Teriam sido tripulantes da própria embarcação que perceberam uma caixa grudada na grade do hélice do lado esquerdo da proa (frente) do navio, usada para as manobras de atracação. O comandante Thomas Lembke, que é alemão, informou o caso à guarda portuária antes de entrar na boca da barra. A PF foi avisada logo em seguida.
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Quando a embarcação atracou no berço três do porto público, às 02h05, os agentes federais isolaram a área e foram conferir o conteúdo da caixa. Chegou a se cogitar que o objeto fosse uma bomba. Nós não sabíamos o que era. Não poderíamos descartar nada até saber o conteúdo do material, explicou o José Dinarte de Castro Silveira, delegado da polícia Federal, responsável pelo caso.
A caixa, totalmente de ferro, estava aparafusada na grade do hélice. Ela foi retirada do casco logo ao amanhecer. Foi preciso usar uma serra elétrica pra abrir o caixotão no próprio porto. A princípio, é maconha, mas nenhuma suspeita está descartada. A perícia é que poderá dizer o conteúdo total da caixa e há quanto tempo ela estava no navio, disse o delegado.
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Ontem, o capitão e outros tripulantes foram ouvidos pela PF. O dotô Dinarte descarta a participação de algum marinheiro do Qindao no transporte da droga. Ainda pro dotô, algum especialista, que conheça a estrutura do naviozão, teria ajudado os traficantes a instalar a caixa no casco.
Cargueiro andou na Colômbia e na Jamaica
O Qindao Hamburg faz uma linha de serviço chamada Brazil Express, pertencente ao armador francês CMA CMG. A linha faz uma rota que sai da Colômbia, passa na América Central e Caribe e depois vem pro sul, chegando no Brasil. A bandeira do navio é alemã.
O cargueiro teria saído há cerca de 20 dias de Cartagena, na Colômbia. De lá subiu para Porto Manzanillo, no Panamá, e deu um pulo no porto de Kingston, capital da Jamaica, a ilha onde nasceu o cantor pé de fumo Bob Marley e que fica no Caribe.
Pela rota que consta no saite da CMA CGM, antes de chegar no Brasil, o Quindao ainda passou pelo Porto de Espanha, capital de Trinidade e Tobago, uma titica de país que fica numas ilhas pertinho da costa da Venezuela. Oficialmente, ele teria que ir para Santos e depois, Itajaí. Por algum motivo, o Qindao teria parado no Rio de Janeiro, informou uma fonte ligada ao meio marítimo.
Ontem à tardinha, o navio mercante deixou a barra de Itajaí e seguiu para Paranaguá. De lá volta pra Santos e depois, pra Cartagena.
Neno Eurípedos Pinheiro Filho, representante do armador CMA CMG em Itajaí, disse ontem ao DIARINHO que a empresa não iria se manifestar. A gente não pode dar qualquer tipo de informação sobre o ocorrido, afirmou, ao ser perguntado sobre a rota do navio.
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Portuários pensaram que era uma bomba
Aníbal Aragão, chefão da guarda portuária, contou ao DIARINHO que o momento mais tenso foi no começo da manhã, quando a caixa começou a ser retirada da proa do Qindao. Até então, lembra, ninguém sabia o que continha o caixote de 80 centímetros de comprimento por 30 centímetros de largura. O rumor que se espalhou entre os portuários foi o de que o objeto fosse uma bomba. A operação começou por volta de 7h e a mobilização foi grande porque não tínhamos nem ideia do que fosse. Por isso, trabalhamos com todas as possibilidades, afirmou.
Completamente lacrada, a caixa tava sustentada na grade do hélice da proa do cargueiro por quatro grandes parafusos.
O estivador Valter da Silva Rosa, 52 anos, que ontem tava de aniversário, foi um dos que temiam o pior. Quando vimos o esquadrão anti-bombas deu aquele susto, porque toda aquela movimentação não é comum por aqui. Mas ainda bem que não era bomba, né?, comentou, aliviado.
O esquadrão anti-bombas do qual o portuário fala era, na verdade, o grupo de policiais federais que usou uma embarcação inflável pra recolher o objeto.
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Hipótese da PF é que traficas faziam uma espécie de teste
O delegado Dinarte, da PF, acredita que Itajaí não era o destino final da maconha encontrada no costado do cargueiro CMA CGM Qindao Hamburg. Isto porque uma espessura razoável de craca envolvia a caixa que guardava a droga. A craca é um molusco marinho que, com o tempo, costuma se agarrar no casco das embarcações.
Pro dotô, tudo indica que se trata de tráfico internacional, já que o navio faz rota por vários países. Mas a polícia ainda não tem ideia de onde veio a erva do capeta.
A polícia faz duas especulações. Uma delas é de que a caixa grudada no casco do navio possa ter sido um teste. Caso desse certo, futuramente os traficantes usariam o esquema pra transportar drogas bem mais caras, como cocaína, por exemplo. Caso desse errado, os bandidos pouco perderiam, já que 56 quilos de maconha são fichinha pra eles.
Outra teoria é de que a maconha tenha sido perdida pelo destinatário por conta de algum problema. Por isso, a caixa tava há tempo suficiente na água pra pegar craca. É uma situação única, provavelmente foi abandonada ou perdida. Devia ser retirada antes e por algum motivo ou problema perderam o momento, arrisca dizer o delegado Dinarte.
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A PF nunca tinha feito uma apreensão de droga como a encontrada no porto de Itajaí, ou seja, por fora de uma embarcação. Mas casos semelhantes já teriam rolado em outros países, afirmou o delegado. A última apreensão de drogas no porto de Itajaí foi há pelo menos cinco anos, lembrou o dotô, quando um comandante encontrou em uma lata na cozinha do navio cerca de 30 quilos de cocaína.
O tráfico de maconha é pouco comum pelas vias marítimas ou aéreas, disse ainda o delegado. Mas todos os portos são visados pelos traficantes internacionais e Itajaí não está fora, lasca o policial.