Não existe tempo ruim pra Marcelo Gervásio Silva, mais conhecido como Marcelo Pedal Verde. O carioca de 49 anos não vê problema em dormir no chão, em posto de gasolina ou em qualquer outro lugar com pouco conforto. Aventureiro, como se define, Marcelo chegou à city peixeira durante a aventura de fazer o trajeto entre Amapá e o Chile de skate. Sem contato com ninguém da city, Marcelo sipreparava pra dormir em plena BR quando, dando uma rolê, seus equipamentos chamaram a atenção. Um cara que trabalha aqui, engenheiro ambiental, me viu, começamos a conversar e ele me chamou pra ficar na casa dele. O espaço era pequeno, mas dava pra ficar. Aí o marido [Alex Rocha] da Lu [Lucimara Pimentel Guzatti], que é diretor do Itajaí Mais Verde, me convidou pra ficar aqui.
A primeira prancha de skate ele ganhou do irmão quando tinha só três anos. Fui andar, caí no corredor, mas naquele dia adorei andar de skate, relembra com um carioquíssimo sotaque. Filho do cineasta ...
A primeira prancha de skate ele ganhou do irmão quando tinha só três anos. Fui andar, caí no corredor, mas naquele dia adorei andar de skate, relembra com um carioquíssimo sotaque. Filho do cineasta Hélio Silva, Marcelo aproveitou a boa vida da família pra estudar e acumular histórias no esporte. Andei de skate, fui jogar bola, saltei de paraquedas, fui triatleta, alpinista, maratonista, surfista.
Sua primeira grande aventura rolou na década de 1990, quando ele passou seis anos viajando de ziquinha pelo mundo, entre 1990 e 1996. Saí de casa meio do nada, passei oito meses fora, minha mãe achou que eu tinha morrido, lembra.
Apesar da experiência nas rodinhas, sua primeira grande aventura de skate rolou só em 2009: uma viagem de 2327 km entre Goiás e a Cidade Maravilhosa. Não sabia o que esperar, me surpreendi. Lembro de cada segundo dessa viagem, garante, e pra provar cita o nome de cada cidade que ele passou no trajeto, quase 80. Além do tamanho do skate, Marcelo chama a atenção pela bagagem (alimentação, medicamentos, equipamentos eletrônicos e artigos de camping), tudo levado na prancha. Pra completar, ainda tem um capacete com uma filmadora acoplada. O aventureiro leva uma câmera fotográfica no braço, usada pra fotografar cada placa de distância que ele cruza nas estradas.
Sua viagem atual começou no dia 7 de janeiro no Amapá, na fronteira com a Guiana Francesa, e de lá veio descendo pelo mapa até pintar na city peixeira na sexta-feira passada. Desde então tá abrigado no Viveiro Fazenda Nativa. Mas nem sempre consegue abrigo. Na serra entre São Paulo e Paraná parei num posto, que tava fechado, e montei minha barraca ali no chão. Pouco depois passou um bandido que tinha roubado um caminhão, bem perto de mim. Aí pensei em sair dali, fui pra laje que tinha em cima do banheiro feminino e montei a barraca lá, conta.
Pra fazer a viagem, o aventureiro já gastou 63 mil reales do próprio bolso. Seu companheiro é um skate de viagem com seis rodas, que foram feitas pela turma da universidade paulista PUC. Tenho roda pra cada tipo de terreno, como asfalto, terra e gelo. Apesar de encarar as estradas sozinho, Marcelo lembra da ajuda que recebe nas paradas e de quem dá uma força na aventura. Sou apoiado pelo Ruy Jardim, da Interaction, pelo projeto Itajaí Mais Verde e Bianca Firmo.
Da city peixeira, Marcelo vai pra Urubici pra tentar quebrar o recorde de subida de montanha. Ele ainda passa por Lauro Muller até chegar em Tubarão. O prefeito lá destruiu a pista de skate pra construir estacionamento. Vou comprar essa briga, garante. Onde ele passa se reúne com skatistas e ajuda as federações de skate locais a integrar as cidades. Após deixar a Santa & Bela, ele vai passar pelo Rio Grande do Sul, Uruguai e Argentina, antes de chegar ao Chile onde para e pega um avião pra Brasília. Vou fazer um protesto mostrando o estado das nossas estradas e também pela integração do skate nacional. Depois ele vai dar um tempo pra pensar qual será a próxima aventura.