Pelo menos uma vez por dia, ambulâncias e carros de polícia usam o ferri-bote pra circular entre Navega e a city peixeira. Se estão em emergência, com o giroflex acionado, os veículos têm prioridade. Assim que embarcam, as balsas zarpam imediatamente. A empresa de Navegação Santa Catarina, dona das balsas, afirma que nem sempre existe uma vítima pra ser atendida, como rolou domingo à tarde. Uma ambulância dos vermelhinhos voluntários de Navega chegou apavorando, com sirene ligada. O motorista alegou que tinha gente doente na cabine. Lucas Itamar da Silveira, 25 anos, comandante da embarcação 16, garante: Não tinha ninguém.
Por volta das 16h30, a ambulância embicou na plataforma de Navega com destino a Itajaí. O motora, recorda Lucas, foi logo avisando que havia um doente a bordo e precisavam sair o quanto antes. Naquele ...
Por volta das 16h30, a ambulância embicou na plataforma de Navega com destino a Itajaí. O motora, recorda Lucas, foi logo avisando que havia um doente a bordo e precisavam sair o quanto antes. Naquele momento, 25 carangos aguardavam na fila. A orientação dos funcionários do ferri é que em situações de emergência a ambulância atravesse sozinha ou com os carros que estão na balsa, e que isso seja feito em menos de dois minutos. A travessia normalmente leva três.
Aí, no meio do caminho, o mestre pediu um favor a um dos marinheiros. Pedi pra ver se a vítima tava bem e ao chegar na ambulância ele viu que não tinha vítima nenhuma, conta. Foi aí que o bicho pegou. Lucas foi conversar com o chefe do socorro, que teria xingado o cara e na frente de todo mundo. Ele gritava vocês são tudo uns cachaceiros, vivem bebendo o dia inteiro. Falaram que nós estávamos errados, sendo negligentes e mandou a gente ficar quieto, desabafa. Fazemos de tudo pra que eles salvem vidas. Largamos com toda rapidez (12 milhas por hora pra atravessar os 300 metros que dá de uma rampa a outra), colocando em risco a nossa e a vida de outras pessoas pra que eles possam fazer seu trabalho e ainda me difamaram na frente de todo mundo, desabafa, indignado.
Não tem lei, mas tem bom senso
O trampo da Navegação Santa Catarina é fiscalizado pela capitania dos Portos de Itajaí. De acordo com o comandante e capitão de Fragata, José Savio Feres Rodrigues, a questão de preferência de ambulâncias e veículos oficiais não tá prevista na lei 9.537, sobre a segurança do tráfego aquaviário. A nossa parte é priorizar a segurança da navegação, salvaguardar a vida humana e fiscalizar a poluição causa nas plataformas, explica.
O diretor da empresa, Diogo Hasse Weidle, diz que o ferri tem suas normas internas e age de acordo com o diálogo entre os bombeiros, ou outra autoridade. Geralmente, quando o caso é grave, a ambulância atravessa sozinha. Às vezes, a gente comunica os navios pra que diminuam a velocidade até a balsa passar. Mas não podemos trabalhar com mentiras, diz.
Vai apurar
Ricardo Luiz da Silva, comandante do corpo de Bombeiros Voluntários de Navega, diz que os vermelhinhos tavam indo buscar uma senhorinha que fazia exames em Itajaí. Mesmo assim, ele prometeu apurar se houve abuso de autoridade dos bagrinhos voluntários. Houve um equívoco entre eles (motora da ambulância e mestre da balsa), mas se teve xingamento não chegou ao meu conhecimento, jura.
O comandante diz que vai conversar com o bombeiro hoje pra saber o que rolou. Se realmente estiver errado, será punido e vai ganhar um gancho, suspenção de três ou quatro dias. Eles não podem passar com sirene ligada sem vítima pra ser socorrida, confessa.