Aos 25 anos, Reginaldo Celestino, o Cecem, pediu que a mãe lhe ajudasse a realizar um sonho: ter um bolo de 35 metros de comprimento pra celebrar o aniversário de 35 anos, dali a 10 anos. Ontem, 6 de novembro, o bolo virou realidade. Rodeado de amigos, parentes e vizinhos, o protagonista da história sorriu, gesticulou e ameaçou uma dança ao som de música. Pra ele, viver é um sonho realizado todos os dias. Disseram que ele morreria com um ano e dois meses. Hoje ele comemora 35 anos, conta, emocionada, a mãe Marli Vicente Celestino, 56 anos.
Nascido e criado no seio do bairro Armação, em Penha, Cecem teve detectada uma paralisia infantil com 18 dias de vida. A notícia do médico só não foi mais trágica que a projeção de vida calculada ...
Nascido e criado no seio do bairro Armação, em Penha, Cecem teve detectada uma paralisia infantil com 18 dias de vida. A notícia do médico só não foi mais trágica que a projeção de vida calculada pelo dotô. Dona Marli lembra que o filho dificilmente chegaria ao primeiro ano de idade. O médico foi bem claro. Nós nos assustamos, pois o Cecem, naquela época, chegou a ter febre de 42 graus, lembra a mãe, que decidiu arrancar o filho do hospital e tratá-lo por conta própria. Nós o levamos para casa. Ele parou de tomar remédios. Hoje está aí, feliz, saudável, com 35 anos, diz Marli.
A doença, que o impediu de movimentar as pernas e falar, deu a ele a oportunidade de mostrar o quanto compreendia a palavra superação. Ele joga videogame, adora ver filme e também gosta de assistir a telejornais. Quer sempre estar bem informado, revela a mãe.
Aos cinco anos, Cecem escolheu o Flamengo como time do coração. O pai de Cecem, Gelásio André Celestino, 56, pescador em Penha, revela que a opção do filho pelo time rubro-negro foi casual, mas motivada por um sentimento bem pessoal. Eu mostrei a ele os escudos de Botafogo, Flamengo, Vasco e Fluminense, e ele apontou para o do Flamengo. Disse que seria flamenguista até morrer, recorda seu Gelásio. Ontem, enquanto Cecem festejava o aniversário com os amigos, o time do coração lhe presenteou com uma goleada de 5 a 1 contra o Cruzeiro.
Sonho de 35
Um murmúrio chamou a atenção de dona Marli em novembro de 2001. Com os gestos característicos, Cecem tentava explicar o que pediria à mãe em seu aniversário de 35 anos. Ele falou como se quisesse 35 bolos. Depois levantou os braços, e eu perguntei se era algo maior. Depois que eu compreendi que era um bolo de 35 metros. Aquilo me emocionou, narra.
Pra dona Marli, não era um pedido comum. O filho transmitia a vontade de viver 10 anos mais. No fundo, ele sabia que poderia não viver para comemorar o aniversário. Mas viveu. E nós também vivemos para dar esse presente a ele, concluiu Marli.
Em 2009, a força de vontade de Cecem fez dele personagem símbolo do Carnaval de 2009 na Capital do Marisco. A história de vida do filho de dona Marli foi o enredo do bloco de sujos penhense. A música-tema do grupo, aliás, cujo refrão lembra o exemplo de superação de Cecem, foi tocada e dançada ontem, durante o aniversário.
Bolo do tamanho da alegria
Trinta e cinco metros de bolo esperaram as cerca de 200 pessoas no campo do Beira-Mar, na Armação, pra comemorar o aniversário de 35 anos de Cecem. O doce, preparado voluntariamente pelas alunas do curso de culinária da prefa de Penha, levou 40 quilos de coco, 30 de doce de leite e 45 de glacê. Os ingredientes foram doados pela vizinhança, que contribuiu ainda com 1200 refrigerantes. Fui de porta em porta pedir. Toda a massa do bolo foi doada por uma amiga do Cecem que mora em Joinville, finaliza a mãe do aniversariante.