina
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]




Ser estrangeiro não é fácil. Longe de casa tem a barreira da língua, os há- bitos diferentes, a falta de amigos e da família. E é ainda mais difícil se a migração não foi espontânea, e sim motivada pela falta de perspectiva no país de origem. Para os uruguaios Marcelo Fernandez, 48 anos, e Silvia Díaz, 44, vir para o Brasil foi a forma que encontraram, em 2001, de sobreviver à grave crise econô-mica na Argentina, que sofreu com a desvalorização da moeda, o desemprego e os saques em supermercados.
“Eu estava sem emprego fixo há dois anos. Minha atividade artística sempre foi um complemento de renda, mas o sustento vinha mesmo do emprego como técnico numa TV a cabo. O salário da Silvia só dava para o aluguel, então me vi forçado a buscar alternativas”, relembra Marcelo. A primeira parada foi Florianó- polis, onde, em pleno verão, ele conseguiu comercializar seu artesanato, sem muito problema com o idioma, pois espanhol é a segunda língua da ilha. Mas, depois da temporada, as vendas minguaram e era preciso um plano B.
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Foi aí que apareceu o convite para integrar a equipe carnavalesca da Escola de Samba Unidos da Loca, em Itajaí. “Eu me senti em casa. Seu Fridolino me recebeu como um filho e fiquei tão animado que chamei a Silvia para morar em Itajaí também,” relembra. Marcelo trabalhou alguns carnavais e viu na construção civil, também em ascensão, uma forma de garantir a renda fora de temporada. Mas, aí, quem entrou em crise foi o Brasil, e o progresso da família, que já tinha sido abalado pelas enchentes de 2008 e 2011, recebeu um novo baque. “Não me lembro de ficar três semanas sem serviço como agora. Estou com a moto na oficina e não sei quando conseguirei retirar de lá”, lamenta.
Quando as águas invadiram Itajaí, a família morava no Promorar, bairro dos mais castigados. “A primeira vez foi 1,70m dentro de casa, perdemos tudo, mas conseguimos nos reerguer. Chegamos a nos mudar para um lugar mais alto, mas, três anos depois, foi quase um metro”, relata Silvia. Neste eterno recomeço, a família veio para o bairro São João, onde ela tem um ateliê de bolos cenográficos para garantir o pão e o mate de cada dia.
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Mesmo que a vida no Brasil não seja um mar de rosas, o casal é categórico em afirmar que Itajaí é a sua terra, principalmente depois do nascimento do filho Ainoã, hoje com 12 anos. “Eu tive problema com a placenta e fui operada às pressas, com seis meses de gestação. Havia risco de vida para mim e para ele. Depois de quatro meses na incubadora, pudemos trazê-lo para casa, sorte que poucas mães tiveram. Por causa da complicação na gravidez, ele nasceu com baixa audição, mas se tornou referência no Hospital Marieta, pois nunca um ser tão pequenino tinha conseguido sobreviver”, relembra emocionada a mãe.