Se você acha que a greve que desde 27 de outubro paralisa as atividades no cais da APM, antigo Teconvi, tem a ver somente com os 54 conferentes portuários e os gringos que arrendam o terminal, é porque tá esquecendo do que aconteceu em 2008. Com a enchente daquele ano, quando o terminal parou por três semanas e funcionou meia boca por mais de três meses, o problema arrastou pro prejuízo financeiro praticamente toda a cidade. As pessoas têm memória curta. Não estão recordando de 2008, alerta Robert Grantham, diretor executivo do porto público.
O alerta não é exagerado. Se tomar como base 2008, quando todas as perdas da cadeia produtiva portuária foram colocadas na ponta do lápis, os prejuízos com a paralisação atual do APM chegam hoje ...
O alerta não é exagerado. Se tomar como base 2008, quando todas as perdas da cadeia produtiva portuária foram colocadas na ponta do lápis, os prejuízos com a paralisação atual do APM chegam hoje à assustadora cifra de R$ 20,5 milhões ou algo perto disso. E isso só contando o trampo do vai-e-vem de contêiner pela cidade, sem levar em conta o valor da mercadoria que ele carrega.
A direção do porto público prefere não chamar de preju. Tem outra expressão pra isso. Não falamos em prejuízo mas em dinheiro que deixa de circular na economia, afirma Robert.
Antes de conhecer a fórmula para os R$ 20,5 milhões que deixaram de movimentar a cadeia portuária peixeira, é preciso entender que a vida econômica de Itajaí pulsa através do porto. Não são apenas os gringos donos do APM Terminals e os conferentes que sofreram com a briga. Não basta ver apenas quem está ligado à movimentação das cargas, observa Robert Grantham. Além do tira-e-bota de mercadorias nos cargueiros, da desova dos contêineres, dos fretes, dos despachantes e dos agentes marítimos, tem uma lista enorme de outras atividades econômicas que dependem do trabalho portuário. Tem o posto que não vendeu combustível porque os caminhões ficaram parados, o borracheiro que não trocou pneu, o boteco da esquina que não vendeu o lanche pro portuário ou pro motorista, a compra que a mulher do estivador não vai fazer porque o marido não trabalhou, dispara o diretor executivo (veja abaixo todos os atores ligados diretamente à cadeia portuária de Itajaí). Na página 8 desta edição tem mais informações sobre a greve dos conferentes.
Como botar o preju na ponta do lápis
De janeiro até outubro, os portuários que ralam no APM movimentaram uma média de 758 contêineres por dia. No elas por elas, diz o diretor executivo do porto Público de Itajaí, cada contêiner parado deixa de movimentar na cadeia produtiva algo entre R$ 1,5 mil e R$ 1,8 mil. Isso, desde que ele chega no navio até a desova num depósito ou através do caminho inverso. Levando em conta que o APM é responsável por 46,8% dos contêineres movimentados no complexo portuário do rio Itajaí-açu, dá pra ter uma ideia do tamanho do preju com a paralisação do terminal.
Portuários e motoristas são os mais prejudicados
Uma das categorias que mais tá amargando prejuízos com todo o perrengue no APM são os trabalhadores portuários. Esse pessoal, contratado por sindicatos através do órgão Gestor de Mão de Obra (OGMO), não pode carregar nem descarregar os contêineres porque as mercadorias não foram vistoriadas pelos conferentes, que começaram a greve em 27 do mês passado. Itajaí tem pouco mais de 600 trabalhadores portuários que tão sem ganhar um puto dum tostão desde 29 de outubro.
Outras três mil pessoas também se lascaram com a suspensão da movimentação no cais do APM. São os transportadores autônomos. Além de não serem contratados pela transportadora que tem negócio exclusivo com o terminal, deixaram de fazer o leva-e-traz de contêineres vazios entre os depósitos e o porto. Não bastasse iso, reclama Ademir de Jesus, presidente do sindicato dos Transportadores Autônomos de Contêineres, até quem trampa pro porto de Navegantes tá se dando mal. É que parte da carga do APM foi transferida pro Portonave, que praticamente dobrou sua movimentação e não tá dando conta do serviço. O tempo de carga e descarga de um contêiner, que já era grande e demorava umas três horas, agora tá levando seis horas e o motorista perde com isso, bufou o sindicalista. Além disso, ontem pela manhã, por falta de espaço pra estacionar no pátio dengo-dengo, muitos motoristas ficaram na rua e acabaram multados pela guarda de trânsito de Navega, contou Ademir, que teve que ir às pressas pro outro lado da vala pra tentar minimizar o problema.
Com essa paralisação, além do prejuízo financeiro, estamos perdendo credibilidade enquanto complexo portuário. E o pior é que o poder público nada faz pra resolver.
Ademir de Jesus presidente do sindicato dos Transportadores Autônomos de Contêineres (Sintracon) de Itajaí e Região