Itajaí

46 dimenores já fugiram do CIP de Itajaí em 2011

Estrutura do centro de internamento não dá conta de segurar a rapaziada trancafiada por ordem da dona justa

O número é de assustar. Já foram 46 adolescentes que fugiram este ano do centro de Atendimento Socio-educativo Provisório (Casep), antigo centro de Internamento Provisório (CIP) de Itajaí. Se levarmos em consideração que já estamos na 45ª semana do ano, é mais de um dimenor envolvido com o mundo do crime que toda semana siscapole daquele local, que fica na rua das Hortênsias, no popular bairro Cidade Nova, periferia da cidade.

Os últimos dois rapazes fugiram do Casep na quinta-feira da semana passada. Ajudaram a jogar as estatísticas ainda mais pra cima. Pelos relatórios da polícia Militar, com mais esta fuga subiram ...

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Os últimos dois rapazes fugiram do Casep na quinta-feira da semana passada. Ajudaram a jogar as estatísticas ainda mais pra cima. Pelos relatórios da polícia Militar, com mais esta fuga subiram para 12 os registros de ocorrência este ano relacionados às escapulidas dos internos do antigo CIP. Este número já supera a quantidade de ocorrências de todo o ano passado, quando em 10 ocasiões rolaram escapadas do centro.

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Mas não é só o número que assusta. A frequência com que rolam as fugas também reforça a infeliz estatística do Casep. Só no dia 19 de março, 16 internos fugiram pouco antes do meio-dia. Cinco deles foram recapturados horas mais tarde. No mesmo dia, à noitinha, três dos que haviam fugido de manhã siscafederam novamente.

Junho foi o mês com maior número de ocorrências de fuga do centro. A PM peixeira gerou três boletins num intervalo de 12 dias durante aquele período. Ao longo do mês das festas juninas, quatro internos siscapuliram e um deles foi recapturado pela PM. Apenas nos meses de fevereiro, maio e julho não rolaram fugas por lá.

A estatística da PM revela ainda que quatro das 12 evasões rolaram pouco depois ou próximo do meio-dia. “Eles se aproveitam porque o pessoal está envolvido com o almoço ou outras atividades”, explica a sargento Sandra Kaísa.

Estrutura facilita as fugas

O que a polícia costuma classificar como evasão ou fuga, a coordenadora do Casep, Helen Pizzato, prefere chamar de “tentativa de liberação” por parte dimenores. O sucessivo número de escapulidas, interpreta, seria em parte fruto de uma concepção equivocada plantada pela mídia na cabeça da molecada internada. “O pessoal acha que isso aqui é uma prisão. São adolescentes, não bandidos-mirins”, lasca, numa alfinetada à expressão que o DIARINHO costuma usar.

Pra chefona do Casep, as fugas têm ainda a ver com uma característica do público internado. “Eles têm família lá fora, namoradas, pai, mãe e alguns até filhos. Estão na fase de plena energia. Não vão querer ficar aqui dentro”, argumenta.

Helen admite que a estrutura do centro facilita a fugida da pirralhada mais corajosa. “Os muros são baixos e fracos. Outro dia conseguiram quebrar o muro com uma garrafa de dois litros de água congelada”, revela.

O Casep de Itajaí tem uma estrutura pra abrigar 29 adolescentes. Atualmente, tem 26. Todos foram encaminhados pra lá por determinação da dona justa por terem praticado algum crime. Como a lei brazuca não permite punição pra dimenores igual à dada aos adultos, a rapaziada acaba indo pros Caseps. Mas, discursa Helen, o local tá longe de ser uma prisão pros jovens infratores da região. “A mídia confunde com prisão”, volta a reclamar a coordenadora do centro.

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Delegado diz que tá preocupado com fugas

O dotô Fabrício Loch, da delegacia da Criança e do Adolescente de Itajaí, diz que o problema das fugas do Casep é de conhecimento da polícia Civil peixeira. Ele já manifestou aos seus superiores sua preocupação com as constantes escapadelas daquele local, afirma. “Isso nos deixa em alerta, pois é um lugar onde eles deveriam ficar internados. O problema é que a administração não depende da polícia Civil”, faz questão de dizer.

Pro delegado, que conversou por telefone com o DIARINHO, apesar do esforço do Casep em tentar recuperar os adolescentes infratores de Itajaí e região, o trampo desenvolvido por lá é incapaz de solucionar o perrengue. “É um trabalho essencialmente de ressocialização. Creio que dificilmente esses adolescentes vão se reabilitar num órgão. É preciso educar desde o início”, opina.

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Local tá mais pra internato do que pra prisão de dimenores

O DIARINHO teve acesso às instalações do Casep do bairro Cidade Nova. Esqueça a ideia de um ambiente pesado, frio e maligno. O lugar está mais para uma escola de regras rígidas do que uma prisão para adolescentes. São funcionários da ong Associação Opção de Vida, contratada pelo governo do estado, quem toca o centro.

Internado por determinação judicial, o dimenor chega ao Casep e vai ocupar uma das quatro alas que tem lá: A, B, C ou a de ressocialização. Isso depende do comportamento. Os mais problemáticos - ou perigosos, como se queira chamar - vão direto pra A ou B. Nas outras duas ficam os rapazinhos em estágio final de recuperação.

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Com arrego, aos sábados, os internos da ala de ressocialização têm o direito de passar o finde com os familiares. Todos, no entanto, têm o direito de se comunicar com a família por telefone durante as segundas-feiras.

Têm hora pra levantar e dormir

Os hóspedes do Casep têm hora pra levantar, almoçar, se recolher e dormir. Acordam às 7h da matina, tomam o café da manhã e seguem para as atividades pedagógicas. Uma fessora do centro de Educação de Jovens e Adultos (Ceja) leciona disciplinas básicas como matemática e português durante meio período e, na outra metade do dia, trampa como pedagoga. Um fessor de educação física também dá aulas pra garotada às terças e quintas-feiras. Dez educadores, no total, trabalham dentro do Casep.

Há ainda outras atividades no local. “Depois das aulas eles almoçam e participam de oficinas na parte da tarde. Todos têm cinco refeições por dia, com café da manhã, almoço, lanche da tarde, janta e lanche da noite”, explica Helen.

A coordenadora do centro diz que a rapaziada tem, toda semana, atendimento médico, de dentista e de uma psicóloga, que avalia a condição de cada interno ou de uma turma com características semelhantes. “Todos os dias, seis horas por dia, um psicólogo avalia cada um, individualmente ou em grupo”, revela a mandachuva.

O dia dos internos termina às 19h, quando todos são obrigados a ir pro quarto. Às 22h rola o toque do silêncio, quando as luzes são apagadas e a galerinha tem de pegar no sono na marra.

Vizinha do Casep vive cotidiano de medo

Adriana Neis, 33 anos, mora em uma das ruas próximas ao Casep e trampa em um mercadinho em frente ao centro, na rua das Hortênsias. Por isso, conhece bem a rotina das escapadelas dos internos.

Em uma das fugas, lembrou, o dimenor entrou no carango de um vizinho de 17 anos que havia acabado de chegar. “Os policiais bateram nos dois, achando que ele também era fugitivo”, contou.

Mãe de um menino de nove anos, a mulher afirmou que treme de medo toda vez que ouve falar de uma fuga no antigo CIP. “A gente fica o dia inteiro com os portões fechados. Não deixo o meu menino sozinho na frente de casa”, disse.

Rapaziada tem dificuldade em seguir regras

Pra psicóloga Taísa da Silva Cassol, que trampa no DIARINHO, é praticamente impossível manter internado um adolescente que já não seguia regras bem definidas em casa. A dureza do internato, analisou, é a gota d’água e um dos agentes motivadores da fuga. “Eles perdem a liberdade de escolher a hora que querem acordar, comer, dormir”, comenta a psicóloga, completando: “Ali, ele não é dono do seu tempo. Se não tinha um controle formal da família, não obedecia a regras em casa, vai se sentir em uma prisão”.



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