Itajaí

Fraqueza das testemunhas de acusação e provas capengas livraram o PM da cana

O desabafo do pai, Edson Mendonça: “Falaram que meu filho tava no lugar errado. Disseram isso porque não era o filho deles, era o meu.”

A dúvida absolveu o soldado PM Hermelino Noé Caetano, 41 anos. Os sete jurados que ontem ficaram 15 horas analisando as acusações contra o policial apontado como o autor do tiro que, em 2003, matou o estudante Rafael Mendonça, não consideraram suficientemente claras as provas. “Sinto uma sensação de alívio e foi feita a justiça”, disse o acusado ao DIARINHO, assim que o júri terminou. “O sentimento que fica depois de um dia inteiro aqui é de revolta”, desabafou Edson Mendonça, 56 anos, pai do estudante, avisando que a família não quer que a promotoria ou o advogado que acompanhou o caso recorram da sentença.

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Às 23h, depois que foi lida em voz alta a decisão dos jurados, a juíza Sônia Moroso anunciou que irá arquivar o caso que se arrastou por sete anos e meio e se tornou uma das mais polêmicas batalhas ...

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Às 23h, depois que foi lida em voz alta a decisão dos jurados, a juíza Sônia Moroso anunciou que irá arquivar o caso que se arrastou por sete anos e meio e se tornou uma das mais polêmicas batalhas judiciais de Itajaí. O soldado Noé recebeu a notícia cabisbaixo, sem esboçar qualquer reação. De cabeça baixa também ficaram os familiares de Rafael, que estavam sentados na primeira fila da plateia.

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O pai estava revoltado. Mas não provocou tumulto ou sequer esbravejou. Apenas disse estar muito indignado com a Justiça por esperar sete anos e meio e não ver nenhuma condenação ser dada ao acusado. “Falaram que o meu filho tava no lugar e na hora errada. Disseram isso porque não era o filho deles, era o meu”, comentou, magoado.

Nem as afirmações do acusado (veja ao lado algumas das frases polêmicas de Noé), usadas contra ele mesmo pelo promotor Isaac Newton Belota Sabbá Guimarães, foram suficientes para dar certeza aos jurados de que Noé era mesmo o autor do tiro.

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O advogado Manoel Roberto da Silva, que defendeu o soldado, seguiu duas linhas de raciocínio. A primeira, de que as provas contra o réu não eram claras. Nenhuma das perícias feitas, tanto no local do crime quanto na bala e na arma usada pelo soldado, apontavam que teria sido Noé o autor do disparo contra Rafael. Nem mesmo as testemunhas sabiam dizer se foi mesmo o soldado o autor do crime. O plano B do advogado, também usado no júri, foi a possibilidade do tiro disparado pela submetralhadora de Noé ter ricocheteado no paralelepípedo e ido acertar o estudante.

A estratégia de fazer a dúvida brotar e permanecer na cabeça dos jurados até o final da sessão funcionou. O policial Noé foi inocentado. “Eu não matei o Rafael”, disse ele, na breve conversa que teve com o DIARINHO, depois do júri.

O que disse o soldado Noé no julgamento

“Foi tudo muito rápido. Eu só vi a hora que o Rafael virou com a boca sangrando”

“Eu não queria matar ninguém. Atirei pra imobilizar os assaltantes”

“A gente não tinha como saber se o Rafael estava junto com os assaltantes”

“Na hora dos tiros foi tudo questão de segundos”

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“Ele (Rafael) era um assaltante até a delegacia. (...) Nós só descobrimos que ele era estudante na delegacia”

Livro conta a tragédia da família Mendonça

Ontem o livro Cidade sem Lei foi pr’uma editora em Floripa que se interessou em publicá-lo. Escrito pelo jornalista Cláudio Eduardo de Souza, um dos editores do DIARINHO, o livro contra a tragédia da família Medonça. “É a história de vida do Rafael, seus últimos passos, o dia do crime e a luta por justiça até 2009”, explica Cláudio.

A obra terá 210 páginas. Cerca de 50 personagens integram a trama real que acabou numa das maiores batalhas judiciais já vistas em Itajaí. Entre eles o do próprio soldado Noé, que ontem enfrentou um júri popular como um dos acusados pelo crime, e da artesã Rosinalda Mendonça, mãe de Rafael. O depoimento que consta do Cidade sem Lei é uma das raras vezes em que os dois romperam seu silêncio.

O jornalista ouviu mais de 40 fontes e fuçou nas mais de mil páginas dos três primeiros volumes do processo (ao todo, são cinco tomos). “Tem coisas que nunca foram contadas nesses anos todos e que estão no livro”, afirma Cláudio.

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Ao remexer na tragédia, Cláudio tem uma certeza: “O tiro que matou Rafael partiu dos membros do GRT (grupo de Resposta Tática da PM)”. A conclusão de quem foi o autor do disparo fica a cargo do leitor, ao conhecer todos os detalhes do caso e poder julgá-lo sob a ótica de todos os lados envolvidos.

Cláudio não soube dizer quando o livro chega às bancas e livrarias.

Como foi a chegada da família pra assistir ao julgamento

O dia decisivo para o caso Rafael Rodrigues Mendonça começou ensolarado mas silencioso. Os familiares e alguns amigos do jovem assassinado em novembro de 2003 pintaram cedinho no fórum peixeiro sem faixas ou cartazes. Vestindo camisas brancas, calados, aguardaram pouco mais de uma hora do lado de fora do salão do júri. Sob olhares curiosos, entraram calmamente pela porta da frente do fórum, exatamente às 9h, sem imaginar que 15 horas depois saíram dali decepcionados. Não havia lágrimas naqueles rostos, como se os quase oito longos anos de espera por justiça exigissem apenas serenidade.

Na entrada do salão do júri estavam 10 policiais. Seis do lado esquerdo e quatro à direita. Difícil não lembrar que o acusado pela morte de Rafael também usava uma farda daquelas. Duas funcionárias à entrada do salão e um oficial de justiça recebiam os jurados e colhiam as senhas dos que conseguiram permissão pra assistir àquela que foi a maior batalha judicial dos últimos anos em Itajaí.

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Dentro do salão do júri, mesmo já iniciado o julgamento, havia ainda muitas cadeiras vagas. O espaço vazio permitiu que os trabalhos fossem acompanhados também por quem não tinha conseguido a senha e estava curioso para saber o desfecho da história.

“A gente quer ter mais sossego, tocar a vida pra frente, deixar o nome do Rafael em paz”, diz o pai

Vigilante do turno da noite de um condomínio residencial, Edson Braz Mendonça pediu para encerrar o expediente uma hora mais cedo. Às 7h30, já estava em casa. Num dia comum, iria pra cama. Ontem, não. Edson tinha pressa por justiça. Uma hora antes do julgamento já estava no fórum.

Calmo, vestido de camisa social branca, encarava o júri popular como um ponto final desta história triste e cansativa. “A gente quer ter mais sossego, tocar a vida pra frente, deixar o nome do Rafael em paz, para que, onde quer que ele esteja, esteja bem com Deus”, declarou.

Leandro, irmão caçula de Rafael, ontem não comandou passeatas ou manifestações, como havia feito em várias ocasiões. Convocou os amigos do irmão para acompanharem o julgamento e unir esforços por um dia positivo, sem cartazes ou palavras de ordem. “Depois de oito anos, a gente espera tudo do julgamento. Mas, nesse momento, acho que o importante é pensar positivo”, comentou o caçula dos Mendonça, que ficou o tempo todo ao lado do pai, da mãe Rosinalda e da irmã mais velha, Viviane.




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