Turistas já desistiram da estada e foram procurar outro lugar pra passar a virada de ano. Dona Maria Lausimar Cardoso Lindner, 52 anos, mobilizou vários vizinhos e abriu o berreiro pro DIARINHO na tentativa de pressionar a prefa pra resolver o perrengue, que se agravou na última semana.
Casa na praia, mas com as janelas trancadas. É dessa forma que dona Maria tem curtido o verão. Segundo a muié, mesmo com o calor, a baia não pôde ficar aberta por conta do mau cheiro, que tomou proporções gigantescas na última quinta-feira, 22.
Dona Maria contou à reportagem que chegou a fazer um buraco em frente da casa pra tentar escorrer a água imunda, mas a catinga impregnou no chão de barro. A solução foi abandonar a baiuca. Eu já saí de casa, pois não tem condições de ficar nesse estado. A gente chega a passar mal. Isso é um porquindade, detonou.
O DIARINHO deu um pulo até o local na tarde de ontem e o fedor tava realmente insuportável. Alguns moradores ainda atestaram que depois da chuva do finde, a situação amenizou.
Eu falei com a diretora da vigilância Sanitária [Célia da Silva] e ela me disse que tá recebendo de 10 a 15 reclamações todos os dias, mas não pode fazer nada porque não tem tubulação pra arrumar, conta Maria.
Na secretaria de Obras, a leitora foi informada que somente a partir do dia 9 de janeiro é que a peãozada poderá fazer alguma coisa.
Teve gente que vazou
A turista do Mato Grosso, Sônia Fogliatto, 52, caminhava pela rua Rubens Ricobom, onde está hospedada, tapando o nariz.
A veranista revela que alguns colegas já foram embora por conta do fedor que toma conta do bairro.
O professor de educação física e morador de São Miguel há 20 anos, Edgar Conceição, diz que tem vontade de vomitar toda vez que abre a janela. Ele garante que o cheiro podre é comum durante todo o ano, mas se agrava no verão. Nos dias 22 e 23 de dezembro essa empresa [Dois Irmãos] recebeu dois caminhões de 15 toneladas de camarão cada um, vindos do Rio Grande. Imagina só, não tem suporte pra tudo isso, denuncia, espantado.
O morador ainda revela que as poças da água podre invadem as ruelas, desembocando na praia. Eu te digo uma coisa, se continuar desse jeito, vai dar rolo. Vocês se preparem, ameaça Edgar.
A reportagem do DIARINHO tentou conversar com os responsáveis pela empresa de pescados Dois Irmãos, mas cansou de apertar o interfone da sede industrial, cercada por altos muros. Ninguém atendeu. Na casa da família dos donos, uma senhora atendeu a equipe, aos berros, e disse que ninguém comentaria o caso. Dizem que são de poucos amigos.
Mau cheiro vai continuar
Segundo o abobrão da secretaria de Obras da Terra do Marisco, Evaldo Eredes dos Navegantes, a situação no local é crítica. O secretário garantiu que ainda ontem uma equipe de plantão das Obras iria até o local pra identificar que tipo de medida seria adotada. Se tiver que trocar toda a tubulação, não vai dar pra fazer esta semana, revela o abobrão. Contudo, o secretário já antecipa que o perrengue do mau cheiro não será resolvido com a desobstrução do esgoto. A prefeitura vai fazer a parte dela, desobstruir a tubulação, mas a empresa precisa parar de jogar a água de camarão direto na rua, explica o secretário.
Até o fim da tarde de ontem, nenhum peão deu as caras na rua Rubens Ricobom pra resolver o perrengue.
Tem licença da Fatma
Célia da Silva, diretora da vigilância Sanitária de Penha, rebate as afirmações feitas pela dona Maria. Segundo a abobrona, o setor não recebeu muitas denúncias, mas uma média diária de três telefonemas, o que pra ela é um número baixo. Célia limitou-se a dizer que a empresa de pescados Dois Irmãos tá regular, pois possui licença da fundação do Meio Ambiente (Fatma) e pode continuar trabalhando normalmente. Segundo ela, o problema é da tubulação, por isso a água de camarão estaria transbordando e tomando conta da rua. Ela garante que já encaminhou tudo para a secretaria de Obras.