O jornalista e blogueiro Amilton Alexandre, o Mosquito, 52 anos, saiu de cena como sempre tocou sua vida: de forma polêmica. Ontem à tarde ele foi encontrado enforcado em sua casa, um sobradinho de esquina na avenida dos Maracanãs, no bairro Pedras Brancas, em Palhoça. Tudo indica ser um suicídio, mas somente o laudo cadavérico vai apontar o que aconteceu, disse ontem à noite ao DIARINHO o agente Gabriel Edwart Palma, da depê de Palhoça, ainda na casa do blogueiro. Mosquito era famoso por denunciar a corrupção política e colecionava um rol de processos por não ter papas na língua.
Foi o padre Elisandro Scarsi, que é de Itajaí e atua na grande Floripa, quem encontrou Mosquito. Quando abri a porta, vi aquela cena. Fiquei paralisado. Parecia um filme de terror, contou ele, ...
Foi o padre Elisandro Scarsi, que é de Itajaí e atua na grande Floripa, quem encontrou Mosquito. Quando abri a porta, vi aquela cena. Fiquei paralisado. Parecia um filme de terror, contou ele, numa conversa pelo MSN, com o professor de filosofia Nahor Lopes de Souza Júnior, 26, amigo íntimo do blogueiro. Ele [o padre] me ligou no finalzinho da tarde e disse: Eu tenho uma notícia triste. O teu amigo se matou, contou Nahor.
Um lençol foi usado como corda para o enforcamento, informou o agente Gabriel. Mosquito estava pendurado na escada que dá acesso ao segundo piso da casa e ao lado do corpo havia uma cadeira caída. A cena indica um suicídio. Mas a equipe do delegado Attílio Guaspari Filho, que comanda a investigação do caso, prefere a prudência. Vamos esperar o resultado da perícia e o laudo cadavérico, fez questão de repetir o agente Gabriel.
Quando o padre Elisandro chegou na casa, no meio da tarde de ontem, encontrou a porta destrancada. Pelas condições do corpo, Mosquito teria morrido entre domingo e segunda-feira.
O mais comentado do Twitter
César Grubba, secretário de Segurança do governo do estado, determinou que uma equipe do setor de inteligência da polícia Civil acompanhasse o caso de perto, informou o colunista político Moacir Pereira, ontem à noite, em seu blog.
O que também mostra a importância do bloqueiro foi a presença de seu nome no Twitter. Às 19h de ontem, a morte de Mosquito apareceu na nona posição entre os 10 assuntos mais comentados pelo microblog no Brasil. Não demorou muito pra que atingisse o topo. Ficou por lá, como o assunto mais twittado, entre 19h22 e pouco antes das 20h30.
Blogueiro tava deprê e tinha dado dicas do suicídio
O professor Nahor, de Itajaí, era um dos amigos mais íntimos de Mosquito. Foi ele quem, na sexta-feira da semana passada, pediu para o padre Elisandro visitar Mosquito. Ele me ligou na sexta-feira dizendo que tava com depressão e queria se matar, contou o professor. Mosquito teria dito até que já tinha preparado uma corda. Por isso pedi pro padre Elisandro ir conversar com ele, completou. O padre chegou a visitar o blogueiro na sexta-feira.
Nahor acredita que Mosquito tenha tirado a própria vida. Há uns 15 dias fui a Florianópolis, saí com ele e ele tava mal. Se não fosse por isso, eu podia até acreditar em outra coisa, comentou, referindo-se à um possível assassinato.
A última postagem de Mosquito em seu blog [www.tijoladas.info] foi às 17h06 de sexta. Foi uma despedida. Tanta dedicação ao blog levou-me a um isolamento familiar, com oposição a minha atividade, problemas de saúde e outras dificuldades. Nas últimas semanas acusei o nocaute. Não tenho mais como enfrentar as ameaças e retaliações pelo que publico, escreveu.
Mosquito foi um dos organizadores da Novembrada
Mosquito não era casado, morava sozinho e tinha uma filha. Vivia da parca renda dos anúncios do seu blog e de um ou outro serviço free lancer na área do jornalismo. Apesar de formado em administração, tinha registro de jornalista, afirma o amigo Nahor.
Sua vida sempre foi polêmica. Ele foi um dos organizadores da manifestação contra o presidente militar João Figueiredo, que rolou em 1979 e ficou conhecida como Novembrada. Acabou preso e enquadrado na lei de segurança nacional. Uma prévia que teve na juventude do que iria enfrentar pro resto da vida: processos e mais processos.
Polêmico, vivia denunciando políticos famosos, como o atual prefeito de Floripa, Dário Berger (PMDB), a quem literalmente chamou de corrupto. Os ladrões do dinheiro público não têm medo do Judiciário, nem do Ministério Público, muito menos do Tribunal de (faz de) Contas. Mas vários deles tremeram com a lama que o Mosquito jogou no ventilador, comentou ontem em sua página na internet o jornalista e colunista do DIARINHO César Valente (www.deolhonacapital.com.br).