Na manhã de ontem rolou a rematrícula das crianças. Sabendo da diminuição de vagas, pais ficaram na fila desde as 23h do dia anterior. Às 7h, a casa que abriga o projeto, na rua Monte Serra Negra, distrito do Monte Alegre, tava uma muvuca só. No ano passado nós atendíamos 161 crianças estourando, porque verba só vinha pra 75, afirma o líder comunitário Lula Barbosa, também voluntário no Latarte.
Defensor do projeto, ele diz que a filha dele só conseguiu passar no vestibular da Udesc pra arquitetura com a ajuda que teve do grupo.
Quem também tava revoltado com a falta de vagas pras crianças é o pedreiro Celso Henrique, de 34 anos. Ele ficou desde as 5h30 pra garantir o lugar de seus dois filhos e diz que considera uma bênção ter a ajuda do pessoal do Latarte. Faz bem pros meus filhos. Eles têm aprendizado, disposição. Eu me preocupo com essas crianças que perderam a vaga, conta, decepcionado.
Para Celso, a criminalidade em Camboriú reduziria muito se as otoridades apoiassem mais o projeto. É melhor prevenir do que depois um filho começar a usar droga, se prostituir, matar, ir preso, acredita.
Isabel Berg de Oliveira, 39, foi uma das últimas mães a conseguir vaga. Ela conta que seu filho frequentou um ano o Latarte. E ele vai continuar, graças a Deus. Eu tô preocupada com as outras famílias, diz, tristonha.
Dinheiro não é suficiente
A casa que abriga o projeto é cedida por uma empresa de Balneário Camboriú, que também paga outras despesas do projeto. Mas pra se manter ativo, o projeto ainda tem um repasse do governo municipal. O dindim vem do fundo da Infância e da Adolescência (Fia) do município. O solicitado este ano pela coordenação foi R$ 185 mil, mas o conselho Municipal da Criança e do Adolescente (CMDCA) só autorizou R$ 92 mil.
Prefeita diz que tá fazendo o que pode
A coordenadora do Latarte, Rose Maria Figueiredo, diz que a instituição precisa de mais dinheiro pra poder abrir vagas pra criançada que tá na fila de espera. Ela comunicou ao município que se a grana fosse abaixo do que eles precisavam, o número de crianças atendidas também seria menor. A fundadora do projeto justifica que tomou a atitude depois de levar um puxão de orelha do MP, pois eles souberam que a instituição tava com dívidas devido ao excesso do número de crianças atendidas.
Prefa não pode fazer nada
A prefeita Luzia Coppi disse não ter dúvidas de que o projeto é fantástico. Oferece o segundo turno da criança. Mas eu fico triste quando dizem que não tem apoio do governo. Este ano foi quando [os projetos sociais] mais ganharam recursos do município, desabafa.
A prefeita explica que antes de 2009 o projeto nunca contou com a ajuda da prefeitura. No primeiro ano de gestão de Luzia, o Latarte recebeu em torno de R$ 47 mil. No ano seguinte a verba repassada foi de 79.412 reales; em 2011, foram R$ 84 mil e pro ano que vem a prefa vai doar cerca de 92 mil reais. Não tem razão nenhuma de diminuir [o número de vagas]. O que eles não podem é jogar essa atribuição ao município, manda a prefeita loirosa. É um problema de administração do projeto. É uma entidade. Eles têm que buscar os recursos de outros lugares. Nosso orçamento é pequeno. É muito dinheiro pra um projeto. Nós não podemos manter o projeto sozinho, lamenta.
Educar com arte
O projeto Latarte existe há cinco anos com o objetivo de desenvolver a prática socioeducativa através da arte. Ele atende crianças de seis a 17 anos em situação de risco e oferece o contraturno, ou seja, depois de ir pra escola, a criança também tem um apoio escolar no outro período, dentro do projeto.
Além disso, os menores contam com um bocado de aulas, como hip hop, violão e percussão. Mas para Rose, a chefona do Latarte, o mais importante é o apoio escolar. O importante é terminar de estudar. É isso que vai garantir o futuro deles, opina.