O júri popular que botou no banco dos réus três dos cinco acusados da morte do deficiente Eneri de Souza, 59 anos, em agosto de 2008, varou esta madrugada. À meia hora da madrugada desta quinta-feira, o advogado de um dos réus ainda discursava para a plateia que, atenta, lotava o salãozinho do fórum de Camboriú, com seus 66 lugares. Pelo andar da carruagem, tudo indicava que os irmãos Anderson e Paulo Souza, que teriam sido os pistoleiros, seriam condenados. A dúvida pairava sobre a participação de Isaías Ferreira Santiago, o Pelé, apontado como o homem que intermediou a contratação dos pistoleiros a mando do ex-prefeito Edson Olegário, o Edinho. Ele e seu ex-cunhado, Wagner Souza, que teria dado a grana dos matadores, conseguiram temporariamente escapar do júri popular.
O julgamento começou lá pelas 10h da matina. Uma hora de atraso que ajudou a aumentar a tensão já esperada para o júri. Até pouco antes do início, a família de Eneri permaneceu firme no hall de ...
O julgamento começou lá pelas 10h da matina. Uma hora de atraso que ajudou a aumentar a tensão já esperada para o júri. Até pouco antes do início, a família de Eneri permaneceu firme no hall de entrada do Fórum, por onde passavam pessoas ligadas aos três acusados e até mesmo os réus. Apenas cinco policiais faziam a segurança do local.
Cinco mulheres e dois homens, com idades entre 18 e 40 anos, integraram o corpo de jurados. Ângelo e Toninho, irmãos de Eneri, e Liliane, a cunhada, foram as primeiras testemunhas a depor. Enquanto estas testemunhas de acusação eram interrogadas pelo promotor e pelo advogado, Anderson e Paulo, acusados de terem cometido o assassinato, permaneceram o tempo todo de cabeça baixa.
Pelé, apontado como o homem que intermediou a contratação dos pistoleiros a mando do ex-prefeito Edson Olegário, o Edinho, encarou por várias vezes o júri. Foi ele o primeiro acusado a dar depoimento e a responder as perguntas da juíza Camila Coelho.
Pelé negou que tenha contratado os pistoleiros a mando de Edinho, de quem era guarda-costas na época do crime. Também enfrentou com firmeza a pressão do promotor André Melo, que trouxe à tona uma condenação que o segurança teve por assalto, em Ituporanga, em 2007.
Pistoleiro assumiu o crime
Mas a parte mais chocante do julgamento foi quando Anderson admitiu que fuzilou Eneri. Dona Laudelina de Souza, mãe do deficiente, não resistiu e soluçou ao ouvir a confissão. O próprio assassino botou as mãos no rosto e também despencou em lágrimas.
Ainda em seu depoimento, Anderson confirmou que ele foi contratado para apedrejar Ângelo, irmão de Eneri, que era desafeto de Edinho. Seria Wagner Correia de Souza, ex-cunhado de Edinho, quem lhe daria R$ 3 mil pelo serviço. Também disse que o irmão Paulo nada teve a ver com a bronca.
Na sua alegação, disse que, como achou que seria mais prático atirar com um revólver do que usar pedras, preferiu a arma de fogo. Ele alegou que dois tiros que deu foram para o alto para assustar o alvo e outros dois disparados no momento em que se desequilibrou da moto. Foi aí que os tiros atingiram Eneri, que ele pensava ser Ângelo.
O Anderson matou, mas alguém maquinou este crime. Falou vou matar o Ângelo porque sou coronel, patrão, amigo do governador. A afirmação foi do promotor André, fazendo referência a quem considera o mandante do crime: o ex-prefeito Edinho Galo.
Advogado jogou a toalha
Já os advogados de defesa, mesmo com a confissão de um dos réus, começaram com a tese da falta de provas. Em especial no caso de Pelé. Também questionaram a testemunha que não teve o nome revelado durante todo o processo e que, mesmo ligada a Edinho, teria dedurado o esquema criminoso.
A defesa também se apegou na acusação de que os irmãos Anderson e Paulo teriam sido torturados pela polícia Civil para confessar o crime. A acusação de tortura foi também feita por Anderson durante seu depoimento. No final das contas, já perto da meia-noite, o advogado de Anderson jogou a toalha e pediu ao júri uma pena menor para seu cliente, alegando que ele não tinha intenção de matar o deficiente.
À meia hora desta madrugada, os advogados de defesa ainda continuavam seu discurso, transformando este no julgamento mais longo da história da Capital da Pedra.
Independentemente do resultado deste júri, a família de Eneri espera a condenação de Edinho, a quem acusam de ser o mandante do crime. Eneri morreu no lugar do irmão Ângelo, desafeto político do ex-prefeito e com quem foi confundido.
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