Um só processo com 12 mil páginas e 99 bandidos denunciados por associação para o tráfico e formação de quadrilha armada. Esses são alguns dos números do julgamento histórico que começa hoje e rola até o dia 18 no prédio novo do complexo Penitenciário do Vale do Itajaí, que fica na Canhanduba, zona rural de Itajaí. O alvo das ações da Justiça, que fará pelaqui as chamadas audiências de instrução e julgamento, são os criminosos do primeiro Grupo Catarinense (PGC). Temendo qualquer represália da facção que provocou três ondas de ataques violentos na Santa & Bela, entre o final de 2012 e meados deste ano, a polícia Militar montou um esquema de guerra: trouxe pra cidade fardados do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), do grupamento aéreo (do Batalhão de Aviação da Polícia Militar), da Cavalaria, do grupamento de Choque e da companhia de Policiamento com Cães. O departamento Estadual de Administração Prisional também reforçou a segurança do complexo. Ao todo, entre os homidalei e criminosos, são cerca de 300 pessoas que durante 10 dias estarão envolvidos na muvuca.
São números grandes e que reforçam a importância de uma ação jamais realizada antes na Santa & Bela. Dos bandidaços do PGC denunciados pelos atentados, 75 tão presos, seis foragidos, um morreu ...
São números grandes e que reforçam a importância de uma ação jamais realizada antes na Santa & Bela. Dos bandidaços do PGC denunciados pelos atentados, 75 tão presos, seis foragidos, um morreu e 17 tão respondendo a bronca em liberdade. Dos presos, 53 vão pessoalmente ter um trelelê com representantes da dona justa e do Ministério Público, informou o promotor Flávio Duarte de Souza, que atua na Vara Criminal do fórum de Blumenau. Outros 22 - que são os líderes do bando e que tão trancafiados na penitenciária Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte - também vão ser ouvidos, mas participarão da audiência por sistema de videoconferência.
O comando da polícia Militar tem um número diferente do divulgado pelo Ministério Público. Seriam 57 presos que irão participar da audiência na Canhanduba e não 53.
Todos os membros do PGC tão denunciados por associação ao tráfico de drogas e formação de quadrilha no processo que corre pelo fórum de Blumenau. Isso sem falar das acusações de incêndios, danos e tiros contra postos policiais ocorridos durante os três atentados fomentados pela facção. As investigações correm em processos distintos nas cidades onde rolaram os crimes.
O processo em que os bandidos começam a ser ouvidos hoje corre em segredo de justiça. Por isso, o acesso à sala de audiência é limitado aos réus, integrantes do MP, advogados dos criminosos e servidores da Justiça, além dos policiais e agentes que fazem a segurança.
O complexo Penitenciário da Canhanduba foi escolhido porque as otoridades temiam uma reação do PGC.
Armamento pesado e atirador de elite
Pras audiências rolarem sem surpresas, os órgãos de segurança ligados ao governo do estado montaram um verdadeiro esquema de guerra. Por isso, circular hoje pelo bairro Canhanduba, onde está instalado o complexo penitenciário, não vai ser nada fácil pra quem não é morador. Pelo menos é isso que diz o coronel Atair Derner Filho, comandante da 3ª região e que trampou na organização de todo o esquema de segurança.
O coronel revelou que parte dos policiais mobilizados vão tá distribuídos pelo bairro. Além das barreiras e controles de entrada e de saída da comunidade, PMs à paisana ainda vão se misturar aos moradores. Os militares também estarão em massa na parte de dentro do presídio. Alguns estarão portando armamento pesado, como fuzis, escopetas e granadas.
O helicóptero da PM também vai sobrevoar a área. Entre a tripulação do avião de rosca estará um atirador de elite.
Não há indícios de que PGC irá atacar
Embora antecipe que acontecerão barreiras nos acessos próximos ao complexo, o coronel Atair Derner promete que vai fazer o máximo pra não atrapalhar a vida dos moradores. O estrelado também revelou que, até agora, não há indícios de que o PGC queira fazer um enfrentamento com a polícia. Desde que recebemos a confirmação de que o julgamento vinha pra Canhanduba, os serviços de inteligência tanto da polícia Militar quanto da Civil já começaram a trabalhar nas cidades da região colhendo informações sobre uma possível mobilização do PGC. Não existe informação nenhuma de que eles possam tentar qualquer ataque, declarou o chefão da PM desta parte do litoral catarina.
Quem tem parente preso na Canhanduba pode ficar tranquilo. Pelo que informou o coronel Derner, o presídio e a penitenciária continuarão trampando normalmente. O que recebemos do Deap, que é quem manda lá dentro, é a informação de que a rotina vai seguir a mesma, independentemente do julgamento. Visitas já agendadas serão mantidas, e o cotidiano dos presos não vai sofrer nenhuma alteração, afirmou.
Audiências vão começar de manhã e rolarão até começo da noite
O promotor Flávio Duarte de Souza, de Blumenau, que ao lado do promotor José Renato Côrte, de Timbó, vai atuar na audiência, informou que os trampos começam hoje ao meio-dia e vão ser tocados até às 19h. Nos outros dias, iniciam às 9h da matina e seguem até às 19h. Paradas pro almoço estão previstas, mas o promotor comentou que é difícil precisar o horário, já que alguns conversês com a bandidagem podem levar um pouco mais de tempo. Tudo vai depender das audiências do dia, ponderou. Ao todo, 57 advogados farão a defesa dos bandidos.
O dotô Flávio não revelou se os promotores e a juíza Jussara Wandscheer, da 3ª vara Criminal de Blumenau e que vai presidir os interrogatórios, bem como os servidores da justiça, vão dormir em Itajaí ou retornarão todo santo dia pra Blumenau ou Timbó. Mas fez questão de dizer que a juíza e os promotores vão estar com escolta. Não tem como eu falar de nenhum esquema de segurança e nem se vamos ou não ficar no local. Certo é que, pela importância do julgamento, todos estamos com segurança. Além disso, a tropa de choque permanecerá todas as noites dentro da prisão, avisou.
Oficialmente, as autoridades não informaram se todos os presos que serão ouvidos durante as audiências estão no presídio. Ontem, foram levados pra Canhanduba os últimos presos. Os bandidões ficarão em celas de seis camas cada, como se fossem internos. Cerca de 70 homens do batalhão do Choque da PM vão ser babás dos criminosos lá dentro.
A decisão da juíza Jussara Wandscheer será dada depois, em gabinete, e não há data prevista pro canetaço. O processo segue para alegações finais e depois, a partir de nova manifestação do Ministério Público, o juiz dará a sentença, explicou o promotor Flávio.