Matérias | Entrevistão


Itajaí

Marcos Vieira (PSDB), deputado estadual

“Nós cometemos um pecado, que foi ao longo desses últimos 10 anos, investir em cima de uma única pessoa”

Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]


Um episódio dentro do ninho tucano entrou pra história recente da política de Santa Catarina. Contrariado, no calor de uma discussão, Leonel Pavan (PSDB) esmurrou a mesa. Mas o descontrole saiu caro. O ex-governador quebrou dois dedos da mão. Pra quem se pergunta “o que teria tirado Pavan do sério?”, a resposta está nesta entrevista. O deputado estadual Marcos Vieira (PSDB) foi quem “contracenou” com o ex-governador nesse momento que ficou qualificado entre o bizarro e o histórico. O DIARINHO aproveitou o fato de o parlamentar ter presidido uma audiência pública que discutiu a idade penal, esta semana, pra entrar também nos assuntos político-partidários e desbravar o interior do ninho tucano por um prisma que não seja o de Pavan.


Marcos Vieira concedeu entrevista aos jornalistas Cláudio Eduardo e Mariana Reibnitz Vieira, sob os cliques de Patrick Formosinho. Um bate-papo sem rodeios. E com direito a comentários nos bastidores ...

 

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Marcos Vieira concedeu entrevista aos jornalistas Cláudio Eduardo e Mariana Reibnitz Vieira, sob os cliques de Patrick Formosinho. Um bate-papo sem rodeios. E com direito a comentários nos bastidores. Antes dos gravadores serem ligados, explicamos que algumas perguntas eram mais picantes, outras estavam mais pra bolas na marca do pênalti e sem goleiro. Era só marcar o gol! “Mas tem uns que conseguem errar o pênalti”, rebateu o tucano. Depois, já com os gravadores desligados, o deputado lança uma frase solta (talvez por não ter conseguido encaixá-la entre as respostas das 15 perguntas): “eu tenho orgulho de ser político!”. E fez-se o silêncio.



DIARINHO - Depois da audiência pública que discutiu a idade penal, o que o senhor concluiu? A redução da maioridade é uma fórmula pra diminuir o envolvimento de adolescentes no mundo do crime?


Marcos Vieira - Uma coisa me chamou a atenção: a maciça participação das pessoas e das entidades que desejam a manutenção da idade penal da forma como está, com 18 anos. Do outro lado, a ausência completa do contraditório e todas aquelas pessoas que já são vítimas, foram vítimas, tão sendo vítimas dos crimes praticados pelos adolescentes. À exceção do promotor Thiago Carriço de Oliveira, todos foram pela manutenção. Se você tivesse me feito essa pergunta há 10, 15 anos, eu seria radicalmente contra a redução. Hoje confesso que estou balançando, em razão dos números alarmantes que são colocados na imprensa todos os dias. E eu quero aqui deixar uma pergunta no ar: será que muitos dos adolescentes que hoje têm 15, 16, 17 anos já não têm uma idade psicológica de um adulto? Físico de um adulto? Essa é uma pergunta que tem que ser examinada. E realmente é verdade. Agora, o que nós não podemos deixar de ter é uma busca incessante primeiro nas causas que tão levando ao aumento da criminalidade; em segundo, na busca incessante também na solução do problema, seja com redução da idade penal ou seja com a implementação de políticas públicas. Inclusive com a aceleração do processo da escola integrada de Santa Catarina. O meu pai sempre dizia: “meu filho, fique ocupado”, “meu filho, vai fazer alguma coisa”, “meu filho, cabeça vazia é oficina do diabo”. E é verdade.


DIARINHO - Como presidente da comissão de Segurança Pública na Assembleia, o senhor tem algum poder além da articulação? E ao articular o senhor está sendo ouvido pelo governo?

Marcos - É comum o governador Raimundo Colombo, como já foi o governo Luiz Henrique, reunir a base que lhe dá sustentação, bem como também os líderes e os presidentes das comissões, pra saber de cada um dos temas que tramitam nas comissões. E é claro que, quanto ao sistema de Segurança Pública de Santa Catarina, nós estamos sendo procurados pra também opinar acerca dessa situação. Da mesma forma, também como hoje, em razão de alguns projetos importantes e relevantes que tramitam nessa casa, principalmente no que diz respeito à área financeira, o governador reuniu os líderes e os presidentes das comissões de Justiça, Finanças e Tributação. Nós fomos procurados, sim.

DIARINHO - Entre superlotações de presídio, possibilidade de paralisação da polícia Civil, crimes envolvendo policiais militares e falta de efetivo, dá pra destacar qual é o maior problema do estado em Segurança Pública?

Marcos - Os crimes praticados por policiais militares são mínimos, quase irrisórios. Não vejo problema. A greve dos policiais civis eu quero crer que, usando o bom senso, não vai ocorrer. A busca da conversação é importante. Tem que continuar conversando. Nós vamos entrar numa alta temporada e a população catarinense, como todos aqueles que buscam lazer em Santa Catarina, não tem culpa de não ter um acordo entre as partes. Então por isso que o bom senso tem que ser usado. O que causa preocupação é o sistema carcerário. O sistema prisional de Santa Catarina, infelizmente, está falido e precisa de vultosos recursos pra serem investidos. Tanto no que diz respeito à construção e disponibilização de novas vagas quanto na reeducação daquelas pessoas que estão lá dentro. É muito importante nós partirmos pra isso. É muito preocupante. Até porque nós praticamente dobramos o número de encarcerados em Santa Catarina nos últimos oito, 10 anos. Então dobrou-se a quantidade de pessoas encarceradas e pouco se aumentou o número de vagas disponíveis.


DIARINHO - O senhor acompanhou as denúncias feitas pelo deputado Jailson Lima (PT) sobre as irregularidades na concessão de aposentadorias pros servidores da Assembleia? Concorda com a gravidade aparente, ou superestimaram o assunto?

Marcos – Infelizmente, nós, deputados desta legislatura, estamos pagando pelos erros que se praticaram há 30 anos. E aí eu vou me permitir dizer que a própria imprensa tem que fazer a mea culpa de que quando ela divulgou pelo estado afora, Brasil afora, teria que insistentemente ter dito que foi praticado há 30 anos. Eu repito: não concordo e têm que serem apurados severamente os atos de aposentadorias ilegais praticados há 30 anos. [Isso prejudicou a instituição?] Prejudicou o parlamento como um todo. Não prejudicou o deputado Marcos Vieira, mas foi a instituição que saiu manchada, tem hoje um pecado que dificilmente a população vai perdoar. É a instituição. Ou seja, depois de um trabalho de resgate, de dignidade parlamentar, essa denúncia do deputado Jailson Lima fez com que o parlamento catarinense voltasse pra um nível mais baixo. Não tendo culpa nós, deputados atuais.

DIARINHO - O PSD já trabalha pra reeleição de Raimundo Colombo; o PMDB tem o sempre vice, Eduardo Pinho Moreira; o PSDB vai aceitar ser coadjuvante de novo pra sustentar a Tríplice Aliança?


Marcos – Eu quero realizar um sonho. Que é o de ter finalmente um candidato ao governo do estado pelo PSDB. Eu trabalhei incansavelmente junto com outros companheiros pra que nós pudéssemos ter, na eleição passada, esse candidato. Infelizmente, não pudemos. Nós [o partido] cometemos um pecado, que foi ao longo desses últimos 10 anos investir em cima de uma única pessoa. O meu projeto de eleição pra executiva estadual do PSDB era no sentido de projetar uns três, quatro, cinco nomes pra que o PSDB pudesse solidificar um desses nomes e aí sim, partir pra uma candidatura ao governo do estado. Mas, com certeza absoluta, mesmo eu não tendo ganho a convenção, eu continuo lutando para que nós possamos ter um candidato em 2014. Seja ele o próprio Leonel Pavan, seja o senador Paulo Bauer, seja o deputado Jorginho Melo, o deputado Marcos Tebaldi... Enfim, o PSDB tem nomes de gabarito pra se colocar à disposição do partido e ser candidato ao governo do estado. Com certeza absoluta nós não seremos coadjuvantes desse processo. [Na última eleição o senhor disse que lutou, tentou.. Então o principal empecilho foi só ter um nome, uma única direção que seria o nome do Pavan?] Eu não vou falar em empecilho. Eu quero falar numa coisa mais propositiva. Qual era o meu projeto? Era não cometer erros que em outras agremiações outros líderes cometeram. O de se perpetuar no poder. A nossa intenção ao ser eleito presidente do PSDB de Santa Catarina, era compor uma executiva mesclada de líderes mais velhos, mais experientes, com líderes emergentes, para que juntos pudessem fazer com que o partido tomasse um rumo da continuidade e do crescimento. Dois, três anos depois, esses líderes mais experientes sairiam fora e aí os líderes emergentes estariam aptos a comandar o partido e aí estaria garantido o ciclo de crescimento do PSDB de Santa Catarina. Com certeza absoluta. O que outros partidos não fizeram e tiveram depois, ao longo dos anos, e aí se provou a história das eleições, um decréscimo de votação. Eu vou dar um exemplo. Um partido xis que há anos obteve um milhão e 400 mil votos pra deputado estadual, na última eleição fez 920 mil. Isso é decréscimo eleitoral. É isso que nós não queremos pro PSDB de Santa Catarina.

DIARINHO - Com o surgimento do PSD, teve deputado tucano saindo do ninho. Hoje a bancada do PSDB está unida?

Marcos - Nenhum deputado do PSDB saiu do ninho. Me diga um. [O Eskudlark, não?] Não! Ele é suplente. O PSDB continua com seis deputados eleitos. Deputado Dado Cherem, deputado Nilson Gonçalves, deputado Gilmar Knaesel, deputado Dóia, deputado Serafim Venzon e deputado Marcos Vieira. Nenhum desses se desfiliou do partido. Quem perdeu bancada foi o PP, que perdeu um deputado estadual. E quem perdeu bancada federal foi o PT, que foi o deputado Jorge Boeira. [E a saída do Eskudlark, mesmo sendo suplente…] O deputado Maurício Eskudlark estava em exercício do mandato em razão do chamamento de alguns titulares pra ser secretário de Estado. É uma pessoa guerreira, trabalhadora. Nós lhe pedimos muito pra que não saísse do PSDB, que continuasse nesse processo de solidificação do PSDB em Santa Catarina. Não tenho a menor dúvida disso. Mas infelizmente ele optou por sair do PSDB. Mas o PSDB está se recompondo nas áreas onde ele atuava. E a foz do rio Itajaí era uma dessas áreas onde ele atuava muito. Nós estamos nos recompondo. E também no Extremo-Oeste de Santa Catarina nós estamos nos recompondo, ocupando o espaço com outros peessedebistas.

DIARINHO - O senhor está no PSDB desde 1995. Já pensou em deixar o partido?

Marcos – Nunca! Muito pelo contrário. Se eu levei seis anos pra me decidir pela filiação do PSDB... Se eu for pensar em sair do partido, com certeza, o tempo vai ser tão longo que eu vou morrer antes.

DIARINHO - O senhor achava que venceria a disputa pelo comando do PSDB de Santa Catarina este ano? Como ficou a relação com Pavan depois que o senhor se candidatou ao posto dele, que parecia indiscutível?

Marcos – Eu sei separar as coisas. Sou amigo pessoal do ex-governador Leonel Pavan. Podemos nos sentar em qualquer lugar pra conversar sobre qualquer assunto. E aí a afinidade é 100% boa – ou num jantar, ou num almoço, ou num entretenimento, enfim... Ou tratar problemas do estado, ou dos municípios. Agora, isso é público e notório: o que eu não concordo é a forma como ele administra o partido. Aí é que tá a minha discordância. Por isso que me lancei candidato. E se eu concordasse com a forma como ele administra o partido, eu teria aberto mão da disputa em favor dele.

DIARINHO - Como foi a discussão que tirou o Leonel Pavan do sério a ponto de ele quebrar os dedos esmurrando a mesa?

Marcos – Foi um ato que... [e um sorrisinho tímido]. Aquele tal negócio, a gente usa a expressão “mau jeito”. Bateu de mau jeito na mesa. O ex-governador Leonel Pavan tem um jeito próprio, o de sempre falar alto, de gesticular. É um jeito dele e eu respeito, porque eu tenho o meu jeito também. E eu faço a defesa dos meus pontos de vista, foi isso. O Pavan, infelizmente, não concordou com meu ponto de vista, se exaltou um pouco e, de mau jeito, bateu na mesa e aí teve aquele pequeno probleminha no dedo da mão. [O senhor lembra qual era o motivo da discussão?] Lembro, lembro. E não tenho segredo disso. Eu estava pedindo a ele que distribuísse os critérios de formação do diretório aos presentes e aos demais deputados que não estiveram presentes, para que pudéssemos discutir numa reunião seguinte. Por tratar-se de um ato importante, relevante para os destinos do PSDB. E não houve a concordância dele. [Num outro momento o senhor criticou a propaganda do partido...] Esse foi um outro episódio que, aliás, depois se concretizou a minha reclamação. A eleição é uma eleição municipal. Nós temos muitas administrações exitosas em Santa Catarina, do PSDB. Se é uma eleição municipal e se a propaganda eleitoral é gratuita e permitida neste ano, por que não colocarmos na televisão as administrações exitosas do PSDB? Por quê? Porque o ex-governador Leonel Pavan reiteradas vezes disse que não será candidato a prefeito no ano que vem. Então, se não será candidato a prefeito no ano que vem, nada melhor do que nós botarmos quem vai pra reeleição ou quem vai ser candidato. Num primeiro momento ele apareceu sozinho com o senador Paulo Bauer na televisão. Depois apareceram alguns tucanos que gravaram para a população ver o que estão fazendo. No primeiro momento eu reclamei, depois acatou-se a minha reclamação, vamos dizer assim.

DIARINHO - Quais seus planos políticos? Ser presidente do PSDB de Santa Catarina ainda é uma pretensão?

Marcos – O meu projeto prioritário, o pra agora, é o de exercer o mandato na sua plenitude. Meu segundo mandato. Eu tenho percorrido Santa Catarina, graças a Deus eu já conheço 280 municípios de Santa Catarina. Só este ano nós já visitamos, pelo menos uma única vez, 160 municípios, alguns 10, 15, 20 vezes. Por exemplo, Dionísio Cerqueira, no Extremo-Noroeste do estado de Santa Catarina, já fomos 10 vezes. Nós estamos percorrendo o estado, conhecendo os problemas, conversando com lideranças empresariais, lideranças sindicais, prefeitos, vice-prefeitos, vereadores... O intuito é conhecer a realidade de Santa Catarina. Infelizmente, e eu vou repetir, infelizmente, nós temos uma pirâmide muito perversa no Brasil. A pirâmide perversa a que me refiro é a que na base dela nós temos a maioria dos municípios brasileiros sem nenhum recurso, ou quase nada. No meio desta pirâmide nós temos os poderes executivos estaduais com algum recurso. Recursos estes que são disponibilizados para si próprios, os estados, e ainda podem ser disponibilizados pra alguns municípios. Mas no topo desta pirâmide nós temos o governo federal, que fica com mais de 63% de tudo que se arrecada no país. E aí eu pergunto pra você, será que a presidente Dilma Rousseff (PT) – e aí eu digo qualquer presidente, não é só ela – sabe onde é que fica a cidade de Flor do Sertão? Vocês não sabem! [Afirma aos jornalistas, que concordam. Pesquisando depois do Entrevistão, descobrimos que é uma cidadezinha do Oeste catarinense, com pouco mais de 1,5 mil habitantes] Se vocês que são catarinenses não sabem, ela mesmo que não vai saber. Se ela não sabe onde fica Flor do Sertão, será que ela sabe se na rua central daquela cidade tem algum buraco? Menos ainda! Será que naquela cidade a escola tá precisando da construção de uma sala de aula? Muito menos ainda! E isso é importante. Voltando na questão partidária, o PSDB está firme. Isso porque os outros quatro partidos maiores tiveram um decréscimo de votação nas últimas eleições. E o PSDB é o único partido desses grandes que aumentou em votação e em quantidade de eleitos em todas as votações que disputou em Santa Catarina. Dois dados importantes: o primeiro prefeito nós elegemos em 1992, na cidade de Saudades; em 1996 nós elegemos oito prefeitos; em 2000 elegemos 19; em 2004, 27 prefeitos; e em 2008 nós elegemos 36 prefeitos. O primeiro deputado estadual eleito pelo PSDB foi em 2004 e hoje nós temos seis deputados estaduais. Então, o PSDB é o único partido que vem crescendo em Santa Catarina. Todos os outros já abaixaram a votação. É fácil constatar: só pegar a votação desses partidos em 1998 e ver agora, em 2010, que daí vão ver que há um decréscimo. [Aproveitando que o senhor falou da importância do governo conhecer os problemas das cidades menores. O senhor acha que as secretarias de Desenvolvimento Regional (SDRs) continuam funcionando como, ao menos aparentemente, funcionavam durante o governo Luiz Henrique da Silveira (PMDB)? Porque a impressão que deu é que não estavam dando a mínima pras SDRs, até pela questão da demora em anunciar a composição das equipes. Hoje está sendo dada a mesma atenção pras SDRs que antes? Elas estão sendo efetivas?] O cobertor ficou um pouquinho mais curto. O governador Luiz Henrique da Silveira, quando ele entrou no governo, o cobertor dele era muito curto. Então, os secretários de Estado foram sugerindo como captar recurso pra dentro do governo. E isso foi feito. E o cobertor nos anos seguintes ficou menos curto. Com a relação às secretarias de Desenvolvimento Regional, o fluxo de recursos pras secretarias era realmente maior. O governador Raimundo Colombo entrou no governo. Pegou também um cobertor curto. Porque aqueles programas de captação de recursos que o Luiz Henrique tinha, ele fez e investiu o dinheiro no estado, ok... O governador Raimundo Colombo também botou os seus secretários a pensarem em como captar recursos. O cobertor agora começa a ficar menos curto. E daí eu vou dar um exemplo de como isso começa a acontecer. Constitucionalmente, o Estado tem que aplicar 12% de tudo que arrecada na Saúde. É constitucional. Qual foi uma das ideias: a secretaria da Fazenda construir um projeto de lei, o chamado “Revigorar 3”, que é o que dá condição daqueles inadimplentes fazerem um acordo pra pagarem com juros reduzidos e parcelados. Esse dinheiro inicialmente ia pro caixa único do Estado. Os deputados que dão sustentação pro governador Raimundo Colombo sugeriram que esses recursos fossem aplicados exclusivamente em programas de Saúde de Santa Catarina. Ou seja, o cobertor que era muito curto na área da Saúde, deixa de ficar e passa a ser mais comprido. Começa a tampar os pés. Entraram R$ 202 milhões pra Saúde Pública, extra os 12%. Nesses primeiros meses do governo tinha só os 12% constitucionais. Daqui pra frente até o final do ano que vem, além dos 12% nós vamos ter os 202 milhões de reais. Este foi um programa que foi implementado. Agora tem uma revisão do “Revigorar 3”, que por uma iniciativa nossa vão ser destinados recursos pra infraestrutura – recuperação de rodovias – e para o desenvolvimento social, que deve ser votado por estes dias na Assembleia Legislativa. [o entrevista aconteceu na última quarta-feira à tarde, no gabinete do deputado, na assembleia]. Então, são iniciativas como esta que fazem com que o governo passe a ter mais recursos, além daqueles orçamentariamente já definidos por lei. E só pra concluir: evidentemente que o fluxo de recursos para as SDRs será bem maior a partir da implementação destes projetos, não tenho a menor dúvida. Tudo é feito pelas SDRs.

DIARINHO - O senhor se licenciou da Assembleia este ano pra percorrer o estado. Qual a conclusão, o partido está fortalecido o suficiente pra lançar candidato ao governo em 2014?

Marcos – O clima é muito positivo. A unidade partidária, graças a Deus, está preservada. Há um clamor interno da base do partido pra que possamos ter um candidato a governador do estado. Mas o mais importante, que é o que se está fazendo dentro do partido, é ganhar o primeiro tempo das eleições de 2014, que é o ser vitorioso nas eleições de 2012. Ninguém consegue se eleger governador do estado sem que antes forme uma base de sustentação, e formar uma base de sustentação pra 2014 é eleger o maior número de vereadores, de prefeitos e vice-prefeitos em Santa Catarina. E pra isso nós estamos preparados, com certeza absoluta.

DIARINHO - Eleger o senador Paulo Bauer foi o grande desafio do PSDB de Santa Catarina no ano passado? Teriam conseguido sem as inserções do Luiz Henrique pedindo o segundo voto?

Marcos – Não foi um grande desafio. O PSDB simplesmente manteve a vaga. O PSDB já tinha a vaga com a eleição do Leonel Pavan em 2002. Nós já tínhamos a experiência de trabalhar pra uma candidatura do senado. Nós reeditamos essa experiência e junto com o apoio dos partidos coligados, nós conseguimos fazer com que o PSDB mantivesse a vaga de senador da República. Porque foi da mesma forma que o Luiz Henrique se elegeu com o apoio do PSDB e o governador Raimundo Colombo se elegeu com o apoio do PSDB e de outros partidos. Ou seja, o arco de alianças formado fez com que nos sagrássemos vitoriosos em Santa Catarina, não tenho dúvida nenhuma. Mas é bom ter um senador da República, isso sim!

DIARINHO - Ainda está fora do ar o ranking do deputadômetro, no site da federação das associações empresariais de Santa Catarina (Facisc). A página foi criticada por muitos deputados. O que o senhor achou? É possível avaliar o trabalho de um parlamentar através de estatísticas?

Marcos – Eu tenho feito alguns comentários no sentido de que a imprensa deve escolher cinco parlamentares, um de cada bancada, e botar uma equipe de jornalistas a acompanhar um deputado estadual nos sete dias da semana, inclusive sábado e domingo, e ver o quanto se trabalha. O trabalho não é única e exclusivamente exercer a função dentro de um gabinete na Assembleia ou no plenário, tem as comissões, as audiências públicas, mas tem, sobretudo, a presença do parlamentar nos municípios. E aí eu volto ao que dizia no início: a gente vai constatando a necessidade de dotar cada vez mais os municípios de estrutura necessária para resolver os problemas. Eu me tornei municipalista por convicção, por conhecer hoje a realidade, as dificuldades que passam esses prefeitos. Então, no que me diz respeito, graças a Deus eu trabalho bastante. Tenho uma boa assessoria, um bom gabinete formado, são bons projetos que a gente elabora aqui e boas reuniões que a gente faz nos municípios. E um desses projetos que nós elaboramos e que foi aprovado nos rendeu um prêmio nacional, que foi o de mérito legislador 2008, concedido pelo senado federal da República – que foi o projeto da realização do exame oftalmológico em todas as crianças matriculadas nas primeiras e quintas séries do ensino fundamental do estado.

DIARINHO- Ano passado o senhor foi pra tribuna dizer que o programa de Aceleração do Crescimento (PAC) era uma grande maquiagem. Ainda acha que o programa federal é um faz de contas?

Marcos – Vocês da imprensa têm cansado de afirmar isso. Na tribuna eu estou reproduzindo aquilo que a imprensa fala. Que o “Minha Casa, Minha Vida” não atingiu o objetivo; que a BR-101, trecho sul, vai se arrastar por longos anos; vocês falam que a modernização do aeroporto de Navegantes não aconteceu; vocês falam que a BR-470 está empacada há muito tempo no que diz respeito à duplicação; vocês da imprensa mostram que a BR-280 precisa ser duplicada. Então não sou eu quem está afirmando isso, são vocês. Eu, quando ocupo a tribuna, simplesmente reproduzo os fatos publicados pela imprensa catarinense, e que são verdadeiros. São verdadeiros. Vocês estão absolutamente corretos, porque vocês mostram com fotografias. Vocês registram o fato. O que está faltando, talvez, pra nós todos catarinenses – sociedade civil organizada, a imprensa e os poderes públicos constituídos – é mais união, mais integração, pra exigir de Brasília a liberação de recursos que nós temos que ter. Só olhar aqui o contorno viário da Grande Florianópolis, é uma grande mentira! Olha o aeroporto internacional de Florianópolis, o aeroporto de Chapecó... Não suporta mais. É um aeroporto mantido pela prefeitura, tem que ser federalizado. Olha a Furb de Blumenau, que precisa ser federalizada. O PAC é realmente uma grande enganação. Aliás, daquilo que efetivamente é concluído no PAC, nada é com recurso público, mas sim com recurso privado.

DIARINHO – O PT garante que esqueceu o que aconteceu no processo eleitoral do ano passado, quando Raimundo Colombo trabalhou pro José Serra (PSDB) e não pra Dilma. O governo de Santa Catarina diz que está tudo bem, que são bem atendidos em Brasília. Mas, na sua visão, Santa Catarina ainda é prejudicada pelo reflexo da disputa eleitoral?

Marcos – Na maioria das vezes é discriminação mesmo. É só você pegar a grande imprensa nacional e ver quais os estados administrados pelo PT e quais pela oposição e a quantidade de recursos alocados. É visível isso. Há discriminação. Mas existem algumas questões macros, que estão pendentes e que precisam ser resolvidas. A tabela do SUS, por exemplo. Adianta o governo do estado botar os 202 milhões de recursos extras na Saúde Pública se o profissional que lá está não tá recebendo devidamente, se o hospital não recebe devidamente? Ora, um leito de UTI ocupado tem um custo diário de cerca de 850 reais. O SUS só repassa R$ 430. Quem é que banca este déficit? Aí o hospital diz que não pode mais atender, a Justiça vai lá e obriga o hospital a atender. Mas a Justiça não obriga, não determina quem tem que pagar essa diferença. E aí o que acontece? Chega no final do ano os hospitais estão devendo horrores de dinheiro. Outra coisa, cadê as famosas campanhas contra a Aids que foram veiculadas no Brasil, que começou com o José Serra, cadê? Cadê o efetivo controle da inflação, que foi implementado com o plano real? Os jornais estamparam ontem o crescimento zero do PIB [Produto Interno Bruto] no Brasil. Zero, zerinho. A inflação vai ser a mais alta dos últimos 10 anos no país. Vocês não pegaram essa época [fala pros jornalistas], mas eu peguei. Quando eu recebia o meu salário no último dia do mês tinha que correr pro supermercado, gastar o dinheiro todo em comida pra deixar armazenada, porque se eu deixasse pra ir no dia seguinte era 5% mais cara, chegava a ser 80 até 100% ao mês. E aí eu pergunto: quanto é que custa um cafezinho hoje? No shopping custa cinco reais, um cafezinho pequenininho. Isto não é inflação? Me prove o contrário.

O sistema prisional de Santa Catarina, infelizmente, está falido e precisa de vultosos recursos pra serem investidos

Isso é público e notório: o que eu não concordo é a forma como ele [Leonel Pavan] administra o partido

Se eu for pensar em sair do partido, com certeza o tempo vai ser tão longo que eu vou morrer antes

RAIO-X

Nome: Marcos Luiz Vieira

Naturalidade: Florianópolis/SC

Idade: 58 anos

Estado civil: casado

Filhos: duas filhas

Formação: advogado

Trajetória profissional: foi servidor concursado do instituto de Previdência do estado (Ipesc). Dirigiu empresas públicas e privadas. Entre 1997 e 1998 foi chefe de gabinete da presidência da Assembleia Legislativa. Em janeiro de 2003 assumiu a secretaria estadual da Administração. Foi secretário geral do PSDB por dois mandatos; em 2010 foi presidente do diretório municipal do partido em Florianópolis. Cumpre o segundo mandato de deputado estadual, sendo, no primeiro mandato, presidente da comissão de Finanças e Tributação, vice-presidente da comissão de Constituição de Justiça (CCJ) e membro da de Turismo e Meio Ambiente. Atualmente, ocupa a presidência da comissão de Segurança Pública da Assembleia.




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