Itajaí
Policial que matou a esposa tá preso no quartel
Fernando estaria pronto para cometer suicídio quando capitão da polícia Militar chegou ao apartamento da família
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]
A juíza Anuska Felski da Silva, da comarca de Itapema, autorizou a prisão preventiva do policial militar da reserva Luiz Fernando Palhano Lopes, 52 anos, assassino confesso da esposa, a policial civil Karla Silva de Sá Lopes, 28 anos. Fernando está preso no batalhão da PM de Balneário Camboriú. Ele confessou ao capitão da polícia Militar de Itapema, Geraldo Rodrigues Alves Junior, que matou a esposa e disse que pretendia cometer suicídio. Rodrigues levou duas horas pra convencer Fernando a entregar a arma e se apresentar à justiça. O crime aconteceu na noite de terça-feira. Segundo a versão do assassino, o casal discutiu e Fernando matou a esposa com um tiro na cabeça. Antes de assumir o assassinato, Fernando inventou que a esposa estava desaparecida. Às 13h40 de quarta-feira, ligou ao 190, telefone de emergência da PM, dizendo que Karla tinha saído pra caminhar, às 7h30, e desaparecido. A partir daí, a PM começou a fazer as buscas, inclusive com o cão farejador. O capitão Rodrigues tinha voltado de férias na quinta-feira e resolveu prestar solidariedade ao PM da reserva. “Senti que ele queria falar alguma coisa, que estava angustiado”, contou Rodrigues. Fernando acabou confessando o crime. “Ele começou a chorar, falou ‘cometi uma besteira, mas não vou me entregar, vou tirar a minha vida’”, narra o capitão. O capitão disse que Fernando estava com a arma na cintura. Após cerca de duas horas de conversa, ele convenceu o cabo a entregar a pistola 380. Fernando também mostrou ao capitão um desenho que tinha feito e estava no bolso, indicando onde tinha enterrado o corpo de Karla, na praia de Taquaras. O delegado regional, David Queiroz, foi avisado e comunicou ao delegado da divisão de Investigação Criminal (DIC), Vicente de Assis Mesquita Soares, o crime. Fernando já tinha prestado um depoimento a Civil que foi considerado suspeito. Os policiais acharam a versão dos fatos frágil e muito estranho o fato do marido não fazer um boletim de ocorrência sobre o desaparecimento. “Foi evasivo; um discurso decorado”, informou o delegado da DIC. Cova na praia O corpo foi encontrado perto das 20h, enterrado numa área de restinga, perto de um restaurante demolido na praia de Taquaras. A cova media menos de dois metros e tinha cerca de 60 centímetros de profundidade. Karla estava de pijama e uma sandália Havaianas ficou caída ali perto. Fernando não deu detalhes de como o crime ocorreu e nem como levou o corpo até a praia. Segundo o comandante da PM de Balneário, Evaldo Hoffman, Fernando sentia muito ciúme da mulher. A polícia Civil continua investigando o caso. Fernando está preso no batalhão da PM e a pistola 380 foi apreendida. Apesar da confissão de Fernando ter sido informal, o delegado garante que não há dúvidas da autoria do crime.“Foram levantadas provas que não deixam dúvidas”, justifica. Como Fernando é policial da reserva, permanece preso no batalhão. O comando da PM vai decidir se instaurará um procedimento administrativo contra o cabo. Dependendo da conclusão, ele pode ser expulso da corporação. MV Defesa tenta revogar prisão preventiva O advogado de Fernando, Luís Eduardo Cleto Righetto, nega que o policial da reserva tenha confessado o crime. Ele diz desconhecer o desenho feito pelo acusado com a localização do corpo em Taquaras. O advogado entrou ontem com o pedido de revogação da prisão do policial Fernando. Caso não seja concedido, ele vai pedir um habeas corpus. Righetto conta que orientou o cabo a dormir no batalhão da PM, na noite de quinta-feira, antes da prisão ser decretada, por uma questão de segurança. Algumas pessoas estariam revoltadas e o cabo correria riscos, segundo o advogado. A PM e a Civil informaram que Fernando já tinha histórico de violência doméstica contra a ex-mulher, mas nunca foi preso. O advogado diz que o boletim de ocorrência foi por ameaça, em 2011. Fernando também tem contra ele uma queixa de abuso de autoridade. Fernando vai responder por feminicídio (assassinato de uma mulher), ocultação de cadáver e também falsa comunicação de crime, por ter divulgado o falso desaparecimento da esposa. Marido aposentado, esposa em início de carreira Fernando e Karla viviam momentos bem distintos na vida profissional. Ele entrou para a reserva da PM em 2013, depois de 26 anos trabalhando no quartel de Lages. Quando se aposentou, passou a viver em Itapema. Karla ingressou na polícia Civil no final de 2016 e atuava em Correia Pinto. Ela tinha sido transferida para São João Batista, no Vale do Rio Tijucas, mas estava curtindo férias em Itapema e deveria se apresentar ao trabalho na próxima terça-feira, dia 12. O casal se conheceu em Lages, de onde ela é natural, há 10 anos. Fernando tem dois filhos. Já Karla teve Cauã, de um outro relacionamento. O adolescente mora com a avó em Lages. O corpo de Karla foi levado para Lages, onde ela começou a ser velada às 13h de ontem, na capela São Benedito, no bairro Santa Rita. O sepultamento aconteceria no cemitério do bairro da Penha, mas o horário não tinha sido definido pela família. Homenagem à policial em início de carreira A polícia Civil divulgou ontem um vídeo que faz uma homenagem à policial. “Meu nome é Karla, eu sou formada em educação física. Sou uma pessoa tranquila, bem família”. Você pode assistir em www.diarinho.com.br. O vídeo mostra o depoimento da moça ao ingressar na polícia Civil e imagens dela.“Eu me preparei bastante para o concurso. Eu era totalmente fora da área do Direito, mas ia abrir o concurso, resolvi fazer e vamos ver o que que dá”, disse. A aprovação foi inesperada. “Eu olhei e meu nome estava lá. Foi incrível. Chorei, pulei, foi uma sensação muito boa”, revelou. “O policial tem nas mãos a obrigação e o dever de zelar pela segurança da população. Tem o poder, muitas vezes, de salvar vidas”, citou. No vídeo, Karla ainda lembrou da família, do filho Cauã, de 13 anos, e da mãe. “Meu filho é tudo. É a minha base, é por ele que eu batalho sempre, por ele que eu passei por tantas coisas. E é por ele, pura e simplesmente, que eu estou aqui hoje”, falava, emocionada. Karla se dizia realizada. “Era isso que eu imaginava para mim. Isso que eu esperava. Não sabia se ia dar certo, mas também nunca pensei em desistir. O mérito é meu. Todo meu”, vibrou. Também lembrou da mãe. “Agradeço a ela pelo exemplo de mulher, guerreira, e por ter criado a gente da melhor maneira possível, e ela está muito feliz. Ela está muito orgulhosa de mim. Dedico a ela esse sucesso e essa conquista”, finalizou. [kaltura-widget uiconfid="23448188" entryid="0_gsxg7wut" responsive="true" hoveringControls="true" width="100%" height="56.25%" /]