O exagero se justifica. As cavernas de Botuverá - e em especial a que está aberta à visitação pública - são consideradas as mais belas do sul do país por conta da imensa variedade de formas, que foram sendo forjadas ao longo de 65 milhões de anos. Existem grutas e furnas em alguns municípios de Santa Catarina, porém nenhuma delas possui a beleza semelhante a de Botuverá, afiança o geólogo Sérgio Freitas Borges, da universidade do Vale do Itajaí (Univali).
Pro pessoal que administra o parque Municipal das Grutas de Botuverá, a posição de importância que uma das cavernas de lá ocupa no ranking da espeleologia brasileira é ainda maior. Em virtude de sua beleza e porte, é considerada a maior e mais ornamentada gruta do Sul do Brasil, sendo visitada há mais de 20 anos, diz a apresentação do site do parque.
Pelo bem da verdade, a de Botuverá é a segunda em extensão entre os três estados do sul, perdendo para a Gruta de Lancinhas, no Paraná. Mas o que ninguém discorda, é que a de Botuverá é a mais bonita de todas.
Visitantes podem se maravilhar com a beleza de três dos nove salões da gruta
A entrada é singela. Chega a ser feia. É um buraco no meio da rocha, do tamanho de uma porta comum, protegida com uma grade de ferro mantida sempre cadeada. A pequena fenda, que se estende por cerca de 50 metros até que todo o esplendor da caverna se revele, é quase como um portal para outro mundo.
É a partir desse ponto, que começa uma verdadeira viagem. Ver de perto as estalactites e as estalagmites gigantes é impressionante, surreal, psicodélico, dispara a blumenauense Juliana Ferreira, 33 anos, referindo-se ao impacto que teve quando chegou ao primeiro e maior salão da gruta.
Juliana esteve no começo do mês em Botuverá fazendo um pesquisa de campo com colegas da faculdade de História da Furb. Aproveitou o tempo de folga e foi conhecer as famosas cavernas da cidade. Chegamos a ficar sentados um bom tempo numa galeria, apreciando o último salão. Aquilo lá é fantástico!, elogia.
O espanto da estudante blumenauense com tanta beleza não é de graça. As outras cavernas que existem na região sul ocorrem em outros tipos de rochas diferentes ao calcário. Estas rochas, arenitos e basaltos, não formam espeleotemas tão pujantes como os da caverna de Botuverá, explica o geólogo Sérgio Freitas Borges.
Abundância de formas
É justamente na profusão de formas que reside a riqueza estética da grande caverna de Botuverá. A partir da fenda inicial, elas aparecem em toda a extensão dos 1099 metros de túneis e salões da gruta. São ao todo nove grandes câmaras e somente as três primeiras podem ser apreciadas pela gente comum. A visitação é limitada a 220 metros. Nos outros locais só podem ocorrer visitas técnicas, informa a guia Josiane da Silva. O motivo, explica, é a preservação tanto da caverna quanto dos animais que vivem por lá.
São tantas formas e dos mais variados tamanhos que faltaria espaço pra descrevê-las.
E são essas formações rochosas que seduzem os visitantes. Eu não tinha noção do que ia encontrar. Não tinha ideia de que a natureza poderia se unir de uma forma tão perfeita. Achei muito lindo, comenta, feito gente grande, a estudante Ana Gabrielle, 12 anos, de Joinville. Dá a impressão que a gente tá naqueles filmes de Indiana Jones. As formas parecem até esculturas, completa, com uma euforia juvenil, a professora Nilda Helena Bibow, 40, que acompanhava a turma de Ana.
Comece a ler por aqui
Você vai achar estranho, mas pra facilitar sua leitura, comece a saborear o texto por aqui. É um pequeno vocabulário que o ajudará a entrar melhor no clima das cavernas.
Espeleologia
É a ciência que estuda as cavidades naturais da terra, como as cavernas, grotões ou fendas.
Espeleotemas
É como os estudiosos chamam as mais variadas formações encontradas no interior das cavernas.
Estalactite
São sedimentos que se formam no teto das cavernas e crescem pra baixo. A água que escorre em gotas vai arrastando e juntando o calcário, que forma as estalactites. Geralmente tem formas de tubos ou cones.
Estalagmite
São praticamente a mesma coisa que suas irmãs estalactites. A diferença é que crescem do chão e vão em direção ao teto. São formadas pelo calcário que vai caindo ao poucos com a água que goteja geralmente das estalactites.