O delegado Alan Pinheiro de Paula ainda mostrou à imprensa o lençol usado pelos presos para enforcar Jocimar. Mas o mais macabro de todos os indícios do crime é o bilhete que os malignos teriam obrigado o detento a escrever antes de ser assassinado.
A letra, cheia dos garranchos, é mesmo do homem morto. Mas há uma diferença de outras cartas que ele já escreveu. Pra polícia, a letra trêmula e irregular demonstra que Jocimar foi coagido a fazer o bilhete como uma forma de despistar o crime.
Nenhum dos três acusados admitiu o homicídio. Mas todos revelaram ter participado de uma briga no domingo, quando três presos foram espancados. Entre eles, Josimar. A polícia ainda não sabe o que motivou a agressão.
Há ainda um quarto autor do assassinato, Felipe Juan Schmitt, 31. Como ele já tinha sido ouvido pelos tiras da DIC, ontem ficou na Canhanduba. O delegado Alan de Paula disse que os envolvidos foram indiciados por tortura, homicídio e formação de quadrilha.
A simulação do suicídio de Josimar não deu certo, disse o delegado Alan, graças ao trabalho da perícia. O laudo feito pelos técnicos do instituto Médico Legal (IML) confirmou que a morte foi causada por asfixia por estrangulamento, mas que o coitado morreu antes do enforcamento. Além disso, as marcas encontradas no pescoço de Jocimar são diferentes das que seriam produzidas pelo lençol que suportamente serviu de forca.
Confusão começou com espancamento domingo
A confusão de domingo começou com o espancamento do traficante Ademir Moreira da Silva, 37. Marcelo, Ruan, Handerson e outros presos desceram a lenha no cara. Ademir chegou a sofrer afundamento no crânio. Enquanto ele era socorrido pelos agentes penitenciários, os presos começaram outro espancamento. Dessa vez, quem apanhou foi o estuprador Alisson de Souza Ramos, que saiu com o maxilar quebrado. A violência foi filmada pelos agentes prisionais.
Por algum motivo que a polícia ainda não descobriu, Jocimar também entrou na lista negra dos colegas de cela. A única coisa que os presos revelaram é que atacaram Alisson porque ele teria estuprado um sobrinho de cinco anos. Mas, pra polícia, a razão da violência é outra.
José Milton Ribeiro Santana, diretor do presídio, informou que os dois presos agredidos já estão em uma cela separada e alguns dos acusados serão removidos pra outra prisão.
Suspeitos contam sua versão pra morte
Os três acusados de matar e simular o suicídio do detento Jocimar aceitaram bater um papo com a imprensa ontem à tarde, quando foram oficialmente apresentados pela polícia. O trio nega o crime e tem o mesmo discurso: eles estariam tirando um cochilo na hora que Jocimar cometeu suicídio e por isso não viram o que aconteceu.
Lembra do estuprador famosão que tocou o terror na city peixeira no início deste ano? É o preso Marcelo, um dos acusados. Não conhecia ele e não ouvi nada. Tava dormindo na hora. Todos tavam dormindo porque tomam remédio afirmou. Na caruda, disse que não mataria ninguém na cela e que, se isso acontecesse, seria no pátio da cadeia. Se for pra tombar, tombo no pátio mesmo, faço mesmo! Não tive nada a ver com o verme morto, não preciso matar ninguém na cadeia, disparou, referindo-se a Jocimar.
Marcelo admitiu que espancou Alisson sob a irônica alegação de que não gosta de estuprador. Questionado sobre sua afirmação descarada, ele contou que também já recebeu ameaças por ter cometido o mesmo crime. Se ficam falando pra mim, faço engolir tudo, desafiou. Pra finalizar, o tarado deixou escapar que não gostava de Jocimar, mesmo depois de ter dito que não o conhecia. Esse cara pra mim é um merda, soltou.
Handerson foi preso em agosto por homicídio. Ele matou um colega com uma facada e já tem passagens por furto, ameaça, desacato e lesão corporal. Também alegou que tava dormindo e quando acordou já tinham chamado os agentes por conta do suicídio. Mas confirma que participou da briga no domingo. Se me botar com estuprador de novo, bato de novo, descascou.
Ruan tá preso por tráfico e tem ficha suja por furto, assalto e sequestro. Ele soltou a mesma versão dos demais: Acordei com o corpo (de Jocimar) agonizando. Não vi nada, tava dormindo, não vi escrever carta.